Prisão de Lula da Silva: quando a verdade é uma agulha num palheiro
Léo Pinheiro, à altura presidente da OAS,
começou por ser interrogado pelas autoridades no âmbito da Operação Lava Jato
em 2014, tendo sido logo preso. Negociou um acordo de delação premiada com os
investigadores mas, em 2016, o acordo caiu por terra. Tudo porque
a Procuradoria acusou-o de quebra de confidencialidade, depois de ter
surgido uma notícia sobre o acordo na revista Veja. Apesar disso, Pinheiro quis
colaborar na mesma com a investigação, na esperança de que tal ajudasse a
reduzir a sua pena, o que veio a acontecer: Sérgio Moro, no final do
julgamento, reduziu a pena que lhe aplicou de 10 anos e oito meses de
prisão para uma pena de apenas 2 anos e seis meses em regime fechado, passando
o resto da pena a regime aberto. Léo Pinheiro está ainda condenado a outros 42
anos de prisão, por outras duas sentenças também aplicadas por Moro,
relacionadas com a Lava Jato.
****«»****
Lendo o artigo do OBSERVADOR, que segue a linha
de pensamento da narrativa do juiz Sérgio Moro, até parece que, na realidade,
Lula da Silva foi corrompido, tal é a força das provas trazidas para o
processo.
No entanto, na narrativa da acusação, há uma
nebulosa opaca, como são todas nebulosas, e, ao mesmo tempo, intrigante, que não
deixa ver toda a verdade, escondida que está no meio de tantas assumidas
certezas. Refiro-me a Léo Pinheiro, director, à altura dos factos, da OAS, a
dona do célebre Triplex, e que
começou a ser investigado pelas autoridades, ainda no âmbito da Operação Lava
Jato, em 2014, tendo sido imediatamente preso. E é na prisão que ele propõe (ou
aceita?) um acordo de delação premiada,
uma figura jurídica controversa, que muitos juristas contestam e condenam,
pois, a partir desse momento, o arguido diz, afirma, subscreve (e põe-se de
joelhos, se necessário for) tudo o que os investigadores quiserem, caso o
objectivo da investigação esteja inquinado (por motivos políticos ou por motivos
de outra natureza) pela tentação de atribuir a culpa a quem a não tem e,
noutros casos, de absolver quem a tem.
E, no final do julgamento de Lula da Silva, o
juiz Sérgio Moro foi magnânimo para com Léo Pinheiro. A generosidade da
clemência fala por si, e levanta alguma suspeição, embora eu, da minha parte,
não queira promover nenhum processo de intenções. Sérgio Moro, que condenou
Léo Pinheiro a dez anos e oito meses de prisão, premiou a delação, reduzindo-lhe
a pena para, apenas, “dois anos e seis meses, em regime
fechado, passando o resto da pena a regime aberto”, o que prova que a delação
compensa, mesmo que seja comprada pela investigação, em muitos casos.
Entretanto, eu, por mim, neste texto, consegui
dizer tudo o que tinha a dizer, sem me comprometer com nada, uma vez que a
verdade nem sempre vem à tona da água.
Alexandre
de Castro
2018 04 08