No momento em que a intervenção do Presidente da República seria mais necessária, ele não apareceu. Remeteu-se, num estudado calculismo, ao silêncio, permitindo que a situação se degradasse, ao ponto de, possivelmente, ter de convocar eleições antecipadas. A pressa de ver instalado em S. Bento um governo à sua imagem e semelhança desvaneceu-lhe o sentido de isenção e e obnubilou-lhe o desejo de controlar politicamente o país.
No meu ponto de vista, como já aqui assinalei, uma novas eleições para a Assembleia da República são neste momento prejudiciais para o país, já que vão agravar os problemas da governação existentes. Por outro lado, a campanha eleitoral vai caracterizar-se pela tentativa de cada um dos dois principais partidos, endossar ao outro a culpa pelo desencadeamento da crise, o que vai permitir ao PSD escamotear dos eleitores as medidas concretas do seu programa de governo, que, certamente, serão mais duras do que aquelas que o PS pretendia impor através do PEC 4 . Sabemos qual o projecto da direita em relação à Educação, ao Serviço Nacional de Saúde e à Segurança Social, que reduz tudo, como solução redentora, ao imperativo da sua imediata privatização, num enviesamento perigoso do sentido eminentemente público daqueles serviços.
No entanto, Cavaco Silva, ainda vai ter mais uma oportunidade de mostrar ao país a sua isenção partidária e a sua intenção de defender o interesse nacional, quando for confrontado com a demissão deste governo. Ele tem o dever de fazer todos os esforços para evitar novas eleições, pressionando o Partido Socialista, como partido maioritário, a encontrar uma solução alternativa a José Sócrates, para chefiar um novo governo, que tente terminar a actual legislatura. Seria uma solução que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, por certo, não enjeitariam.
Só se o Partido Socialista não estiver à altura das suas responsabilidades históricas, é que deverá ser accionado o mecanismo da dissolução da Assembleia da República e a convocação de novas eleições.
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