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domingo, 29 de abril de 2018

Por este andar, ainda virá o dia em que tem de se pagar para trabalhar...


2018 04 29

Simplesmente Mulher...




Simplesmente Mulher...

No Dia Internacional
da Mulher

Até Deus, logo que te viu,
no breve enlevo do paraíso,
te amaldiçoou com o pecado original...
E o Homem, através dos tempos,
impondo o poder que esse Deus lhe deu
nunca te perdoou o encantamento
da bíblica árvore em que se perdeu...

Em nome de Deus, Jeová e Alá,
Moisés, Cristo e Maomé,
cristãos, muçulmanos e judeus,
erguendo aos céus os sagrados livros,
impuseram o silêncio do teu corpo,
riscaram a tua existência, a tua voz...
E a tua vida, separada da tua pujança,
foi apenas uma sombra esquecida...
Benzeram-te com a peçonha
da vergonha
de teres nascido mulher...

E os homens ungiram a tua vagina
para aquecerem a sua volúpia
e dilatarem o teu vigoroso útero,
que pariu a humanidade inteira,
e esquecendo-se, sem remorsos,
da tua dimensão verdadeira...

Eras apenas mãe, esposa ou irmã,
na simples serventia de parideira, vivendo
ao ritmo das mamadas dos teus filhos...
E quando o vento mudava de feição
eras serpente, bruxa e feiticeira,
desgraçada e perdida rameira...
Mulher sem condição...

E tu eras simplesmente Mulher
(e não um objecto qualquer,
escondido na burka, no hábito ou no véu)...
Nem mesmo eras aquela outra Maria
que as asas de um arcanjo cobriu
E que, mesmo chamada virgem, pariu...

Alexandre de Castro

Lisboa, Março de 2005

Registado: IGAC/MC- 5467/2004

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Ary dos Santos - As Portas Que Abril Abriu





As Portas Que Abril Abriu

Não posso deixar de emocionar-me até às lágrimas e com um grande nó a atar-me a garganta, ao ouvir a vigorosa voz de Ary dos Santos, a declamar, com força e emoção, o seu grandioso poema, "As Portas Que Abril Abriu", que é o grande poema da Revolução de Abril e, revolução essa, que o povo, com toda a sua criatividade, logo baptizou como a Revolução dos Cravos, tal foi a profusão de cravos que alastrou pelas ruas de Lisboa, como se tratasse de um fenómeno de geração espontânea, e que começaram a engalanar os canos das espingardas e as coberturas dos tanques.

Fica-nos na memória todo o romantismo que esta revolução inspirou à minha geração, que a viveu em profundidade, com muito amor e com muita convicção, alimentando aquela esperança de que, com o derrube do caduco regime fascista, iríamos construir um país novo.

E essa esperança ainda não morreu, nem pode morrer.

[Por motivos de força maior, não poderei estar presente no desfile da avenida, que, por sinal, se chama da Liberdade. Cantem por mim a "Grândola, Vila Morena".

Alexandre de Castro
2018 04 25

25 de Abril _ Não deixemos morrer os cravos!.


Não deixemos morrer os cravos!...

Alexandre de Castro
2018 04 25


sábado, 21 de abril de 2018

O fim da ETA: verdade ou encenação?

Fotografia típica das famosas conferências de imprensa clandestinas da ETA

O fim da ETA: verdade ou encenação?

A ETA emitiu um comunicado onde pede desculpa a algumas vítimas das suas ações que duraram cinco décadas e fizeram mais de 850 mortos. Dissolução do movimento terrorista está prevista para 5 de maio.

Começo a desconfiar da autenticidade desta notícia, que é a segunda vez que aparece na imprensa espanhola. Não sei se não será uma encenação do governo de Madrid, destinada a esbater, de uma forma subliminar, o forte impacto das tendências autonomistas, principalmente a da Catalunha, que cada vez se agiganta mais.

O teor do texto e o seu tom lamechas, a repisar constantemente o arrependimento, a dor causada às famílias das vítimas, as mortes causadas pelos muitos atentados, soa-me a falso, pois há ali a necessidade de dramatizar, até ao limite, o que, por natureza, foi dramático.
.
Por outro lado, os operacionais da ETA, que, por razões de segurança, deveriam ser, à época, em pequeno número, ou já morreram, ou, se não morreram, já têm uma proveta idade, que já não se compadece com este lirismo textual, que até sugere, de uma forma artificiosa e suspeita, que não vale a pena lutar pela independência do País Basco e que é preferível optar por uma solução democrática, pensamento este que não se coaduna muito com o perfil da forte personalidade de quem escolheu, em tempos, a via da luta armada clandestina, em condições muito difíceis, para alcançar o desiderato da independência do País Basco. Trata-se de pessoas que actuaram sob a pressão de convicções muito fortes e inabaláveis, e que, na minha perspectiva, não estou a ver que a elas possam renunciar, desta forma folclórica.

E também me parece folclórica esta forma estranha a desajustada de promover uma conferência de imprensa, em tudo idêntica às dos velhos tempos, e a realizar no próximo dia 5 de Maio, no País Basco francês, e destinada a anunciar solenemente o fim da ETA. É estranho, porque se se tratasse de verdadeiros militantes, bastava-lhes, para apaziguar a sua consciência e o seu sentimento de culpa, a emissão dos comunicados, que já foram divulgados, em que se anunciava o definitivo desmantelamento daquela organização, que pôs de cabeça à roda à polícia secreta do ditador Franco.

Os velhos militantes operacionais recusariam, certamente, tanta teatralização, para anunciar a sua morte política. E será uma teatralização, se, na realidade, como eu suspeito, tudo isto não for uma manobra bem engendrada do governo de Madrid, destinada, pelo efeito de simpatia, a desmoralizar e a denegrir o movimento independentista da Catalunha.

O que os velhos operacionais da ETA querem, neste momento, é que o tempo passe, sem que sejam descobertos e identificados pela polícia espanhola, o que poderia vir a acontecer no território do País Basco francês, pois eles não poderiam vir para a rua, mascarados, tal como iriam apresentar-se, certamente, na dita conferência de imprensa. Seria um grande risco.

Penso, pois, que isto é uma farsa. A ver vamos.

Alexandra de Castro
2018 04 21

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Neurocirurgia do Hospital de S. João: Onze anos a funcionar em contentores.


Contentores do Serviço de Neurocirurgia d0 H. S João


Neurocirurgia do Hospital de S. João: Onze anos a funcionar em contentores

É obra! Esta situação, vivida no Serviço de Neurocirurgia do Hospital de S. João, no Porto, e que é verdadeiramente chocante. É um bom exemplo da capacidade de resposta governativa que os partidos do Bloco Central, coligação esta que, agora, parece estar numa outra gestação, são capazes de dar aos problemas concretos do país real.

Deixemos-nos de ilusões: PS e PSD são farinha do mesmo saco. A diferença apenas está na moagem.

É de estarrecer, quando nos defrontamos com este pedaço de prosa, desta reportagem do PÚBLICO.

"A enfermeira veio chefiar o serviço há dois anos e viu parte do hospital onde trabalhava há 30 anos com novos olhos. "Quando me mostraram as casas de banho, a primeira lembrança que tive foi de um campo de concentração". O dia-a-dia trouxe-lhe outras dificuldades: "No Inverno os familiares têm que trazer cobertores. O frio é imenso e ainda há sítios onde chove, nomeadamente numa enfermaria. Há buracos, frequentes pragas de formigas. As sanitas entopem quase diariamente" e Isabel Dias não pode conter a ironia quando olha para o chão colorido dos corredores, símbolo das reparações mais ou menos antigas do piso. Da última vez que este cedeu, uma enfermeira ficou com o pé preso. "Os profissionais estão exaustos", afirma".

Mas o Costa virou mais uma página. Uma página amarelecida pelo tempo, o tempo de onze anos, e, página essa, que foi "virada a ferros".

Entretanto as crianças com cancro, deste hospital, continuam no corredores, a fazer os tratamentos de quimioterapia. E o Marcelo ainda não apareceu por lá, para os habituais beijinhos e abracinhos. Claro, o homem não pode ir a todas.
Alexandre de Castro
2018 04 19

domingo, 15 de abril de 2018

EUA: Um Presidente, que não faça uma guerra, não é um bom presidente...


Checkpoint Asia

Desde meados da década de sessenta, do século passado, todos os presidentes dos EUA tinham de engrandecer o seu currículo, desencadeando uma guerra. Trump já tem a sua, mas que não passou de uma vitória de Pirro.
Alexandre de Castro
2018 04 15

Milagres, há muitos… Oh, palerma…


Primeira página do Correio da Manhã

Milagres, há muitos… Oh, palerma…

Por enquanto, apenas são sinais anunciadores, dos milagres que hão-de vir, e que serão enviados pela chancelaria divina, mas, como de costume, sem a indicação dos respectivos prazos de validade.
Eu sempre disse que Fátima é a fábrica da cera e dos milagres, dois produtos de elevado valor acrescentado, mas que estão isentos do pagamento do IVA., o que, só por si, já é um autêntico milagre da santa, assim como é, também,   milagre o facto das esmolas dos peregrinos não pagarem aquele imposto. Isto, num país onde a caça aos impostos, ao nível da classe média, é particularmente tenaz e incisiva, não deixando espaço para o cidadão respirar.
Alexandre de Castro
2018 04 15

Rússia: “Tais acções vão ter consequências”




Rússia: “Tais acções vão ter consequências”

Numa primeira reacção, o embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, publicou um comunicado no Facebook, afirmando que os EUA e os seus aliados sabem "que tais acções terão consequências". E acrescentou: “Insultar o Presidente da Rússia é inaceitável e inadmissível”, além de que os EUA “não têm moral para criticar os outros países”, uma vez que tem um grande arsenal de armas químicas, argumentou.

Os alvos dos bombardeamentos dos EUA já tinham sido evacuados há vários dias, disse à Reuters uma fonte de uma aliança regional que apoia o regime de Assad. “Tivemos um aviso dos russos sobre o ataque e todas as bases militares foram evacuadas há alguns dias”, disse a mesma fonte. “Cerca de 30 mísseis foram disparados no ataque e um terço deles foi interceptado”.
PÚBLICO

***«»***

No ponto de vista militar, a operação desencadeada pelos predadores Trump, May e Macron foi um fracasso.

A operação destinava-se mais para consumo interno da opinião pública americana e europeia do que para assustar a Rússia e a Síria, que suportam bem estas arranhadelas.

No entanto, não deixou de ser um grave acto de guerra e uma agressão a um país independente, que o Direito Internacional proíbe e sanciona.

A Carta das Nações Unidas apenas consente o uso da força militar, contra um país soberano, no caso de legítima defesa ou actuando, através de um mandado do Conselho de Segurança da ONU, o que não foi o caso, permitindo assim que possamos considerar delinquentes paranóicos os três dirigentes políticos acima citados, e que, com esta iniciativa criminosa, deslustraram os valores da chamada civilização ocidental, que dizem defender.

Em relação às armas químicas, cito o PÚBLICO:
“A Convenção sobre o Uso de Armas Químicas diz que o Conselho de Segurança pode impor 'medidas' contra quem voltar a usar armas químicas na Síria, mas não autoriza directamente o uso da força. O tratado não tem um mecanismo de imposição que autorize outras partes a atacarem ou a punirem quem o violar”, explica Sofia Olofsson, na revista online Cornell Policy Review".

O crime está provado. E a apatia e a condescendência do secretário geral da ONU também.

Uma nota a preceito:
Parece que, agora, é moda chamar políticos portugueses para cargos internacionais importantes. Pudera!... São os melhores lacaios.
Eu, por mim, continuo a preferir os cães de guarda. São mais fiéis.

Alexandre de Castro
2018 04 15

sábado, 14 de abril de 2018

De falácia em falácia até ao desastre final…



De falácia em falácia até ao desastre final…

À enorme falácia de Bush, sobre a existência de armas de destruição massiva, no Iraque, e que nunca foram encontradas, segue-se, agora - como argumento para os EUA desencadearem uma guerra contra a Síria - a falácia das armas químicas (que ninguém provou existirem).

A Síria e o Irão são os únicos países do Médio Oriente que o imperialismo americano ainda não conseguiu vergar, impedindo-se assim o seu desígnio de pretender assegurar o seu domínio total sobre a zona onde se encontram as maiores reservas de petróleo do mundo. Trata-se, pois, de uma guerra de rapina, que o mundo inteiro deve condenar.

Mas, esta guerra contra a Síria poderá ter consequências dramáticas, a nível global, despoletando uma espiral de violência, nunca vista, através do recurso às armas nucleares, pois a Rússia reagirá imediatamente, para proteger o seu aliado histórico, que é um país independente, reconhecido pela comunidade internacional, que tem assento na ONU e que tem todo o direito de defender a sua soberania e a sua integridade territorial.

Alexandre de Castro
2018 04 12

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Resposta a uma pergunta sobre o texto “A bivalência da coisa”


Resposta a uma pergunta sobre
o texto “A bivalência da coisa”


Num Grupo do facebook, um leitor interessado, reagiu ao meu texto, A bivalência da coisa, também aqui publicado, deixando a seguinte pergunta: Qual a solução?

Respondi assim:

Há várias soluções, A T:

1ª - Se eu tivesse uma bomba atómica, lançava-a no edifício da sede da UE. Cortava-se o mal pela raiz.

2ª - Forçar, da parte do governo português, a renegociação da dívida e a sua reestruturação, perdoando-se parte do seu montante e alongando o prazo da sua total liquidação, para dar folga a Portugal, que assim poderia aumentar o investimento público, de forma a fazer crescer a economia para os quatro e cinco por cento, o que não está a ser conseguido, nem pode estar, porque a dívida contraída às entidades da troika, tal como está estruturada, constitui um verdadeiro garrote para a economia portuguesa.

Não está a pedir-se nada que a então Alemanha Ocidental não tenha pedido aos países vencedores da Segunda Guerra Mundial, em relação ao pagamento das indemnizações de guerra, entretanto transformadas em dívida

Recorde-se que, quando o governo da nossa desgraça assinou o acordo com a troika, o cálculo então feito - para que Portugal conseguisse pagar a dívida até ao prazo estabelecido (2035 para a dívida do FMI e 2036 para a dívida ao BCE e à Comissão Europeia) - apontava para a necessidade da economia portuguesa crescer os tais quatro a cinco por cento, ao ano. Ora, nos últimos três exercícios anuais, o crescimento da economia nem sequer chegou a metade dessa percentagem, nem nunca vai chegar, se não houver dinheiro para mais investimento público.

A não se negociar nada, o esforço orçamental do Estado português terá de ser muito maior, em prejuízo dos salários, das pensões e do Serviço Nacional de Saúde, como, aliás, já está a acontecer com o Orçamento de Estado deste ano. E, com excepção dos anos eleitorais, os orçamentos serão cada vez mais apertados, o que se vai repercutir na descida gradual do nível de vida dos portugueses, no aumento da pobreza e na degradação do Estado Social.

Pergunto: É isto que os portugueses querem? É desta forma cruel que a Europa é amiga de Portugal? É a isto que se chama virar a página, como António Costa anda sempre a dizer?

3ª– Se a primeira hipótese é inviável, impraticável e impossível e a segunda é rejeitada pelos partidos europeístas nacionais, então o melhor é ir à bruxa.
É o que eu também vou fazer.

Alexandre de Castro
2018 04 12

quarta-feira, 11 de abril de 2018

A bivalência da coisa




A bivalência da coisa

Era de prever este golpe. Na altura em que Centeno tomou posse, como presidente do Eurogrupo, eu escrevi uma coisa, mais ou menos assim:

"Como é que Centeno vai conciliar o seu discurso em Bruxelas com o discurso do Terreiro do Paço"? Passados uns dias, cheguei à conclusão que o próprio António Costa estava na mesma onda, a jogar na mesma ambiguidade. E, na realidade, nesta metade do mandato, Centeno e Costa entregaram-se à tarefa de fazer um número de ilusionismo, dando por um lado e tirando por outro lado. Designei o governo, como o governo do “tira e põe”.

Só que, os profissionais da Saúde resolveram partir a loiça, fazendo um grande estardalhaço, e ponde a nu as carências e os graves problemas do sector, que só poderão ser resolvidos com uma inversão da política que o governo está a seguir, de inteira submissão a Bruxelas, e, política esta, que não vai mudar, como já se percebeu, limitando-se apenas, e mais uma vez, a ir tapar buracos com provisórios remendos, a fim de calar as vozes dissonantes.

Com o PCP a afirmar que vai ser crítico, mas que não quer a ruptura e um BE, que anda um pouco desorientado para encontrar uma estratégia para resolver este dilema, e, também, com um PSD fragilizado (e que fique muitos anos assim), António Costa pode fazer a política que Bruxelas e Berlim apoiam e pretendem. Com as próximas eleições no papo, o próximo mandato governamental será cada vez mais europeísta, continuando a governar-se à volta da centralidade do défice, e da dívida, dívida que nunca poderemos pagar, a não ser que Portugal venha a ser o Benim da Europa, depois de perder a maior parte de tudo que ganhou no passado.

Já me chamaram “pessimista doentio”, mas eu julgo que tenho razão. Armadilhado com o euro e com a dívida, Portugal não vai ter o futuro, mil vezes prometido. E não sei, até, se poderá continuar a ser um país viável.

E na minha avenida, em Lisboa, vejo cada vez mais pedintes e pessoas a dormir, debaixo dos alpendres, o que, à semelhança do que aconteceu no passado, é, para mim, um sinal premonitório da crise, que vem aí.

Nem a santa de Fátima nos salvará.

Alexandre de Castro
2018 04 10

domingo, 8 de abril de 2018

Prisão de Lula da Silva: quando a verdade é uma agulha num palheiro


Prisão de Lula da Silva: quando a verdade é uma agulha num palheiro


Léo Pinheiro, à altura presidente da OAS, começou por ser interrogado pelas autoridades no âmbito da Operação Lava Jato em 2014, tendo sido logo preso. Negociou um acordo de delação premiada com os investigadores mas, em 2016, o acordo caiu por terra. Tudo porque a Procuradoria acusou-o de quebra de confidencialidade, depois de ter surgido uma notícia sobre o acordo na revista Veja. Apesar disso, Pinheiro quis colaborar na mesma com a investigação, na esperança de que tal ajudasse a reduzir a sua pena, o que veio a acontecer: Sérgio Moro, no final do julgamento, reduziu a pena que lhe aplicou de 10 anos e oito meses de prisão para uma pena de apenas 2 anos e seis meses em regime fechado, passando o resto da pena a regime aberto. Léo Pinheiro está ainda condenado a outros 42 anos de prisão, por outras duas sentenças também aplicadas por Moro, relacionadas com a Lava Jato.


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Lendo o artigo do OBSERVADOR, que segue a linha de pensamento da narrativa do juiz Sérgio Moro, até parece que, na realidade, Lula da Silva foi corrompido, tal é a força das provas trazidas para o processo.

No entanto, na narrativa da acusação, há uma nebulosa opaca, como são todas nebulosas, e, ao mesmo tempo, intrigante, que não deixa ver toda a verdade, escondida que está no meio de tantas assumidas certezas. Refiro-me a Léo Pinheiro, director, à altura dos factos, da OAS, a dona do célebre Triplex, e que começou a ser investigado pelas autoridades, ainda no âmbito da Operação Lava Jato, em 2014, tendo sido imediatamente preso. E é na prisão que ele propõe (ou aceita?) um acordo de delação premiada, uma figura jurídica controversa, que muitos juristas contestam e condenam, pois, a partir desse momento, o arguido diz, afirma, subscreve (e põe-se de joelhos, se necessário for) tudo o que os investigadores quiserem, caso o objectivo da investigação esteja inquinado (por motivos políticos ou por motivos de outra natureza) pela tentação de atribuir a culpa a quem a não tem e, noutros casos, de absolver quem a tem.

E, no final do julgamento de Lula da Silva, o juiz Sérgio Moro foi magnânimo para com Léo Pinheiro. A generosidade da clemência fala por si, e levanta alguma suspeição, embora eu, da minha parte, não queira promover nenhum processo de intenções. Sérgio Moro, que condenou Léo Pinheiro a dez anos e oito meses de prisão, premiou a delação, reduzindo-lhe a pena para, apenas, “dois anos e seis meses, em regime fechado, passando o resto da pena a regime aberto”, o que prova que a delação compensa, mesmo que seja comprada pela investigação, em muitos casos.

Entretanto, eu, por mim, neste texto, consegui dizer tudo o que tinha a dizer, sem me comprometer com nada, uma vez que a verdade nem sempre vem à tona da água.

Alexandre de Castro
2018 04 08