Páginas

Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia de Maria Alonso Seisdedos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia de Maria Alonso Seisdedos. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Só na boca o sal - Poema de Sun Iou Miou

Urbano Lugrís.
Mar dos argazos (1946)

Só na boca o sal

Nesta prisão de ar contido, de mágoas,
âncoras e mastros sem vela, argaços
fossem os meus cabelos, nácar as unhas
de conchas e os desejos meus,
dos ossos de náufragos mortos no sul
os meus ossos, de escamas e espinhas
vivas também os meus dentes vivos.

Olha a tela que me prende à proa,
mansa mortalha nas cores da sereia...!
Não quero ser carranca, nem grades!
Quero é nadar embalada entre anêmonas,
navegar os ventos ao longe dos litorais
(jamais armas ao peito, nem aos olhos vazados),
uma ilha às vezes e sempre horizontes.

Quero é tempestades, o pano preto fendido
no lampejar silente na nudez do oceano,
e contento e azul ou verde, até cinéreo.
Não o cabeço de sombras que me amarra,
nunca este corpo de pau a abafar-me as ânsias!
Só nos lábios um búzio, nem leme nem sextante;

só na boca o sal
                                  e no sal todos os mares.
Sun Iou Miou

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um Poema ao Acaso: Nenhures em mim - de Maria Alonso Seisdedos

Nenhures em mim

Desliguei-me do mundo e do espelho
nestes tempos últimos, verão ainda,
para me explorar corpo dentro
os sentimentos e corpo fora,
as sensações fluviais mais transitórias.

Não fiz anotações de campo,
apenas registei em marcas húmidas
riscadas pelas unhas gastas na parede
os dias que me fugiram
na mudez dos dedos estéreis.

A quem quiser ouvir e acreditar, direi
que nessa viagem descobri um tesouro
que ocultei, sovina, à avidez do olhar alheio.
A ninguém hei-de revelar as coordenadas:
perdi a palavra-passe ou a memória.
.
Maria Alonso Seisdedos (Sun Iou Miou)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um Poema ao Acaso: Cair contigo - Maria Alonso Seisdedos


Cair contigo
.
Digo-te hoje e aqui que vou saltar da falésia
e contigo
se me segurares a mão no fio frágil e (in)tenso
dum sussurro.
Digo-te e mais te digo que vou trancar os medos
ao mistério
sem sopesar distâncias ou fundos
cataclismos.
Digo-te e ainda digo que na descida ao incógnito
brutal do abraço
não hei-de empenhar na bússola um grau que seja
do alento
de que te digo preciso para cair contigo.
.
Maria Alonso Seisdedos

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um Poema ao Acaso: O céu de Sequeira



O céu de Sequeira

Ao Ademar Santos

Ofereço-te o céu de Sequeira que verias
e nenhuma flor cortada, mas três beijos
sobre a pedra escaldante
como a tua memória aqui:

Um de mar, que é da Rosa.
Um de ar, que é da Ana.
Mais o meu, de terra e raiva.
Todos os três de palavras.

Maria Alonso Seisdedos

Em Sequeira, a 30 de Maio de 2010