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sábado, 31 de outubro de 2020

 


Livro de Assentos
 
Não sei o que dizer!…
Não sei!…
Só sei que o Tempo corre depressa
e escorre veloz pelos meus dedos,
já doridos de tanto contarem as folhas
do Livro de Assentos, onde eu anoto
os tempos das esperas e das tuas ausências…

E a tua ausência dói…
E tu sabes isso…
E eu não sei se, com a minha dor, tu sentes prazer…
 
                                                                  Alexandre de Castro  
 
Lisboa, Outubro de 2020                      

terça-feira, 27 de outubro de 2020


OS TURISTAS

Louros, grandes, rosados, de pele branca
bebem o sol às rodelas
em esplanadas de relva
ou nas línguas de areia que o mar descobre ...
 
Flutuam, descontraídos e desprendidos,
nas vísceras da miséria que os cerca
e lá no íntimo, muito dentro de si,
enquanto bebem o seu whisky ou o seu gin,
pensam secretamente:
Que bom não ter nascido aqui!...
 
                                                        Alexandre de Castro
 
Faro (Esplanada do Coreto), Março de 1985
 
Registado: IGAC/MC- 5467/2004

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Avô João de Castro - Poeta e Dramaturgo




A minha querida mana, Maria Helena, junto ao busto do nosso avô paterno, João de Castro, poeta e dramaturgo, a quem a Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães homenageou, em reconhecimento da sua obra literária e do seu empenho na organização de importantes eventos culturais.

João de Castro

"Horas Vagas" é o título da sua multifacetada obra poética, muito influenciada, na sua estrutura e na sua temática, pela escola romântica.

A nível teatral, destaca-se a brilhante adaptação do romance, "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, que terá sido, no meu entender e no entender de alguns críticos literários, a sua obra prima, e que foi considerada a melhor adaptação teatral daquele romance camiliano. 

Também para o teatro, adaptou o romance "As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis. 

"Alma da Pátria" foi a sua inédita obra teatral, e que se concentra na Revolução de 1640. 
Todas estas peças teatrais foram representadas em Linhares de Ansiães, sob a sua direcção, como encenador.

Curioso em conhecer a sua árvore genealógica, lançou-se no árduo trabalho de vasculhar arquivos municipais, livros dos baptismos, nas sacristias das igrejas paroquiais, e recolher informações sobre nascimentos, casamentos e óbitos  nas conservatórias do registo civil, tendo assim conseguido seguir o ascendente ramo familiar paterno até ao pai do sacerdote, Padre Manuel da Nóbrega (século XVI), sacerdote, este, que se notabilizou no Brasil, então colónia portuguesa, através da sua acção evangelizadora dos povos indígenas.

Segundo informação do meu pai, o meu avô teria emprestado os apontamentos do seu trabalho de investigação a um seu conterrâneo, de apelido Rosinha, que nunca mais  lhos devolveu. 

Alexandre de Castro
Lisboa, Outubro de 2020

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Poema de Fernando Pessoa

É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
 
Fernando Pessoa
 

domingo, 18 de outubro de 2020

 



Não digas nada meu amor...                                         
(Parafraseando Fernando Pessoa)
 
                                                     A uma “Poeta”
                                                     Que se lembrou de mim…
 
 
Não digas nada, meu amor,
Não digas nada que eu não saiba.
Porque a dor é sempre maior do que a ferida
E eu já não tenho tempo para nada…
 
Vivo no crepúsculo dos dias, dos meses e dos anos
E as noites são cada vez mais frias…
Falta-me o teu calor para aquecer as mãos
Falta-me a tua voz e o teu canto
Para aquecer os dias…
 
Não digas nada, meu amor
Não digas nada daquele dia
Em que te encontrei à porta do poema
E tu disseste que já me conhecias…
 
Não digas nada meu amor
Não digas nada da tua poesia
Que eu bebia numa taça de prata
Para me embriagar na volúpia dos meus sonhos
Até à chegada das festivas madrugadas.
……………………………………………….
Não digas nada meu amor…
 
                                                              Alexandre de Castro
 
Lisboa, Maio de 2020
 
 


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A dança dos astros

 


 A dança dos astros

 

foi quando os átomos
ensaiaram a dança onírica das valências
que a matéria perseguiu o rasto da luz
que inspirou a “poeta”   
as lágrimas de uma nuvem
criaram os mares e as águas
e o hálito quente da sua boca ardente
desenhou na Terra a primeira metáfora
com que inventou a Vida…
depois, muito depois, gozando as delícias da eternidade
e as da infinitude da palavra,
esperou pelo Homem para inventar o amor
… e os átomos continuaram a dançar…

                                              Alexandre de Castro

 Lisboa, Fevereiro de 2013