Assim, logo na passada…
Ninguém me encomendou nada, nem me passaram qualquer procuração. Mas mexe comigo. E aí estou eu, de imediato, a fazer aquilo que ainda sei fazer melhor, que é refilar, porque ladrar também será demais.
É que acho um piadão a estes experts da política e da geoestratégia internacionais, que assim, duma penada, em quatro meias colunas e meia dúzia de asserções fazem o enquadramento e traçam os destinos do que se está agora a passar pelo mundo.
De varapau e mão certeira, duma cajadada, põem fora de combate a Al-Qaeda e o Bin Laden, dão por assunto encerrado o abandono, senão mesmo a venda dos amigos de ainda agora há bocadinho a troco de uns míseros barris de petróleo e uns poucos de metros cúbicos de gás natural, e ainda afirmam, de forma categórica, que sabem perfeitamente o que os jovens e outros menos jovens revolucionários do mundo dito muçulmano querem, coisa de que eles, os revoltosos, se calhar, ainda andam e andarão à procura.
Depois, como parece que não podia deixar de ser, é uma no cravo e outra na ferradura. Sim, porque o que eles querem de verdade, dizem, é a liberdade, o direito de falar, de criticar e de optar, e não propriamente uma democracia como a nossa; eles hão-de inventar uma diferente; o Estado até que bem pode ser confessional, tudo bem, mas no qual as pessoas possam viver em liberdade, ponto final. Socialismo, seja de que espécie for, é que não. Não, não: o que eles pensam que querem é mesmo o capitalismo, e aqui como nos computadores, nos telemóveis e nos televisores, só do da última geração, ou moda, como quiserem, que anda por aí, esse mesmo, o tal que dizem que é neoliberal.
Porque socialismo, soviético, chinês, norte-coreano, cubano ou mesmo das modalidades mais soft do Hugo Chavez ou do Kadaffi, todos eles já deram o que tinham a dar, e não foi lá grande coisa.
Parece que, isto na opinião do editorial do jornal “Público” de 6 de Março, essa coisa do socialismo e do comunismo já não fazem hoje sentido algum. Só aqui, em Portugal, ora vejam, inexplicavelmente ou não – poderá ser da “congénita” ignorância ou estupidez do nosso povo e de meia dúzia de cabeças pensantes que alguém rodou e virou completa e irremediavelmente ao contrário –, ainda para aí resistem uns poucos de milhares de criaturas, cada vez em menor número – ufa! –, que vão mantendo vivo aquele sonho, utopia ou religião, tudo isto contra todas as «evidências da História», esquecendo-se o articulista, ou não sabendo mesmo, que as evidências em História são um material muito perigoso, com que todo o cuidado é pouco.
Quanto aos jovens comunistas que eles, em jeito de reportagem, abordaram “com a melhor das intenções” por ocasião da passagem do 90º aniversário do PCP, só podem ser é maluquinhos, por ainda acreditarem num partido que «logo nas primeiras linhas do seu programa» apresenta «como objectivos supremos a construção do socialismo e do comunismo», o que, continua o editorialista, «no mundo real só produziu inomináveis tragédias», esquecendo-se, também aqui, que a Igreja Católica, bem mais velha e, por conseguinte, mais sábia, tem a sua história manchada de coisas bem horrorosas, e nem por isso nos damos ao desplante de chamar mentecaptos ou maluquinhos aos milhões dos seus seguidores por todo esse mundo.
Com todo este fraseado, mal escrito e pior pensado, é perfeitamente legítimo, se isto interessar a alguém, que se me pergunte, a gora a mim, então o que é que eu penso sobre o que na margem sul do Mediterrâneo se está a passar. E eu responderei, de pronto, que sinceramente não sei. Poderia até tentar explicar; porque explicar é fácil. O difícil é a gente perceber.
Vêem-se ali traços de motivações tão, tão semelhantes aos que andam por aí no meio de nós, sim, em Portugal e no resto do mundo, que facilmente poderíamos ser levados a sacar da chave que tudo parece abrir, essa coisa a que puseram o nome de globalização, nesta caso, da má, porque há também uma globalização dos que já inventaram, a este propósito, uma nova teoria: a de uma globalização boa e uma globalização má; e eu, para me poupar, vou pensando que há uma única globalização que socialista ou comunista está-se bem a ver que não é, mas retintamente (embora a palavra não seja para aqui a mais adequada), neo-capitalista e neo-imperialista, falando, inclusive, à escala mundial, e não será por acaso, uma mesma e única língua, que esperanto não é.
E nesses traços de larvares motivações podem também vislumbrar-se alguns laivos do Maio de 68, em França, pois muitos dos que nos aparecem em frente das mobilizações de todos os descontentamentos, e são tantos, são licenciados ou estudantes universitários que no final dos cursos só encontram um muro pintado de branco, empregos a condizer é que não.
Bem, as coisas, mais ou menos, estão neste pé, que nós em boa verdade ainda estamos longe de saber qual é. Mas algo de novo e, se calhar, absolutamente necessário, parece vir aí. Pois então que venha!...
Os partidos, os partidos do sistema que, no fundo, todos são, que se cuidem, porque começam a aparecer e a vingar por aí outras agremiações, essas, sim, novas formas de organizar e mobilizar, seja através dos facebooks ou dos twiters, ou então, e também, cá mais por casa, coisas como a Ana dos “Deolinda” a cantar “Parva que sou…” e com os mais recentes e ainda quentinhos “Homens da Luta”, a teimarem que “A vida é alegria”; os quais, para espanto e escândalo de todos os papalvos do politicamente correcto ganharam aqui o Festival da Canção para a Eurovisão e, vamos ver, se calhar, não se vão ficar por aqui.
Quem por aqui se fica sou eu, e para que não continuem a carimbar-me de pessimista como noutros tempos me carimbaram doutra coisa, aqui deixo um pensamento que ouvi atribuído ao presidente Simon Perez de Israel, que reza mais ou menos assim:
«Se sabido é que tanto os optimistas como os pessimista todos acabam por morrer, então porque não viver a vida com optimismo?»
Gertrudes da Silva, escritor
Ninguém me encomendou nada, nem me passaram qualquer procuração. Mas mexe comigo. E aí estou eu, de imediato, a fazer aquilo que ainda sei fazer melhor, que é refilar, porque ladrar também será demais.
É que acho um piadão a estes experts da política e da geoestratégia internacionais, que assim, duma penada, em quatro meias colunas e meia dúzia de asserções fazem o enquadramento e traçam os destinos do que se está agora a passar pelo mundo.
De varapau e mão certeira, duma cajadada, põem fora de combate a Al-Qaeda e o Bin Laden, dão por assunto encerrado o abandono, senão mesmo a venda dos amigos de ainda agora há bocadinho a troco de uns míseros barris de petróleo e uns poucos de metros cúbicos de gás natural, e ainda afirmam, de forma categórica, que sabem perfeitamente o que os jovens e outros menos jovens revolucionários do mundo dito muçulmano querem, coisa de que eles, os revoltosos, se calhar, ainda andam e andarão à procura.
Depois, como parece que não podia deixar de ser, é uma no cravo e outra na ferradura. Sim, porque o que eles querem de verdade, dizem, é a liberdade, o direito de falar, de criticar e de optar, e não propriamente uma democracia como a nossa; eles hão-de inventar uma diferente; o Estado até que bem pode ser confessional, tudo bem, mas no qual as pessoas possam viver em liberdade, ponto final. Socialismo, seja de que espécie for, é que não. Não, não: o que eles pensam que querem é mesmo o capitalismo, e aqui como nos computadores, nos telemóveis e nos televisores, só do da última geração, ou moda, como quiserem, que anda por aí, esse mesmo, o tal que dizem que é neoliberal.
Porque socialismo, soviético, chinês, norte-coreano, cubano ou mesmo das modalidades mais soft do Hugo Chavez ou do Kadaffi, todos eles já deram o que tinham a dar, e não foi lá grande coisa.
Parece que, isto na opinião do editorial do jornal “Público” de 6 de Março, essa coisa do socialismo e do comunismo já não fazem hoje sentido algum. Só aqui, em Portugal, ora vejam, inexplicavelmente ou não – poderá ser da “congénita” ignorância ou estupidez do nosso povo e de meia dúzia de cabeças pensantes que alguém rodou e virou completa e irremediavelmente ao contrário –, ainda para aí resistem uns poucos de milhares de criaturas, cada vez em menor número – ufa! –, que vão mantendo vivo aquele sonho, utopia ou religião, tudo isto contra todas as «evidências da História», esquecendo-se o articulista, ou não sabendo mesmo, que as evidências em História são um material muito perigoso, com que todo o cuidado é pouco.
Quanto aos jovens comunistas que eles, em jeito de reportagem, abordaram “com a melhor das intenções” por ocasião da passagem do 90º aniversário do PCP, só podem ser é maluquinhos, por ainda acreditarem num partido que «logo nas primeiras linhas do seu programa» apresenta «como objectivos supremos a construção do socialismo e do comunismo», o que, continua o editorialista, «no mundo real só produziu inomináveis tragédias», esquecendo-se, também aqui, que a Igreja Católica, bem mais velha e, por conseguinte, mais sábia, tem a sua história manchada de coisas bem horrorosas, e nem por isso nos damos ao desplante de chamar mentecaptos ou maluquinhos aos milhões dos seus seguidores por todo esse mundo.
Com todo este fraseado, mal escrito e pior pensado, é perfeitamente legítimo, se isto interessar a alguém, que se me pergunte, a gora a mim, então o que é que eu penso sobre o que na margem sul do Mediterrâneo se está a passar. E eu responderei, de pronto, que sinceramente não sei. Poderia até tentar explicar; porque explicar é fácil. O difícil é a gente perceber.
Vêem-se ali traços de motivações tão, tão semelhantes aos que andam por aí no meio de nós, sim, em Portugal e no resto do mundo, que facilmente poderíamos ser levados a sacar da chave que tudo parece abrir, essa coisa a que puseram o nome de globalização, nesta caso, da má, porque há também uma globalização dos que já inventaram, a este propósito, uma nova teoria: a de uma globalização boa e uma globalização má; e eu, para me poupar, vou pensando que há uma única globalização que socialista ou comunista está-se bem a ver que não é, mas retintamente (embora a palavra não seja para aqui a mais adequada), neo-capitalista e neo-imperialista, falando, inclusive, à escala mundial, e não será por acaso, uma mesma e única língua, que esperanto não é.
E nesses traços de larvares motivações podem também vislumbrar-se alguns laivos do Maio de 68, em França, pois muitos dos que nos aparecem em frente das mobilizações de todos os descontentamentos, e são tantos, são licenciados ou estudantes universitários que no final dos cursos só encontram um muro pintado de branco, empregos a condizer é que não.
Bem, as coisas, mais ou menos, estão neste pé, que nós em boa verdade ainda estamos longe de saber qual é. Mas algo de novo e, se calhar, absolutamente necessário, parece vir aí. Pois então que venha!...
Os partidos, os partidos do sistema que, no fundo, todos são, que se cuidem, porque começam a aparecer e a vingar por aí outras agremiações, essas, sim, novas formas de organizar e mobilizar, seja através dos facebooks ou dos twiters, ou então, e também, cá mais por casa, coisas como a Ana dos “Deolinda” a cantar “Parva que sou…” e com os mais recentes e ainda quentinhos “Homens da Luta”, a teimarem que “A vida é alegria”; os quais, para espanto e escândalo de todos os papalvos do politicamente correcto ganharam aqui o Festival da Canção para a Eurovisão e, vamos ver, se calhar, não se vão ficar por aqui.
Quem por aqui se fica sou eu, e para que não continuem a carimbar-me de pessimista como noutros tempos me carimbaram doutra coisa, aqui deixo um pensamento que ouvi atribuído ao presidente Simon Perez de Israel, que reza mais ou menos assim:
«Se sabido é que tanto os optimistas como os pessimista todos acabam por morrer, então porque não viver a vida com optimismo?»
Gertrudes da Silva, escritor
Viseu, 07MAR2011
Nota do editor: É da responsabilidade do editor do Alpendre da Lua o acrescento da designação do ofício a que Gertrudes da Silva actualmente se dedica com brilhantismo, e que ele, por modéstia, omite nos textos que tem enviado para publicação.
1 comentário:
Isto é o que eu chamo escrever com alma!...
Enviar um comentário