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sábado, 31 de março de 2012

A propósito de uma polémica no Facebook sobre a Guerra - por Joaquim Pereira da Silva

Guerra Colonial
Guerra Civil de Espanha
Sem querer meter a foice em seara alheia (já meti), quero agradecer ao meu amigo Alexandre a oportunidade de de vez em quando poder alimentar alguma polémica que é sempre salutar, porque é áí que os neurónios se vão renovando. ... Evidentemente que os contextos das duas guerras são diferentes e as suas consequências também. O que eu queria salientar é que na realidade (em minha opinião), no Ultramar não ocorreu uma guerra civil. Naquele contexto havia um inimigo comum, os indígenas, que, se por um lado tinham toda a legitimidade (até por razões históricas decorrentes duma colonização algo agressiva, que se não notava nas cidades) para reivindicar os seus direitos de cidadania, por outro lado eram bastante instrumentalizados a partir do exterior. Isso é completamente diferente da guerra fratricida que ocorreu em Espanha (à qual também não foram indiferentes influências estrangeiras), mas que tinha razões sociológicas e ideológicas profundas e com consequências bem mais nefastas a nível geracional. Portanto o nosso problema resolveu-se e com a descolonização (exemplar ou não), todos nos encolhemos no nosso cantinho, uns a carpir as mágoas, outros exultantes porque realmente a nossa juventude estava a ficar completamente exaurida. As guerras civis são calamidades que deixam marcas indeléveis, geraçao após geração. Conviver com os assassinos de familiares nossos será porventura um tormento que nunca nos dará paz. Daí eu pensar que estando nós a atravessar um período tão difícil em termos de sobrevivência, e inseridos numa comunidade que também o atravessa, qualquer apelo a um extremar de posições não será talvez a atitude mais asisada. Da mesma opinião comunga um nosso comum amigo, ilustre capitão de Abril. Só intervim porque a Sr D. Helena Viegas deu a entender (ou eu percebi mal), que já não tínhamos coragem para voltar a virar isto do avesso. O problema é que as consequências seriam imprevisíveis e poderíamos voltar a entrar na idade das trevas. Mas que dá vontade, la isso dá.
Joaquim Pereira Silva

sexta-feira, 30 de março de 2012

A barbárie fascista regressa às ruas e às praças das cidades de Espanha

Policías antidisturbios han cargado hoy contra los manifestantes convocados por el movimiento 15-M para impedir que se uniesen a la manifestación que se ha celebrado en Oviedo contra la reforma laboral. (Foto: EFE, J.L.Cereijido)
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Un policía se enfrenta a un manifestante durante los disturbios ocurridos esta tarde en Barcelona durante la marcha contra la reforma laboral. (Foto: AFP, JOSEP LAGO)
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Un manifestante recibe atención médica después de recibir un golpe en la cabeza durante los enfrentamientos registrados esta tarde en Barcelona. (Foto: REUTERS, STRINGER/SPAIN)
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 Un mosso d'esquadra golpea con la porra a un manifestante durante los disturbios producidos en la jornada de huelga general convocada por los sindicatos. (Foto: EFE, Alberto Estévez)
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Porque não foi bem enterrado, o monstro do Vale dos Caídos agiganta-se em Espanha, ameaçando as liberdades dos trabalhadores. As imagens chocantes da repressão policial, indignas de um Estado de Direito, trazem à memória o tempo da demência fascista do franquismo.
Imagens e legendas do jornal El Pais.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Greve em Espanha: Sindicatos reclamam “adesão maciça” à greve em Espanha

Fotografia do PÚBLICO
As centrais sindicais Comisiones Obreras e UGT falam de uma “adesão maciça” durante a madrugada à greve geral de hoje, a oitava da democracia espanhola, que segundo os sindicatos fez parar a totalidade dos sectores industrias, como as fábricas de automóveis e metalúrgicas, a construção de infra-estruturas, a recolha de lixo e as minas, relatava a TVE no seu site. O Governo sublinhava a “tranquilidade” com que a greve se desenrolava e o cumprimento dos serviços mínimos.
Os transportes limitavam-se aos serviços mínimos (fixados em 30%), o que indicava uma adesão maciça na região de Madrid. Os 28 portos de “interesse geral” estavam completamente parados. Ainda não havia dados sobre o comércio, que só abriu às 10h locais (9h em Portugal). Os grandes armazéns tinham aberto no centro de Madrid e de Barcelona, mas tinham poucos clientes, segundo o diário El País, no seu sítio electrónico. Vários canais de televisão das regiões autónomas estavam sem sinal.
“Dos 10 milhões de assalariados que deveriam estar a trabalhar até agora, poderemos falar de 85% de adesão, descontando os serviços mínimos”, disse Antonio del Campo, da central sindical Comisiones Obreras, citado também por El País. A convocatória da greve não abrangia os trabalhadores independentes.
PÚBLICO
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A barbárie fascista, tanto em Portugal como em Espanha, esconde-se atrás do biombo de uma democracia de pantufas. A Besta hedionda ainda não foi extirpada.
Tal como em Portugal, a polícia espanhola utilizou desproporcionados métodos repressivos e intimidatórios contra os grevistas. Mas, nesta greve, que vai marcar um ponto de viragem, os trabalhadores espanhóis estão a demonstrar, com a sua coragem e determinação, que não são um rebanho de carneiros. Que sirvam de exemplo à carneirada geral.
http://economia.publico.pt/Noticia/sindicatos-reclamam-adesao-macica-a-greve-em-espanha-1539859

Greve de Espanha está a ser um êxito...

Fotografia do El Pais
Siga em direto as manifestações em várias cidades espanholas.
http://elpais.com/especiales/2012/huelga-general/?ap=1

terça-feira, 27 de março de 2012

Portugal volta a usar candeeiros a petróleo

Com o agravamento da crise, o candeeiro a petróleo está a regressar à casa de muitos portugueses.
"O candeeiro a petróleo caiu em desuso nos anos 60 em Portugal, mesmo nas aldeias mais remotas, onde a electricidade foi um luxo que tardou a chegar. Em pleno século XXI, com o agravamento da crise económica, o candeeiro a petróleo regressa em força a muitos lares portugueses, principalmente nas zonas suburbanas do país", escreve o diário i.
O jornal dá o exemplo de um estabelecimento comercial no centro de Oeiras que "tem vendido ultimamente uma grande quantidade de candeeiros a petróleo". O gerente da loja "explica o inesperado sucesso de vendas de forma lapidar: 'Encomendo aos 150 candeeiros de cada vez e desaparece tudo'".
O jornal assinala que "outro item com muita saída são os sacos de água quente (...). De resto, a própria Organização Mundial de Saúde diz que metade dos idosos portugueses não tem meios para manter as casas quentes."
Diário de Notícias
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Se há imagens que ilustram bem o grande retrocesso do país, esta, a do recurso aos antiquados candeeiros a petróleo, é uma delas. A seguir, assistiremos ao regresso do burro ( a juntar aos que já andam por aí), como meio de transporte privilegiado. Sinais inequívocos de uma nova Idade Média. É certo que alguns espertalhões (os que não são afetados pela crise e os que até lucram com ela) tentam a todo o custo fazer-nos acreditar que vale a pena fazer sacrifícios (os outros, claro), pois só assim poderemos conquistar o céu. Só que essa gentinha ainda não nos disse, preto no branco, fazendo as contas, quanto é necessário crescer para pagar as dívidas e os juros. Com uma economia intencionalmente levada à ruína, e como sem economia não há finanças, daqui por alguns anos nem dinheiro teremos para comprar o petróleo para os candeeiros. Restar-nos-á ainda a candeia com azeite.

Campas de combatentes portugueses degradadas

O adido de Defesa da Embaixada portuguesa em Paris disse à Lusa que as 44 campas de combatentes portugueses na I Guerra no cemitério de Boulogne-Sur-Mer, no Norte de França, estão "em grande estado de degradação".
Existe, em Boulogne-Sur-Mer, um cemitério militar onde estão sepultados 44 portugueses. As campas, a par do memorial aos combatentes, cuja manutenção cabe ao Estado português, estão em "estado de grande degradação", diz. Há campas onde "já não é possível ler os nomes" e algumas em que o granito "ameaça partir-se".
Diário de Notícias
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A crise já chegou aos mortos!...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Este ano, Portugal será um forte candidato ao prémio da Nobel da Física!

Depois da descoberta do átomo, do neutrão, do protão e do electrão, acabou de ser descoberto o pelintrão.
Como se caracteriza o pelintrão?
O pelintrão é um português sem massa e sem energia, mas que suporta qualquer carga!
Amabilidade do João Fráguas

domingo, 25 de março de 2012

Notas do meu rodapé: A globalização foi o sucedâneo natural do colonialismo

A globalização foi o sucedâneo natural do colonialismo. Politicamente esgotado o sistema da exploração dos recursos naturais e do trabalho escravo ou mal remunerado, através da ocupação dos territórios coloniais, que se operou desde o século XVI até meados do século XX, a liderança mundial do capitalismo criou um novo modelo, que lhe pudesse garantir a hegemonia na economia mundial. O modelo criado foi a globalização, sustentado por uma teoria económica, o neoliberalismo, e por uma estratégia, que defendia dogmaticamente o comércio livre, sem restrições de espécie alguma. Ao nível ideológico, operou-se a apropriação abusiva do conceito de liberdade e de democracia (a liberdade do mais forte e uma democracia viciada no topo), e glosou-se até à exaustão, como se tratasse de uma religião, a legenda desta trindade de elementos: liberdade de movimentos do capital, de mercadorias e de pessoas, o que, através de uma leitura acéfala ou descuidada, a tornava atraente e convidativa.
Na realidade, a globalização apoia-se no poder do mais forte, que é a lei da selva, podendo, pois, dizer-se que representa um retrocesso civilizacional em relação aos ideais do iluminismo, da Revolução Francesa e do marxismo. A deslocalização do processo produtivo para os países de mão de obra barata permitiu aos países mais desenvolvidos uma enorme acumulação de capitais, que acabou, através da financeirização da economia, por constituir a lenha da grande fogueira especulativa, que desencadeou a atual crise mundial. No entanto, durante os últimos cinquenta anos, e de uma forma paulatina, devidamente sistematizada e estruturada, o capitalismo conseguiu com êxito transferir a riqueza dos países mais pobres e menos desenvolvidos para os países mais ricos, e, dentro de cada país, transferir os rendimentos do trabalho para os rendimentos de capital, o que conduziu a uma gritante desigualdade redistributiva, que já começa a ser percetível e melhor compreendida pelas vítimas deste perverso modelo.
http://economia.publico.pt/Opiniao/Detalhe/as-mascaras-do-comercio-livre-1538444

sábado, 24 de março de 2012

A Ode à Alegria da 9ª Sinfonia de Beethoven

10000 singing Beethoven - Ode an die Freude / Ode to Joy 
Amabilidade do João Fráguas
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Se um dia a Humanidade desaparecer, fica a 9ª Sinfonia de Beethoven, a testemunhar a grandeza do génio do Homem, na sua passagem por este planeta. Como uma catedral gótica, eleva-se imponente, até aos píncaros dos céus, para ser ouvida no Olimpo pelos próprios deuses. 
A Ode à Alegria, esta última parte da sinfonia, mergulha-nos num intenso mundo de emoções arrebatadoras, tal é a harmonia que se desenha, através da sua grande complexidade musical. Ouvida neste cenário grandioso, em que a orquestra foi acompanhada por um Coral com dez mil vozes, sob a direção de um maestro de perfil vigoroso e determinado, a ressonância amplia-se até ao limite, numa coesão densa e coerente de todos os seus sons instrumentais e vocais.  
(ver no ecrã inteiro)

sexta-feira, 23 de março de 2012

E da ruína nasceu arte...

Fotografia de João Grazina
O desenho nesta fachada é do artista Alexandre Farto, de quem publicaremos brevemente mais trabalhos, do mesmo género.
A fotografia do João Grazina é de excelente qualidade. A sua opção pela aproximação ao objeto, permite que o pormenor ganhe relevo. 
A recente conclusão do procedimento de ofertas de participação do sector privado (PSI) e do novo acordo de empréstimo assinala, após três anos de austeridade orçamental e cinco anos de recessão, o começo de uma nova era para a Grécia.
Vassilios Costis, Embaixador da Grécia em Portugal
PÚBLICO

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Este artigo do Embaixador da Grécia não é, seguramente, um discurso sério de análise económica. Trata-se antes de um texto panfletário de propaganda de baixa política, a dar cobertura ao verdadeiro saque a que a Grécia está a ser sujeita. No meio daquele gigantesco incêndio, que está a infernizar a vida do povo grego, não sei onde é que o senhor Embaixador está a ver a água para o apagar. Só esvaziando o mar Mediterrâneo.
http://economia.publico.pt/Opiniao/Detalhe/o-crescimento-e-a-unica-saida-para-a-grecia_1538845

quinta-feira, 22 de março de 2012

GREVE GERAL

Nunca uma Greve Geral se revestiu de tanta importância política para a defesa dos trabalhadores, dos pensionistas e dos desempregados, cujos direitos estão a sofrer o mais brutal ataque desde o 25 de Abril.

Agradecimento

O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento à Lucy, pela sua decisão de se inscrever como amiga/seguidora deste blogue.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Lady Gaga quer ter muitos filhos

A sua excentricidade é conhecida um pouco por todo o mundo, mas Lady Gaga não gosta muito de falar acerca da sua vida pessoal. No entanto a cantora, de 25 anos, deu uma entrevista a Oprah Winfrey com a mãe, Cynthia Germanotta, na casa onde cresceu em Nova Iorque, e onde guarda os prémios que tem recebido.
A cantora falou ainda sobre os projetos futuros a nível pessoal: "Quero ter filhos, os suficientes para fazer uma equipa de futebol, e quero ter um marido." "Estou a exagerar, mas não quero ter só um filho, quero ter vários. E quero viver a experiência da gravidez, mas não para já", revelou.
CARAS
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Lady Gaga: Eu também não tenho pressa: Fico à espera.
http://clix.caras.pt/famosos/2012/03/19/lady-gaga-quero-ter-muitos-filhos-e-um-marido

terça-feira, 20 de março de 2012

Governo quer um ano de prisão para quem mentir na declaração de IRS

O Governo pretende punir com uma pena até um ano de prisão aqueles que mentirem na declaração de IRS, uma ideia incluída na proposta de alteração do Código Penal, segundo o Diário de Notícias.
Segundo esta proposta do Ministério da Justiça, a mentira passa a ser crime quando na declaração de IRS um contribuinte que é casado ou viúvo diz ser divorciado ou quando este mentir sobre a paternidade de uma criança.
A pena poderá chegar mesmo aos dois anos de prisão se a pessoa mentir sobre o seu estado civil na assinatura de uma escritura.
Está ainda prevista a penalização de uma pessoa apanhada em excesso de velocidade e que minta sobre a identidade do condutor ou apresentar moradas falsas para desorientar as notificações dos tribunais ou de outras entidades oficiais.
Esta proposta confirma ainda as intenções da ministra da Justiça em mexer nas prescrições, passando os prazos a vigorar até que haja uma condenação por um tribunal de primeira instância.
Os depoimentos prestados na fase de investigação deixam de ser registados por escrito e passam a ser gravados em áudio e vídeo.
Ainda de acordo com esta proposta, os juízes deixam de ser obrigados a aplicar a medida de coação decidida pelo Ministério Público, podendo optar por outra diferente, excepto nos casos em que há, por exemplo, perigo de fuga.
Para os pequenos furtos, os comerciantes passam a ter de acusar alguém, a menos que o furto tenha sido cometido por um grupo.
Dinheiro Vivo
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De acordo, senhora ministra. Agora, para as coisas ficarem bonitinhas, só falta criminalizar as mentiras dos políticos do arco da traição, mesmo correndo o risco da extinção da espécie. Eu, por mim, preferirei defender o lince ibérico da Serra da Malcata.

Pedro Passos Coelho -- Best of 2010-2011

Amabilidade do Campos de Sousa
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Eu ainda não consegui perceber como é que este homem mudou tão rapidamente de opinião!
Se Molière fosse vivo, estava escolhido o Tartufo...

domingo, 18 de março de 2012

Pintura: A Coluna Partida - Frida Kahlo

"Pinto a minha própria realidade”
Nesta pintura, Frida Kahlo consegue transmitir, com uma forte marca pictórica, a dimensão do sofrimento físico, sofrimento este de que também foi vítima, em consequência de um acidente entre um autocarro e um carro elétrico, que a deixou acamada durante bastante tempo. A imagem torturante do sofrimento é aqui genialmente ampliada até ao limite da capacidade da resistência humana. É uma das pinturas que mais me impressionou, não tanto por uma qualquer exceção de ordem estética, mas pela intensidade da força que a mensagm transmite.

sábado, 17 de março de 2012

José Gomes Ferreira: Henrique Gomes "perdeu o braço de ferro com uma grande empresa"


Amabilidade do João Fráguas
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Se outros casos não existissem, a mexer com a nossa profunda indignação, esta espúria ligação entre o governo e a EDP seria suficiente para demonstrar a incapacidade do atual regime em garantir a sobrevivência do país, pois é disso que se trata, uma vez que vai ser muito difícil, com a prossecução da atual política de promiscuidade, evitar a queda inexorável para o abismo.
O grande capital, sob a liderança do capital financeiro, centralizado nos bancos, conseguiu, através da cumplicidade dos políticos, montar um apertado cerco ao aparelho de Estado, principalmente naqueles setores nevrálgicos, onde se decidem os grandes empreendimentos estratégicos. Quando se fizer a história deste regime, que começou a envolver-se com os grandes interesses privados no tempo do Cavaquismo, chegar-se-á à triste conclusão que os muitos mil milhões de euros, desviados para os grandes capitalistas, contribuíram decisivamente para a situação deficitária do país e para o atual estado do seu endividamento. E a procissão ainda vai no adro. Quando se avaliar a fundo o caso do BPN, das Parcerias Público-Privadas e da maioria dos contratos do Estado com grandes empresas saber-se-á a dimensão do escandaloso esbulho do erário público.

Editorial


O Alpendre da Lua alcançou hoje a barreira mítica das 100.000 visitas, ainda antes de prefazer os seus três anos de existência, que se completam em meados do próximo mês de Maio. A centésima milésima visita, efetuada às 20.34 horas, pertenceu a um leitor da Califórnia, nos Estado Unidos da América.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Fábulas para as Nações Jovens: O SEGREDO DE ROMA - Fernando Pessoa


O SEGREDO DE ROMA

Quando César chegou tarde ao fim do campo de (…) ergueram rápidos perante ele a cabeça de Pompeu. César abriu em lágrimas, e os que estavam pasmaram. O que erguera a cabeça, baixou-a um pouco; estava atónito, e além d'isso ela pesava, porque ele a erguera a braço largo.
— Assim, que vale uma vitória? perguntou César.
— É certo, respondeu o que o seguia, pois não sabia que dizer.
E César continuou. «Foi meu amigo, meu companheiro, era romano e soldado...»
E depois disse, «Cheguei tarde...»
O companheiro esboçou um gesto sem nada, e César voltou as costas curvas de dor.
«Cheguei tarde» repetiu. «Queria tê-lo eu matado com minhas mãos.»

Moralidade:
Cuidado com as lágrimas, quando são estadistas os que as choram.
Fernando Pessoa
s.d.
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
- 266.
«Fábulas para as Nações Jovens».

quarta-feira, 14 de março de 2012

Foda-se - por Millôr Fernandes


O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? "Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que e fodas!". Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem. O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai levar no olho do cu!"?
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!". Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!
Mas não desespere:
Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”
Atente no que lhe digo!
Amabilidade do Olímpio Alegre Pinto, que enviou um grande Fod@-se.

segunda-feira, 12 de março de 2012

"As leis são feitas exactamente para não ser possível apanhar as pessoas em situação de corrupção..."

Opinião Pública - Corrupção 1.wmv
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Palavras do fiscalista Tiago Caiado Guerreiro:
«Temos normas que tornam totalmente impossível apanhar um corrupto em Portugal. As normas são feitas exactamente para não ser possível apanhar as pessoas em situação de corrupção e não se conseguir provar em tribunal. Estes casos todos, que estão em tribunal, não vão dar em nada, porque a norma, mesmo que eles fossem filmados no acto de corrupção, seria difícil provar em tribunal com as normas que temos, quanto mais com advogados competentes (do lado dos corruptos).
Por outro lado, temos o Ministério Público que está organizado, e que sem culpa disso, para não conseguir investigar a corrupção, e também uma polícia judiciária que não tem meios para investigar a corrupção. Se juntarmos a isto, tribunais pouco treinados e normas que não funcionam, então isto é o paraíso dos corruptos. Aliás, todos nós conhecemos casos, ao longo do país todo, de fortunas inexplicáveis que continuam inexplicáveis e que apareceram de repente, após o exercício de cargos políticos ou em ligação com o Poder.
? Agora, um conjunto enorme de medidas em vez de normas claras e transparentes sobre o que é que é a corrupção, e isto não é difícil de fazer, é copiar o que existe, por exemplo, nos cinco países menos corruptos do mundo, são normas que são muito transparentes, são normas que, ao contrário do que aqui está previsto, não se aplicam a toda a população portuguesa. Aplicam-se só a detentores de cargos políticos, por isso são muito mais focadas naqueles que têm o risco de praticar a corrupção e permite, por isso, um enfoque muito mais fácil da polícia judiciária, do ministério público, dos tribunais e dos outros órgãos de fiscalização.
Todos nós sabemos que muita gente sai dos cargos públicos, políticos, e depois vai para a frente de grandes empresas e alguns deles criam grandes fortunas, quer dizer, tudo coisas que são inexplicáveis e inaceitáveis em sociedades civilizadas, excepto neste país, onde se pode bater sempre no contribuinte mas tratamos maravilhosamente bem os corruptos? Eu espero que isto não seja mais uma vez o que tem sido feito, que sempre que eles alteram as normas de corrupção, tornam-nas mais incompreensíveis e mais impossíveis de aplicar pelos tribunais e pela investigação.
Nós não temos um combate à corrupção. Temos normas de branqueamento, que é uma coisa diferente. Temos normas que permitem aos corruptos saírem de um julgamento todos praticamente ilibados... Há casos que eu acho terríveis: as parcerias público-privadas são de certeza casos de polícia e o BPN, são dois casos paradigmáticos emPortugal.»
Amabilidade do Olímpio Alegre Pinto

domingo, 11 de março de 2012

PORTUGAL, A EUROPA E A CRISE. - Por Augusto J. Monteiro Valente *


PORTUGAL, A EUROPA E A CRISE.

A crise nacional
Portugal enfrenta hoje uma das mais graves crises da sua história, simultaneamente económica, bancária e da dívida soberana. Os primeiros sinais revelaram-se no ano de 2003, e de forma mais crítica e continuada a partir de 2007. Na sua génese esteve a acumulação de desequilíbrios macroeconómicos e de debilidades estruturais, que as crises europeia e global tornaram visíveis em toda a sua extensão.

Nas três décadas decorridas desde o final da transição para a democracia, a economia registou uma contínua regressão tendencial da evolução do PIB, de uma média anual da ordem de 3,3% até 1998 para pouco mais de 1,0% a partir de 1999, com crescimentos negativos em 1983 (-0,2%), 1984 (-1,9%), 1993 (-2,0%), 2003 (-0,9%) e, novamente em dois anos seguidos, 2008 (-0,04 %) e 2009 (-2,5%). Neste extenso período a economia apenas acelerou nos primeiros anos da integração na CEE e da adesão ao euro, tendo-se seguido longas fases de depressão.(1)

A crise estrutural da economia foi primariamente consequência da quebra da produção nos sectores primário e secundário, a que se associaram o crescimento no sector terciário, a expansão da despesa pública, o aumento do consumo e a diminuição da poupança. No final do ano de 2010, Portugal chegou a uma situação insustentável: um défice da balança comercial que era o maior entre todos os Estados-membros da União Europeia; um défice orçamental de cerca de 9 % do PIB; uma dívida púbica da ordem dos 95 % do PIB, e uma dívida externa bruta (pública e privada, sobretudo bancária) que mais do que duplicava a anterior.

O que se passou em Portugal, e em outros países europeus, “era facilmente previsível à luz da mais elementar teoria económica: baixando rapidamente os juros, aumentou como consequência directa e imediata o endividamento dos particulares, das empresas e do Estado, ao mesmo tempo que baixava a poupança interna. Rareando a poupança interna, os bancos foram buscá-la ao exterior, daí resultando o rápido crescimento do endividamento externo”(2). Um número significativo de Portugueses depende do recurso ao endividamento durante mais de metade das suas vidas, e a precariedade tornou-se num modo de sobrevivência.

Em boa verdade, ainda que factores externos a tenham sempre influenciado, as conturbações económicas do pós-25 de Abril foram, no essencial, novas manifestações da multissecular crise nacional que, fundamentalmente, sempre radicou: na debilidade das estruturas e actividades produtivas e na grande intumescência das classes não produtoras; no domínio das oligarquias mercantis, financeiras, rentistas e usurárias sobre os sectores manufactureiros e empresariais; na persistência de uma mentalidade conservadora, avessa à inovação e ao empreendedorismo; na estreita cumplicidade entre os poderes políticos e económicos; na fraca qualificação do factor trabalho e no seu uso predominantemente extensivo. Portugal viveu sistematicamente na dependência do que veio de fora, fosse em matérias primas, fosse em crédito financeiro.

A Revolução de 25 de Abril de 1974 “nasceu acompanhada da vontade de inventar um outro destino para Portugal”(3). Mas depressa regressaram os males do passado. A adesão à CEE/UE foi vista por muitos sobretudo como uma fonte de dinheiro fácil. Sob o primado do eleitoralismo, do negócio, do compadrio, do enriquecimento fácil, do interesse particular e de outros expedientes, projectou-se segundo lógicas casuísticas e de curto prazo, com a cobertura do poder político a investimentos de necessidade, dimensão e legalidade muitas vezes suspeitas. O resultado traduziu-se no desbaratamento de apoios comunitários, num débil crescimento económico, numa evolução anémica da produtividade e numa tendência para o aumento do desemprego, com incidência especial no de longa duração e no desemprego dos jovens.

Os fundos estruturais, em lugar de serem aplicados no desenvolvimento equilibrado do País e na modernização da economia, alimentaram a recuperação do poder das oligarquias bancária e bolsista, a multiplicação de actividades fraudulentas, o consumismo perdulário e o luxo ostentatório. Abandonou-se boa parte da actividade económica tradicional e pouco se investiu na reorganização empresarial e em novas capacidades produtivas, tendo-se privilegiado a governação mercantil sobre a economia real. A prevalência de lógicas centralistas de planeamento, favoreceu paralelamente a desintegração regional e propiciou a desestruturação das relações territoriais, com reflexos no aumento das assimetrias e no abandono do interior em favor das metrópoles. E tudo perante a passividade de uma boa parte dos cidadãos, mais dada à crítica inconsequente do que ao activismo cívico.

Por outro lado, a injustiça na distribuição dos rendimentos conduziu a níveis de desigualdade social dos mais elevados da União Europeia,(4) enquanto simultaneamente se multiplicaram os privilégios de uma minoria da população. Portugal voltou a regredir para índices próprios de um país precário, sendo actualmente o 20 º mais pobre entre os 27 Estados-membros da União Europeia: dívida pública superior a 100% do PIB; PIB per capita de aproximadamente apenas 2/3 da média da União Europeia; taxa de desemprego à volta dos 15%, a terceira mais elevada da zona euro; baixa de rendimentos das pessoas da ordem dos 15%; cerca de 25% da população vivendo no limiar da pobreza, se não mesmo no da sobrevivência.

A crise política acompanhou a económica: o espaço público e a distribuição dos altos cargos da administração foram hegemonizados pelos partidos do centro; o modelo democrático, económico e social criado pelos primeiros constituintes foi sucessivamente descaracterizado; o papel da participação dos cidadãos na vida pública e no exercício dos seus direitos fundamentais foi progressivamente desvalorizado. O resultado reflecte-se hoje no descrédito das instituições democráticas, no divórcio entre os eleitores e os eleitos, na falta de esperança no amanhã e na crise ética e moral que vem corroendo a República. O passado volta a ser presente e ameaça o futuro!

A crise nacional, europeia e global
A gravidade da situação nacional decorre, porém, de ser também parte de uma crise europeia dentro de uma outra de dimensão global, em resultado do efeito de contágio entre economias interdependentes e da ofensiva neoliberal do capitalismo financeiro, perante a fragilidade e descoordenação das instituições europeias. Os Estados tornaram-se os credores de ultimo recurso para salvar o sistema bancário e estimular a economia, endividando-se a níveis insustentáveis. Mas logo que começaram a sair da recessão técnica o alvo dos mercados financeiros internacionais deslocou-se para as dívidas soberanas e para as políticas de austeridade.

O que agora está sobretudo em causa é a reconfiguração das funções dos Estados através da “promoção de processos políticos de construção de mercados em novas áreas da vida social” e a reforma da administração pública de forma a retirar àqueles “responsabilidades directas na gestão dos sectores estratégicos”, gerando o caldo de cultura ideal “para novos avanços privatizadores, promovidos pelos grupos que entretanto ganharam músculo com os anteriores processos”(5). As dívidas soberanas tornaram-se, em suma, um descarado pretexto para a eliminação do Estado Social, transformado em sujeito da crise quando em rigor o não foi. A reintrodução sub-reptícia do inquérito de meios não passa de um expediente concebido para reduzir progressivamente as prestações sociais, e reduzir ao mesmo tempo “o entusiasmo da classe média por serviços sociais agora vistos como benefício só para os muito pobres”, prática que, “embora pareça razoável, ao pretender proteger a maioria fraca da minoria forte e privilegiada, é uma falsidade que atenta contra a democracia social, fundada no princípio de direitos sociais iguais para todos”, e, mesmo, “um princípio não democrático, e potencialmente totalitário”(6).

O passo seguinte será a eliminação pura e simples dos serviços sociais, que passarão a não ser vistos como bens públicos. Paralelamente, a “expansão politicamente suportada das forças do mercado e o aumento das desigualdades e da desestruturação social que esta expansão sempre gera, conjugada com o esvaziamento progressivo do Estado social assente na provisão pública universal, têm levado (...) a um reforço das áreas de actuação do Estado associadas à repressão e à punição, ou seja, à emergência e reforço de um Estado Penal, que é tanto mais importante quanto mais liberal é o modelo de desenvolvimento socio-económico em causa”(7) .

Conclusão
Os factores da crise são, no essencial, os mesmos que há séculos bloqueiam o desenvolvimento nacional e colocam Portugal numa sistemática dependência externa: fragilidades estruturais na economia (baixas qualificações e competências, modelo extensivo do trabalho, deficiente organização empresarial); asfixia das estruturas produtivas pela proeminência dos interesses financeiros, rentistas e usurários; falta de eficiência do Estado enquanto principal regulador económico e social, mais empenhado em defender os interesses das oligarquias dominantes; afastamento dos cidadãos da participação na vida pública; persistente fraqueza da classe média, esmagada pela carga fiscal. A estes factores estruturais somou-se o “fascínio liberal” das últimas décadas pelo primado da concorrência na política económica, “como se tudo se reduzisse ao dilema concorrência ou proteccionismo”(8).

A superação da crise e o “regresso ao futuro”, passam por um novo modelo político e económico. Por um novo modelo político que, articulando o sistema representativo com o participativo e popular, assegure uma democracia de alta intensidade, promova uma melhor proximidade aos cidadãos, restitua a credibilidade às instituições democráticas, retome os fundamentos sociais da economia e garanta uma distribuição mais igualitária de rendimentos. E por um novo modelo de desenvolvimento sustentável, solidário e inclusivo, que reconstitua o valor do trabalho como pilar central da política económica, estimule uma cultura de empresa assente numa diferente relação organizacional e salarial, valorize as capacidades dos trabalhadores e a criação de competências, e aposte na descentralização administrativa, na coesão territorial e nos dinamismos regionais.

A ultrapassagem da crise é também indissociável de uma Europa politicamente mais integrada e económica e socialmente mais solidária, como destino comum dos povos europeus. Mas que esta opção não seja uma via única. Na nova era multipolar que está a emergir, a diversificação de mercados é uma vantagem económica e o multilateralismo um factor de independência.

* Major General, licenciado em História. 

Bibliografia
(1) José Reis, O Tempo dos Regressos ao Futuro: Por um Desenvolvimento Inclusivo, in José Reis e João Rodrigues, “Portugal e a Europa em Crise”, Edição Actual Editora – Julho 2001, p. 16; Maria João Valente Rosas e Paulo Chitas, Portugal: os Números, Ensaios da Fundação. Os valores das variações do PIB foram corrigidos pelos divulgados pelo Banco Mundial.

(2) João Pinto Castro, PIIGS Versus FUKD: Dilemas do Pensamento Económico Provinciano, in José Reis e João Rodrigues, ob. cit., pp. 97-98.
(3) Eduardo Lourenço, Portugal como Destino, in “Portugal como Destino seguido de Mitologia da Saudade”, Gradiva – Publicações, Lda, 1999, p. 69.
(4) Segundo um estudo da responsabilidade da Direcção de Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão da Comissão Europeia, publicado em Janeiro de 2012, Portugal é o único dos seis países em que as medidas de austeridade prejudicaram mais os mais pobres e menos os mais ricos: os mais pobres perderam 6,1% dos seus rendimentos e os mais ricos perderam 3,9%. Na Grécia há quase um empate, com os mais pobres a perderem 5,9% e os mais ricos 6,1%; na Espanha a relação é de 3,4% para 4%, na Irlanda de 5% para 10,5%, no Reino Unido de 2,5% para 4,2% e na Estónia de 5% para 8,2%. (Público, 14.01.2012, p. 29)
(5) João Rodrigues e Nuno Teles, Portugal e o Neoliberalismo como Intervencionismo de Mercado, in José Reis e João Rodrigues, ob. cit., pp. 36-46.
(6) Tony Judt, “Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos”, Edições 70, Lda, Lisboa, 2010, pp. 144, 161 e 162.
(7) João Rodrigues e Nuno Teles, Portugal e o Neoliberalismo como Intervencionismo de Mercado, in José Reis e João Rodrigues, ob. cit., pp. 45,46.
(8) José Reis, O Tempo dos Regressos ao Futuro: Por um Desenvolvimento Inclusivo, in José Reis e João Rodrigues, ob. cit., p. 21.

Nota do editor: É com muito prazer que aceito, por intermédio do meu amigo, e também colaborador deste blogue, o Diamantino Silva, esta prestigiadada colaboração do general Augusto Monteiro Valente. Neste seu texto, que também vai ser publicado no REFERENCIAL, a revista da Associação 25 de Abril, o autor consegue fazer uma análise bem estruturada e fundamentada da crise nacional e internacional, sem perder de vista aquilo que é endémico na sociedade portuguesa, e que favoreceu o processo degenerativo da nossa coesão económica e social e aquilo que, sem ter sido devidamente avaliado nas suas potenciais consequências negativas, foi importado do exterior, pelo multifacetado processo da  europeização e da globalização.

Agradecimento

O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento ao melovidal e à Maria Malta pela sua decisão de inscreverem-se como amigos/seguidores deste blogue.
A interrupção da edição deste blogue, por motivos de saúde do seu editor, não permitiu que este agradecimento fosse feito em devido tempo.

domingo, 4 de março de 2012

Agradecimento

O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento ao José Dias, pela sua decisão de se inscrever como amigo/seguidor deste blogue.

sábado, 3 de março de 2012

Notas do meu rodapé: O mal está no Euro...


Desde o 25 de Abril, os défices orçamentais foram sempre negativos.
O saldo orçamental apresentou o seu pico mais negativo em 1981, atingindo 12 por cento do PIB. O outro valor mais negativo ocorreu em 2010, representando 10 por cento do PIB.
A Dívida Pública, que em 1974 representava 14 por cento do PIB, começou também a crescer, plafonando entre os 50 e os 58 por cento do PIB, no período compreendido entre 1985 e 2000, e disparando exponencialmente na primeira década do atual século. Em 2010, o valor da Dívida Pública já era 102 por cento do PIB.
O agravamento do saldo orçamental e da Dívida Publica ocorre, numa correlação significativa, após a adesão ao Euro. Desprovido do poder cambial e do pode monetário sobre a moeda, o que impediu os governos de recorrer à desvalorização, a economia portuguesa perdeu competitividade externa.
A arquitetura do Euro foi desenhada para corresponder às necessidades das economias mais desenvolvidas do Eurogrupo, prejudicando as economias de menor valor acrescentado, como é a economia portuguesa. Eu costumo dizer que o euro é um casaco demasiado grande para o meu corpo.
Nota: Escrevi este pequeno texto, como comentário, para o blogue Ponte Europa. Uma vez que me pareceu muito objetivo e sintético, resolvi transportá-lo para aqui.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Um Dia Isto Tinha Que Acontecer - por Mia Couto * (Ver Nota)


Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Mia Couto, escritor
Amabilidade da Dalia Faceira
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*Nota do editor: Este texto deve ser lido sob reserva, pois existem fundamentadas dúvidas sobre a atribuição da sua autoria ao escritor moçambicano, Mia Couto. Enviei um mail à Associação Portuguesa de Escritores, cuja cópia se encontra no espaço dos comentários, a solicitar os seus bons ofícios para obter do próprio escritor o seu testemunho, única forma credível para apurar a verdade.
Agradeço ao João Grazina o oportuno alerta, que está expresso no primeiro comentário deste post, ao mesmo tempo que convido o leitor e embrenhar-se nas labirínticas fontes de informação, nele indicadas, a fim de tentar encontrar a verdade.

Amigos do Facebook ou amigos do onça?

quinta-feira, 1 de março de 2012

"Se os povos da Europa não se levantarem, os bancos trarão o fascismo de volta."- Mikis Theodorakis

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"Se os povos da Europa não se levantarem, os bancos trarão o fascismo de volta."
No momento em que a Grécia é colocada sob a tutela da Troika, que o Estado reprime as manifestações para tranquilizar os mercados e que a Europa prossegue nos salvamentos financeiros, o compositor Mikis Theodorakis apela aos gregos a combater e alerta os povos da Europa para que, ao ritmo a que as coisas vão, os bancos voltarão a implantar o fascismo no continente.
Entrevistado durante um programa político popular na Grécia, Theodorakis advertiu que, se a Grécia se submeter às exigências dos chamados ".parceiros europeus" será ".o nosso fim quer como povo quer como nação". Acusou o governo de ser apenas uma "formiga" diante desses "parceiros", enquanto o povo o considera "brutal e ofensivo". Se esta política continuar, "não poderemos sobreviver . a única solução é levantarmo-nos e combatermos".
Resistente desde a primeira hora contra a ocupação nazi e fascista, combatente republicano desde a guerra civil e torturado durante o regime dos coronéis, Theodorakis também enviou uma carta aberta aos povos da Europa, publicada em numerosos jornais gregos.
Excertos:
"O nosso combate não é apenas o da Grécia, mas aspira a uma Europa livre, independente e democrática. Não acreditem nos vossos governos quando eles alegam que o vosso dinheiro serve para ajudar a Grécia. (.) Os programas de "salvamento da Grécia" apenas ajudam os bancos estrangeiros, precisamente aqueles que, por intermédio dos políticos e dos governos a seu soldo, impuseram o modelo político que conduziu à actual crise.
Não há outra solução senão substituir o actual modelo económico europeu, concebido para gerar dívidas, e voltar a uma política de estímulo da procura e do desenvolvimento, a um proteccionismo dotado de um controlo drástico das Finanças. Se os Estados não se impuserem aos mercados, estes acabarão por engoli-los, juntamente com a democracia e todas as conquistas da civilização europeia. A democracia nasceu em Atenas, quando Sólon anulou as dívidas dos pobres para com os ricos. Não podemos autorizar hoje os bancos a destruir a democracia europeia, a extorquir as somas gigantescas que eles próprios geraram sob a forma de dívidas.
Não vos pedimos para apoiar a nossa luta por solidariedade, nem porque o nosso território foi o berço de Platão e de Aristóteles, de Péricles e de Protágoras, dos conceitos de democracia, de liberdade e da Europa. (.)
Pedimos-vos que o façam no vosso próprio interesse. Se autorizarem hoje o sacrifício das sociedades grega, irlandesa, portuguesa e espanhola no altar da dívida e dos bancos, em breve chegará a vossa vez. Não podeis prosperar no meio das ruínas das sociedades europeias. Quanto a nós, acordámos tarde mas acordámos. Construamos juntos uma Europa nova, uma Europa democrática, próspera, pacífica, digna da sua história, das suas lutas e do seu espírito. Resistamos ao totalitarismo dos mercados que ameaça desmantelar a Europa transformando-a em Terceiro Mundo, que vira os povos europeus uns contra os outros, que destrói o nosso continente, provocando o regresso do fascismo".
Amabilidade do João Grazina, enviou este texto.