Fotografia típica das
famosas conferências de imprensa clandestinas da ETA
O fim da
ETA: verdade ou encenação?
A ETA emitiu um comunicado onde pede desculpa a
algumas vítimas das suas ações que duraram cinco décadas e fizeram mais de 850
mortos. Dissolução do movimento terrorista está prevista para 5 de maio.
Começo a desconfiar da autenticidade desta
notícia, que é a segunda vez que aparece na imprensa espanhola. Não sei se não
será uma encenação do governo de Madrid, destinada a esbater, de uma forma
subliminar, o forte impacto das tendências autonomistas, principalmente a da
Catalunha, que cada vez se agiganta mais.
O teor do texto e o seu tom lamechas, a repisar
constantemente o arrependimento, a dor causada às famílias das vítimas, as
mortes causadas pelos muitos atentados, soa-me a falso, pois há ali a necessidade
de dramatizar, até ao limite, o que, por natureza, foi dramático.
.
Por outro lado, os operacionais da ETA, que, por
razões de segurança, deveriam ser, à época, em pequeno número, ou já morreram,
ou, se não morreram, já têm uma proveta idade, que já não se compadece com este
lirismo textual, que até sugere, de uma forma artificiosa e suspeita, que não
vale a pena lutar pela independência do País Basco e que é preferível optar por
uma solução democrática, pensamento este que não se coaduna muito com o perfil
da forte personalidade de quem escolheu, em tempos, a via da luta armada
clandestina, em condições muito difíceis, para alcançar o desiderato da
independência do País Basco. Trata-se de pessoas que actuaram sob a pressão de
convicções muito fortes e inabaláveis, e que, na minha perspectiva, não estou a
ver que a elas possam renunciar, desta forma folclórica.
E também me parece folclórica esta forma
estranha a desajustada de promover uma conferência de imprensa, em tudo
idêntica às dos velhos tempos, e a realizar no próximo dia 5 de Maio, no País
Basco francês, e destinada a anunciar solenemente o fim da ETA. É estranho,
porque se se tratasse de verdadeiros militantes, bastava-lhes, para apaziguar a
sua consciência e o seu sentimento de culpa, a emissão dos comunicados, que já
foram divulgados, em que se anunciava o definitivo desmantelamento daquela
organização, que pôs de cabeça à roda à polícia secreta do ditador Franco.
Os velhos militantes operacionais recusariam,
certamente, tanta teatralização, para anunciar a sua morte política. E será uma
teatralização, se, na realidade, como eu suspeito, tudo isto não for uma
manobra bem engendrada do governo de Madrid, destinada, pelo efeito de
simpatia, a desmoralizar e a denegrir o movimento independentista da Catalunha.
O que os velhos operacionais da ETA querem,
neste momento, é que o tempo passe, sem que sejam descobertos e identificados
pela polícia espanhola, o que poderia vir a acontecer no território do País
Basco francês, pois eles não poderiam vir para a rua, mascarados, tal como
iriam apresentar-se, certamente, na dita conferência de imprensa. Seria um
grande risco.
Penso, pois, que isto é uma farsa. A ver vamos.
Alexandra
de Castro
2018 04 21