Como pode ler-se abaixo, a aventura 3D terminou
tal como começou, por iniciativa dos próprios. Não há convergência possível
quando uma das partes, ainda por cima aquela que formalmente não existe, propõe
à outra que prescinda da sua existência a seu favor. A impossibilidade
completa-se quando, a juntar ao primeiro absurdo, se verifica que à frente de
uma convergência que servisse o objectivo de unir as esquerdas está a carreira
política de alguém que comprovadamente tem facilidade em rasgar o contrato eleitoral
que se estabelece pelo voto entre eleitos e eleitores. Entre o 3D e o Livre, o
3D escolheu o Livre. A direcção do Bloco limitou-se a recusar o inaceitável. E
saíram todos, saímos todos a perder.
***«»***
Há vida política para além dos partidos, mas não
pode haver política sem os partidos. Os mentores do do Movimento 3D queriam, ao
mesmo tempo, sol na eira e chuva no nabal. Queriam, em igualdade de condições e
de circunstâncias, pendurar-se num partido já constituído e que tem
compromissos estabelecidos com os seus militantes e simpatizantes, e, ao mesmo
tempo, não queriam assumir os riscos de serem um partido político, a vir a ser
testado pelo eleitorado. Se essa coligação viesse a ter êxito eleitoral, poderiam
sempre reclamá-lo para si. Se a coligação falhasse, a culpa seria do Bloco de
Esquerda.
Por outro lado, todas estas movimentações de uma
certa esquerda esquecem um elemento estruturante essencial. Não pode haver
unidade de esquerda sem a participação do PCP, um partido que pauta a sua
credibilidade pela coerência das suas posições políticas e pelo facto de reunir
em si as três condições básicas para ser um verdadeiro partido político de
alternativa, pois tem uma ideologia definida, um programa claro e transparente
e uma forte organização, assente numa dedicada militância. O resto da esquerda
anda à deriva, a procurar pouso.
AC