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terça-feira, 28 de maio de 2013

Notas do meu rodapé: Será a modernidade uma tragédia?


Num debate em que participei no Facebook, a propósito de uma discussão sobre os efeitos nefastos da nova sociedade de informação/comunicação e das novas tecnologias que a suporta, escrevi este comentário, que achei por bem partilhar com os leitores do Alpendre da Lua:

Estou cada vez mais ligado ao mundo, às pessoas, as que conheço e as que não conheço. No entanto, se morrer, ninguém irá dar conta! Anulamos-nos nas multidões invisíveis, que se escondem para lá dos ecrãs das televisões, dos telemóveis, dos computadores e das redes sociais. A solidariedade das sociedades só funciona por choques emocionais e não existe na sua forma racionalizada e organizada. Vivemos, há mais de vinte anos, no meio do turbilhão de uma revolução, que não é só tecnológica, mas a Humanidade acabará por a absorver positivamente, tal como aconteceu com a outra grande revolução que a antecedeu - a Revolução Industrial. Para compreender alguma coisa, o que será sempre insuficiente, temos de olhar para os ciclos longos da História da Humanidade, que abarcam várias gerações, e que registam o axioma invariável, porque permanente, da lei da mudança, com mais ou menos velocidade e intensidade. E neste nosso tempo, porque atingimos a Idade Global, em que se vive o instantâneo e em que a memória se satura, a mudança é muito intensa e veloz, e mais difícil de compreender, o que explica a dificuldade da respetiva adaptação. Mas existe um perigo. Um perigo que não vem da televisão, dos telemóveis, da Internet e das redes sociais. E esse perigo é a Guerra Global, que poderá levar a Humanidade à estaca zero. A atual crise económica e financeira, cuja gravidade não está a ser percecionada em plenitude (é uma crise que ainda não tem solução à vista) poderá desencadear a maior tragédia do planeta.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Notas do meu rodapé: Os jovens portugueses são egoístas?

Legenda da página do Facebook de uma leitora do Alpendre da Lua.
Optei por esta elucidativa ilustração para melhor poder exprimir a minha perplexidade perante uma recente notícia, vinda nos jornais, e que dava conta das conclusões de um estudo do Instituto de Ciências Sociais (ICS). A conclusão principal não poderia ser mais desanimadora. São os jovens, aqueles que mais evidenciaram uma maior indiferença em relação ao fenómeno da pobreza. Embora não tivesse ficado surpreendido, confesso que fiquei alarmado. Não fiquei surpreendido, pois reconheço os malefícios de uma sociedade que estimula o facilitismo em vez do rigor e que valoriza o oportunismo e o nepotismo em vez do mérito e da transparência. Fiquei alarmado, pois temo a ameaça permanente que este sentimento de indiferença pela pobreza pode induzir.   
A vertente cívica do modelo de educação das escolas, o desleixo das famílias e a filosofia social e política agregada ao paradigma do neoliberalismo não podiam conduzir a outro resultado. Como o estudo revela, os jovens portugueses são individualistas e egoístas. E se Portugal já enfrenta um grave problema de coesão económica, vai também de ter de enfrentar o problema da coesão social, que esta geração de jovens parece querer desvalorizar, o que será dramático. Ainda tento acreditar que os investigadores do ICS se tivessem enganado.
Nota: O leitor já compreendeu que a ilustração escolhida encerra um sério aviso para todos os destintários.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O desfile carnavalesco da barbárie?!

Jovem agredida com violência em Benfica (vídeo)
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Espancamento a fuzileiro na Escola de Fuzileiros gravado em video !!!
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Que tipo de país é este? Que tipo de sub-cultura está a contaminar os jovens portugueses? Perante o assombro e a indignação, os portugueses interrogam-se sobre o novo fenómeno da violência gratuita entre os jovens e a sua mediatização. Alguma coisa está errada na sociedade. Teoricamente, muitas serão as causas deste anormal comportamento. É urgente identificá-las.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A foder, somos os maiores, carago...

Portuguesas muito satisfeitas com a sua vida sexual
Uma esmagadora maioria das portuguesas – 88 por cento para ser mais concreto – está satisfeita com a sua vida sexual. Segundo um estudo ontem divulgado pelo jornal “El Mundo”, as portuguesas são também as campeãs, entre cinco países europeus, na frequência do sexo: 81 por cento faz pelo menos um vez por semana.
Um estudo da consultora internacional Strategy One, em colaboração com a Pfizer – a farmacêutica que lançou o Viagra e que desenvolve diversos estudos na área da sexualidade – põe as portuguesas no topo da satisfação sexual. Atrás segue a Espanha, depois a Áustria, seguida da Alemanha e no final a Suécia.
PÚBLICO (**)
***
Ena!... Até que enfim! Desta vez não ficámos no fundo da tabela, prestes a baixar de divisão! Somos os maiores a foder, uma vez que elas, as portuguesas, andam satisfeitas. É pena que as fodas não entrem no cálculo do PIB, nem possam transformar-se em títulos do Tesouro, embora o primeiro ministro, José Sócrates, já ande a pensar em transformar os fodilhões portugueses em mercadoria exportável, para enviar para a Alemanha e para Suécia, países que acusam um défice acentuado deste produto, de elevado valor comercial. Das suecas já sabemos: homem que seja de português para baixo, chamam-lhe um figo. Agora, em relação à Alemanha, é que não se percebe lá muito bem. A não ser que os homens alemães tenham perdido o apetite sexual por estarem sempre a esbarrar na televisão, com a cara da chanceler Angela Merkel, que, diga-se de passagem, é uma grande seca. Nem o Zézé Camarinha lhe pega.
É certo que, para este surpreendente resultado, já existem várias opiniões. Uns, os da oposição (sempre os mesmos), dizem que os portugueses, de tanto serem fodidos pelo governo, acabaram também por aprender a foder. Os da situação, dizem que esta boa performance se deve à política cultural do governo, que tem subsidiado várias iniciativas, como foi aquela, realizada em Abril do ano passado, no Teatro S. Luís, onde foi levada à cena a peça de teatro de Mark Ravenhill, intitulada, FODER E IR ÀS COMPRAS (ver hiperligação), que foi um êxito, embora nos primeiros tempos os resultados tenham sido catastróficos, pois, enquanto os homens queriam foder, as mulheres optavam por ir às compras, o que não dava a bota com a perdigota.
(**) [29 DEZ 2013 - A hiperligação para este site do jornal PÚBLICO, de Fevereiro de 2011, encontra-se desativada]
http://publico.pt/Sociedade/portuguesas-muito-satisfeitas-com-a-sua-vida-sexual_1479635

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Praxe solidária na Escola Superor Agrária de Bragança


Vídeo

Aqui está uma forma inteligente e eficaz de integração dos alunos numa instituição académica, e que se apresenta com uma dimensão social de inegável valor. Ao mesmo tempo, esta louvável iniciativa dos estudantes transmontanos encerra, na sua mensagem, um provocador desafio à indigência daqueles que se revêem na brutalidade mais primitiva das praxes universitárias correntes, onde já nem sequer se respeita a dignidade humana. Ultrapassa o meu entendimento a insanidade que percorre anualmente as universidades portuguesas, no início de cada ano lectivo (e com a benevolente complacência das autoridades académicas), quando se assiste à ocorrência de espectáculos degradantes, dignos de figurarem em qualquer tratado sobre a estupidez humana. Não me parece saudável que as futuras elites intelectuais e profissionais deste impenitente país aprendam a amestrar pessoas, obrigando-as a mergulhar a cabeça na bosta dos bois ou a simularem em público gloriosos orgasmos. Eu, se mandasse, enjaulava esses meninos e meninas no Jardim Zoológico, ao lado dos macacos, o único sítio compatível com a sua irracionalidade animalesca, e promovia à categoria de tratadores de animais (com a respectiva remuneração da tabela salarial deste sector profissional) aqueles professores universitários, que parecem conviver bem com esta degradação, sem terem nenhum sobressalto, nem nenhum remorso, sobre os sinais de decadência, que estas práticas burlescas e desajustadas do contexto civilizacional representam. Parabéns aos alunos da Escola Superior Agrária de Bragança.

Praxe solidária na Escola Superior Agrária de Bragança

Aqui está uma forma inteligente e eficaz de integração dos alunos numa instituição académica, e que se apresenta com uma dimensão social de inegável valor. Ao mesmo tempo, esta louvável iniciativa dos estudantes transmontanos encerra, na sua mensagem, um provocador desafio à indigência daqueles que se revêem na brutalidade mais primitiva das praxes universitárias correntes, onde já nem sequer se respeita a dignidade humana. Ultrapassa o meu entendimento a insanidade que percorre anualmente as universidades portuguesas, no início de cada ano lectivo (e com a benevolente complacência das autoridades académicas), quando se assiste à ocorrência de espectáculos degradantes, dignos de figurarem em qualquer tratado sobre a estupidez humana. Não me parece saudável que as futuras elites intelectuais e profissionais deste impenitente país aprendam a amestrar pessoas, obrigando-as a mergulhar a cabeça na bosta dos bois ou a simularem em público gloriosos orgasmos. Eu, se mandasse, enjaulava esses meninos e meninas no Jardim Zoológico, ao lado dos macacos, o único sítio compatível com a sua irracionalidade animalesca, e promovia à categoria de tratadores de animais (com a respectiva remuneração da tabela salarial deste sector profissional) aqueles professores universitários, que parecem conviver bem com esta degradação, sem terem nenhum sobressalto, nem nenhum remorso, sobre os sinais de decadência, que estas práticas burlescas e desajustadas do contexto civilizacional representam. Parabéns aos alunos da Escola Superior Agrária de Bragança.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma pedrada no charco num país que está a afundar-se...


A saúde mental dos portugueses

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres
humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três
anos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição
da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra

PÚBLICO, 21-06-2010

Sugestão do João Fráguas