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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Poema: há fotografias como punhais - por Maria Azenha

Voz da autora

há fotografias como punhais

há fotografias como punhais. e poemas também.

todos os poemas que escreverei já foram escritos
dou-me apenas ao ofício das trevas
de os revelar em pedaços de argila

neles todos estão impressos a chuva e o vento
e as folhas noviças dos séculos e
meu pai e minha mãe que já partiram
esvoaçando num passado remoto

e também a rapariga feia e bela desfigurada pela varíola
que nunca fora amada porque não era bela
e que numa noite na taberna de Vladivostoque
se ofereceu derradeiramente a Joseph Kessel

talvez pouca gente saiba deste verso
que nunca terá sido dito deste modo
e foi acontecido durante a guerra sino-japonesa

quase ninguém esteve lá para o ver

mas eu estive. trouxe -o comigo.
é exatamente por esta razão que os meus poemas

já foram todos escritos.

são como chagas alastrando e crescendo em searas de fogo

estando entre a terra e as estrelas.

sei apesar de tudo porque li Juan Gelman
que cada lágrima é um problema insolúvel

Maria Azenha

Nota: A amável e honrosa colaboração no Alpendre da Lua, da "poeta" Maria Azenha, ocorrerá, periodicamente, às quintas-feiras.
http://alpendredalua.blogspot.pt/2013/01/citacao-de-um-poema-de-maria-azenha-e-o.html

Agradecimento


É uma honra ter a "poeta" Maria Azenha, como amiga/seguidora do Alpendre da Lua.

Opinião: O 31 de Janeiro de 1891 - por Carlos Esperança

Fotografia do Movimento Revolucionário 5 de Outubro
O 31 de Janeiro de 1891

Em Portugal, nos finais do século XIX, na ausência de soluções para a crise económica, social e política, a monarquia agonizava. Depois da conferência de Berlim, em 1885, o projeto português de ligar Angola a Moçambique colidiu com o plano inglês de ligar o Cairo ao Cabo (África do Sul).
A disputa do território africano que ficaria conhecido por mapa cor-de-rosa culminou com o Ultimatum, imposição do império inglês a Portugal, tão humilhante que inflamou o fervor republicano e o ódio ao trono e à Inglaterra.
Os ideais republicanos continuaram a seduzir os portugueses e a ganhar força à medida que a monarquia se esgotava, a pobreza aumentava e o sentimento coletivo, de vergonha e ressentimento, se acentuava.
«A Portuguesa» foi o hino que surgiu do rancor generalizado que cada vez mais se identificou com as aspirações republicanas que germinavam nos quartéis, na maçonaria e nos meios académicos. O Partido Republicano, até aí pouco expressivo, cresceu em adesões e consistência.
Entre os militares destacavam-se os sargentos no fervor republicano donde viria a surgir a primeira tentativa de implantação da República. Coube ao Porto a honra desse ensaio falhado que contou com alguns oficiais em que se distinguiu o alferes Malheiro e, ainda, o capitão Leitão e o tenente Coelho.
Com a banda da Guarda-Fiscal à frente, os militares republicanos avançaram ao som de «A Portuguesa» e assaltaram o antigo edifício da Câmara do Porto de cuja varanda, perante o entusiasmo da população que se juntou ao movimento, se ouviu o discurso de um dos lideres civis da revolta, Alves da Veiga, que proclamou a República.
Falhado o objetivo de ocupar o Quartel-General e o edifício do telégrafo, donde se anunciaria a todo o País a proclamação da República e a deposição da Monarquia, o movimento soçobrou perante a Guarda Municipal.
A semente dos revoltosos de 31 de Janeiro de 1891 frutificou em 5 de Outubro de 1910. Eles foram protagonistas de uma derrota que esteve na origem da vitória que triunfaria quase duas décadas depois.
Foi há 122 anos mas a memória histórica dos protagonistas do 31 de Janeiro está viva e é dever honrá-la.
O MR5O comemora amanhã, em Mira, com um jantar aberto a todos os republicanos, a data do sonho que teve de esperar. E… o sonho comanda a vida e… a História.
Viva o 31 de Janeiro!
Viva a República!
Carlos Esperança
Publicado na página do Facebook do Movimento Republicano 5 de Outubro.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Opinião: UM CANHÃO PELO CU - O texto que está a incendiar Espanha- por José Millas


O seguinte texto foi publicado recentemente no El País, tendo-se tornado absolutamente viral em Espanha. Reflecte sobre o terrorismo financeiro e a captura económica. Chama as coisas pelos seus nomes e faz uma análise sobre o capitalismo actual que está a incendiar não só Espanha como todo o mundo. O título é "Um canhão pelo cú", e é escrito por Juan José Millas.

Um canhão pelo cú
Se percebemos bem - e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.
Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.
Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.
Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspectiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.
A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe todo o carácter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país - este, por acaso -, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.
Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública - onde estas ainda existem - os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobre protegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres.
E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.
Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.
A ti e a mim, estão a pôr nos carris do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com rupturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas acções terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.
A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A actividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.
Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um esquema legalmente permitido, um produto financeiro, ou seja, um objecto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.
Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e facturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.
Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.
Juan José Millas

Amabilidade de João Fráguas.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Cilício e chicotadas não são nada comparados com a violência psicológica" - Diário de Notícias


Membros da obra utilizam cilício (corrente com pontas de arame que se cravam na pele) duas horas por dia e, uma vez por semana, flagelam as nádegas. Beber café sem açúcar ou não fumar são outro tipo de ações que são 'oferecidas' a Deus. Porém, ex-membros dizem que pior eram as obrigações e a falta de liberdade.
João (nome fictício) levantou-se depois de ter relações sexuais com a namorada e pegou nos seis bagos de milho que trazia num estojo de camurça. Colocou-os em forma de triângulo e ajoelhou-se sobre eles a rezar qualquer coisa parecida com o ave-maria. A mortificação corporal, como esta contada ao DN, é dos rituais do Opus Dei mais contestados por algumas fações da Igreja Católica e aquele que mais choca a sociedade.
Ajoelhar-se sobre o milho não é, no entanto, a prática mais comum. E muito menos depois do sexo, até porque os numerários, as numerárias e os agregados são celibatários (ver infografia). As penitências são incentivadas de forma que os membros da obra sofram como Jesus sofreu, sendo o ato entendido como uma dádiva a Deus.
Diário Notícias
***«»***
Esta do milho é que me espanta! Agora percebo porque é que o pão de milho está caro. Eu não sei o que levou o fundador da Obra, Josemaría Escrivá de Balaguer, a escolher este cereal, como instrumento de tortura! Teria mais sentido bíblico escolher pregos, já que foi com pregos, segundo os apóstolos dos evangelhos canónicos, que Cristo foi crucificado. Naquela época, o milho até era completamente desconhecido em terras de Israel e no continente europeu, onde só se conhecia o trigo, o centeio e a cevada. O milho foi trazido da América do Sul, para a Europa, pelos espanhóis, no século XVI.
Também o flagelo das nádegas (nalgas, em Trás-os-Montes) levanta muitas suspeitas, além de constituir um perigo, pois se a ponta do arame do cilício se encrava no buraco negro de algum numerário ou numerária, a infeção é certa, devido às bactérias fecais. E para as infeções anais, não há milagres divinos, pelo menos que se saiba.
Eu julgo que Deus, na sua infinita misericórdia, deve fartar-se de rir com tais práticas e rituais, tal como eu me riria, se não soubesse que a Opus Dei é uma organização tenebrosa, ao serviço do poder político e financeiro do Vaticano. Depois de ter ascendido à condição de Estado, uma concessão de Mussolini, a fim de obter, em troca, a neutralidade do Papa, este minúsculo Estado sem povo transformou-se, abusando da boa-fé dos crentes, numa das multinacionais mais poderosas do planeta, a multinacional da Fé, que tem em Fátima, com a sua fábrica dos milagres, uma verdadeira galinha de ovos de ouro. A outra galinha gorda é a Opus Dei, que o papa polaco privilegiou para o governo das finanças de Deus, em detrimento dos jesuítas.
Em Espanha, onde a Obra foi fundada, ela constituiu-se num esteio importante do fascismo franquista e, nos dias de hoje, domina importantes setores da economia, além de ter uma grande influência no aparelho de Estado. Em Portugal, Salazar, que tinha um medo patológico por tudo que fosse organização secreta (já lhe bastava a clandestinidade do Partido Comunista Português), não lhe deu muita margem de manobra. Tolerou-a apenas. Mas agora, ela está aí, em força, para tecer discretamente a teia do seu enorme poder. Depois da UE, do BCE e do FMI, só nos faltava a Opus Dei.
Porra, que é preciso ter azar!
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3017763

domingo, 27 de janeiro de 2013

Pintura/Desenho: Maternitat - de Stefano Vitale

Maternitat - de Stefano Vitale
Nesta pintura/desenho, de traços firmes e determinantes, o autor afirma, de uma forma original, o seu "modernismo", através de uma conseguida estilização das figuras e recorrendo a uma grande economia de elementos pictóricos, ao mesmo tempo que se inspira, e isto é uma outra originalidade, no figurino genérico da pintura da arte sacra dos finais da Idade Média e à do princípio do Renascimento, das cidades-estado italianas. O efeito da sobreposição de dois rostos da mesma personagem, de tamanhos diferentes, e com um olho comum a ambos, possibilita múltiplas interpretações sobre o(s) conceito(s) da maternidade, que o autor quer explorar nesta obra. Aqui, talvez ele  pretendesse focalizar-se na recorrência da memória da mãe à sua própria infância, num dilatado recuo temporal, que a presença da sua filha, ainda criança, lhe sugere, ficando assim definido, em linguagem pictórica, o fenómeno da sucessão geracional. A ternura, outro elemento que imediatamente salta à vista, concentra-de na mão da criança e na expressão do olhar da mãe.
E a arte é isto. Além do efeito estético, que é importante, a arte tem a função de questionar-se, questionando quem a usufrui. E isto é válido para todas as manifestações artísticas, o que me leva a dizer que a arte não é um fim em si mesmo, mas é, definitivamente, o princípio de tudo.
A imagem foi roubada à Maria João Correia.

Adenda: Acrescento ao meu apontamento sobre a pintura/desenho de Stefano Vitale o comentário que deixei na página do Facebook da Maria João Correia, de onde retirei a imagem e onde esbocei, também na forma de um comentário, aquele apontamento. Uma posterior observação acertada da Maria João, sobre o significado dos dois planos da narrativa da imagem, obrigou a que aprofundasse a análise crítica.

Maria João: tem toda a razão. A linha que atravessa o rosto é a linha limite do horizonte visível, a linha onde se encontra a casa. E o rosto mais pequeno, que o autor intencionalmente encaixou no rosto da mãe, pertence a esse plano recuado, que poderá ser, para o autor, o passado – ou o da avó, como a Maria João sugere, ou o da própria mãe, quando criança, como eu inicialmente pensei. Em qualquer dos casos, pode interpretar-se que o autor pretendeu figurar e homenagear a maternidade, como matriz da sucessão geracional e como origem da nossa própria existência. É um hino à maternidade e à mulher, enquanto mãe.
Maria João, a arte está a operar, neste seu espaço e no meu, o milagre maravilhoso da descoberta, essa descoberta que nos aproxima tendencialmente do enigma da nossa própria existência, que, sabemos, nunca poderemos decifrar. É o que temos estado a fazer aqui, hoje. Ganhámos alguma coisa, pois embebedámos o espírito.
E só agora reparo que o autor marcou os dois planos da sua abordagem com diferentes cores, e que o rosto da mãe se reparte, conforme a cor, pelos dois planos, o do passado e o do presente, num aviso importante de que tudo o que façamos no presente e a olhar para o futuro (os filhos), não nos pode distrair nem desligar da origem de onde viemos.
A Arte continua a falar, Maria João, e agora a bebedeira já é azul, verde e castanha, tal como são as cores utilizadas pelo autor. E aqui está um caso exemplar de como, em Pintura, a forma se deve conjugar com a cor, numa unidade contextual perfeita, aqui em equilíbrio, mas que também pode ser em desequilíbrio, quando a genialidade de cada autor assim a conceber, já que se sabe que qualquer revolução na Arte é provocar um desequilíbrio violento contra o que já estabelecido (o caso de Picasso é paradigmático).
E agora, sim. A bebedeira é de tal tamanho, que já não me aguento de pé!...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Ballet: Danse des Heures...


danse des heures Liceu.avi
Amabilidade do Jorge Magalhães Ribeiro
**
  Os bailarinos Maria Letizia Giuliani (Scuola dell'infanzia de Roma) e Ángel Corella (espanhol, Diretor Artístico e dançarino principal do Balé Barcelona) dão um show de magnetismo, pureza e sincronismo. Estes, sem dúvida, são os dois maiores bailarinos da atualidade!

***
O Ballet, a dança que nasceu nas cortes renascentistas italianas do século XV, e que incorporou, na sua evolução conceptual e estética, os movimentos do romantismo, do expressionismo e do neoclassicismo, até chegar, na atualidade, aos padrões da dança moderna, é a arte da geometria do corpo, a viver da tensão de cada músculo, da expressão plástica de cada gesto, do rigor e do vórtice do movimento e da harmonia das sinuosas linhas desenhadas no espaço, numa sublimação que nos leva à perfeição dos deuses do Olimpo.
É a arte da exaltação do Belo, que me aparece sempre na forma corpórea de um poema, onde palavra se anula para que outras dimensões se afirmem na sua grandeza.
AC

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Poema: Já disse tantas vezes - de maria azenha

Maria Azenha - "Já disse tantas vezes"
Voz da autora

Já disse tantas vezes

Vieste ao meu quarto.
Os lençóis abertos, em flor, ainda brilham.
Aí desenhámos sonhos, naus, viagens,
olhos que desabaram em rosas e relógios maduros de ouro.
São como punhais em paredes de fogo, crescendo
pela ternura das estrelas, à noite.
O teu nome está na casa em cada esquina
onde viaja um peixe de prata,
Deus chama para dentro de uma caixa,
e arde no vidro onde te fechas.
As laranjas sobre a mesa vertem ouro líquido dos gomos.
Ao mar irei contigo por corredores de areia no outono.
Sou uma onda azul que vem e volta, em silêncio,
com as aves contentes em pleno voo

Quando a tarde se desmorona
no ponto mais alto das dunas,
leio alguns livros no teu corpo, na vigília das nuvens.
A casa é um jardim transparente onde habitas
com divindades e cisnes. E o sol vem para dentro
escutar a música do pátio,
enquanto bebes estrelas no poço do coração da noite.
Desde manhã que subiram as joias das romãs aos teus lábios
e este poema nasce e morre e ressuscita
na flor sacrificada do orvalho.

Já disse tantas vezes: amo-te.
E tu ficas como uma criança perdida…

maria azenha
Amabilidade da autora
http://blocorecensoes.blogspot.pt/search?q=J%C3%A1+disse+tantas+vezes

Citação de um poema de Maria Azenha e o anúncio de uma valiosa colaboração...


Por onde vou
sou um hóspede que aprende
a despedir-se
da escuridão dos livros.
Maria Azenha
Excerto de um poema

Maria Azenha é uma excelente “poeta” portuguesa, já com uma vasta obra publicada (quinze títulos), dispersa por várias editoras. O seu nome aparece também associado na colaboração de várias Antologias de Poesia.
Entre os vários prémios, que lhe foram atribuídos, destacam-se a Menção Honrosa do Prémio Eça de Queiroz e o 1º Prémio do Concurso de Literatura Portuguesa e Artes Plásticas “Os Descobrimentos Portugueses”.
Como registo curioso, anota-se o facto de Maria Azenha ser uma "poeta", vinda da área das matemáticas (é licenciada em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra), o que, não sendo inédito, é todavia raro. Isto vem confirmar um meu juízo, já formulado várias vezes, de que construir e resolver uma equação é também escrever um poema.
De uma grande sensibilidade, e refugiando-se no seu “sentir” mais íntimo, Maria Azenha, em cada poema, galvaniza e emociona o leitor, com a riqueza e a amplitude das suas metáforas, acordando as palavras do seu sono secular, para lhes acrescentar novos sentidos e ressonâncias e dilatando-lhes o seu significado.
O Alpendre da Lua, por gentil amabilidade da autora, vai publicar alguns dos seus poemas, acompanhados pela visualização de vídeos com as respetivas declamações.
Naturalmente, esta colaboração da “poeta” Maria Azenha é uma honra para o Alpendre da Lua e para o seu editor.
Alexandre de Castro

Agradecimento


O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento ao António Oliveira, pela sua decisão de se inscrever como amigo/seguidor deste blogue.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Notas do meu rodapé: Carta aos socialistas


Virar à esquerda

Devido à sua oportunidade no momento político presente, que está a assumir uma extrema gravidade para o país, deixo aqui o texto de um comentário que escrevi no Grupo do Facebook, "Movimento Republicano 5 de Outubro":

Carta aos socialistas
O problema do PS é apenas um problema de identificação com a palavra "socialismo". O que é o socialismo para o PS? Eu entendo que os militantes do PS são de uma importância fundamental para uma política de esquerda. Mas ser de esquerda (hoje, infelizmente, uma palavra ambígua e equívoca, tal é a profusão de ideários que dela se reclamam) não é certamente uma política que se limita a querer dar uns "retoques", como disse Seguro, no plano da Reforma do Estado do PSD, nem é, seguramente, não querer desvincular-se do Memorando da Troika, que foi concebido, e isto é inegável, numa perspetiva do mais puro e duro ideário do neoliberalismo (uma doutrina política e uma teoria económica que não tem nuances). E há uma contradição insanável, de forma, de conteúdo e de ideário, entre uma qualquer forma de socialismo e o neoliberalismo. Não pode haver um "socialismo neoliberalista", nem um "neoliberalismo socialista". E eu, que não estou a ser soprado ao ouvido por nenhuma voz de uma qualquer cassete partidária, desejo que o Partido Socialista Português seja um verdadeiro partido de esquerda, não para nele me filiar, mas para também com ele fazer uma ampla unidade de todos aqueles (e já são milhões) que querem romper com o neoliberalismo que domina a Europa, sob a batuta das instituições da UE. E, nesse sentido, a primeira coisa a fazer, e que será a primeira prova de fogo, é romper com a troika e com tudo o que ela significa e personifica.
Não queira António José Seguro ser o Hollande português. Não queiram os honrados militantes (os outros não) do PS deixar que isso aconteça. Será a desgraça de Portugal, pois fumar um Definitivos (Passos Coelho) ou um Português Suave (A.J. Seguro) é a mesma coisa. Ambos matam.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Notas do meu rodapé: As causas remotas da crise financeira internacional...


As causas remotas da crise financeira internacional

Qualquer acontecimento (na vida, na política, na economia e em tudo) tem causas e consequências. E a atual crise económica e financeira internacional também teve causas, as próximas (mais conhecidas) e as remotas (pouco divulgadas e pensadas), embora os corifeus do sistema tentem apresentá-la como se de um fatalismo se tratasse, imprevisível e inevitável, sem culpados e sem tratantes. E o excesso de liquidez, ocorrido a partir dos finais dos anos setenta, é uma das causas remotas da crise. Aquele aumento de liquidez resultou de vários fatores: da enorme acumulação de capitais nos bancos dos EUA, proporcionada pela remessa de avultados lucros proporcionados pela deslocalização das indústrias para a Ásia; da então recente formação dos off shore financeiros, em diversas partes do mundo, a fim de captar poupanças dos países menos desenvolvidos; da decisão unilateral da desvinculação do dólar do padrão ouro, para poder valorizar especulativamente aquela moeda; e, também, pelo facto dos pagamentos do petróleo a nível internacional começarem a ser feitos em dólares, por imposição dos EUA (houve, nesse sentido, uma negociação do governo dos EUA com a Arábia Saudita e com outros países árabes do Golfo).
Neste novo quadro, concebido pelos arquitetos do neoliberalismo, os EUA, cujo Tesouro saiu depauperado da guerra do Vietname, reforçaram a liderança económica e financeira a nível planetário, liderança essa que agora está a ser seriamente ameaçada pela ascensão meteórica e sustentada da fulgurante economia chinesa.
Para rentabilizar rapidamente o dinheiro, e uma vez que a economia, já amputada pelo efeito da deslocalização, não podia absorvê-lo na forma de créditos às empresas, os bancos americanos conceberam então a máquina financeira de multiplicar o dinheiro: o subprime. Iniciou-se um processo gigantesco de crédito fácil e de risco, às famílias, para a compra de casa própria. Os respetivos títulos, sem que os operadores se questionassem sobre o seu valor real, entraram no jogo da roleta da Bolsa de Valores, dando origem à economia de casino. Parecia que o mundo nunca iria acabar, pois todos ganhavam dinheiro a rodos, com destaque para os bancos e os seus acionistas, que trataram de colocar os seus dividendos em lugares seguros, não fosse o céu desabar. E tinha que desabar, pois toda aquela sumptuosa riqueza era falsa, uma vez que não tinha sustentabilidade na economia real.
E o que se seguiu, já é conhecido. Falência em cadeia do sistema financeiro americano, que foi salvo pelos impostos dos cidadãos, num processo injusto e escandaloso da socialização dos prejuízos. Os acionistas dos bancos, os verdadeiros donos do mundo, ganharam mais uma vez.
Como esta crise era estrutural e não conjuntural, e como a globalização aumentou a interdependência das economias mundiais, a Europa não poderia passar incólume ao seu efeito sistémico, principalmente os países periféricos, onde o subprime foi incrementado. No entanto, existe uma diferença entre o que aconteceu nos EUA e na Europa. Por um lado, a liquidez dos bancos europeus não atingiu o nível dos seus congéneres norte-americanos, que muito beneficiaram com a internacionalização do dólar. Por outro lado, a economia europeia começou a viver um processo económico autofágico, a viver para si própria (e este é o seu verdadeiro problema). Basta dizer que a Alemanha só exporta para o exterior do espaço europeu trinta por cento do total das suas exportações. Por outro lado, na Europa, a Alemanha e a França exportaram o subprime para os países periféricos, promovendo o endividamento agressivo desses países. Tal como aqui denunciámos (ver esta hiperligação), a Alemanha, num processo inédito de engenharia financeira, e violando o Tratado de Maastricht, emitiu uma quantidade enorme de dinheiro (marcos, depois convertidos em euros), que escondeu em depósitos bancários, tendo-o utilizado, posteriormente, para forçar subtilmente o endividamento de Portugal, Espanha e Grécia (a Itália defronta-se, principalmente, com o problema da dívida interna), países que agora se encontram submetidos, por imposição da Alemanha e de alguns países ricos da UE, a uma dura, penosa e asfixiante austeridade, cujo obejetivo declarado será a promoção da redução dos seus défices orçamentais, num horizonte temporal muito curto.

Adenda: Recebi do meu sobrinho, João de Castro Mota, a seguinte observação, que acrescento aqui:
"Deixe-me só acrescentar um elemento à sua análise: para além da criação das offshores, da queda do padrão ouro, e de todos os factores que menciona, tomei conhecimento de outro elemento no excelente livro http://www.webofdebt.com/. A reserva federal americana tem andado a suportar as bolsas de valores nos EUA. De todas as vezes que parece que vai haver um "crash" na bolsa de valores, isso nunca acontece (seriamente). Por exemplo, não aconteceu com os atentados de Londres ou das torres gémeas. Nessas alturas, a Reserva Federal cria dinheiro e envia-o para fora do país (de modo a parecer um investidor exterior) e compra acções nas bolsas, de modo a parecer que a confiança está em alta".

Humor: Ao que isto chegou!...

Recriação de um cartoon de Abel Manta

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

PSP diz uso de gás pimenta evitou ação "mais musculada"


O comando nacional da PSP admitiu a utilização de gás pimenta durante a intervenção policial numa manifestação de alunos em Braga, ação justificada para evitar uma operação "mais musculada".
Em causa está a intervenção realizada esta manhã por agentes da PSP durante um protesto na Escola Secundária Alberto Sampaio contra a criação de um mega-agrupamento.
Para evitar a necessidade de intervenção com bastões de ordem pública, foi utilizado por um polícia, gás pimenta para cessar os atos referidos", explicou a PSP.
Diário de Notícias
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Já nem as crianças são poupadas (tratava-se de jovens de treze e catorze anos)!
A tática do governo seguiu a seguinte metodologia: primeiro assustou os portugueses, depois tentou desmoralizá-los. Agora começa a bater-lhes. Passos Coelho pretende impor um pensamento único democrático, o seu. Também pretende um consenso alargado sobre a Reforma do Estado, desde que esse consenso seja a sua infalível proposta.
Este governo transformou-se numa praça financeira da UE e dos abutres da alta finança europeia. Passos Coelho não governa o país para o país. Governa o país para servir interesse estrangeiros. Para isso, começou a engrossar a voz e mandou a polícia a ser intolerante e brutal para quem se manifeste. Os jovens estudantes da Escola Secundária Alberto Sampaio foram as primeiras vítimas desta mudança de tática de Passos Coelho, tática esta apoiada nos bastões e no gás pimenta. 
Começou a fascização do regime. Talvez um regime democraticamente fascista.

Agradecimento


O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento à Fernanda Soares Costa e ao Fernando Branco, pela sua decisão de se inscreverem como amigos/seguidores deste blogue.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Passos Coelho promete um "alívio fiscal permanente" - Diário de Notícias


O primeiro-ministro promete um "alívio fiscal permanente" em troca do cumprimento do programa de corte de quatro mil milhões de euros na despesa pública.
Ninguém - afirmou ainda - tem o direito de se colocar de fora do consenso". E se não existir um "consenso alargado" haverá o "consenso imposto" pelos limites da Constituição da República. "Estamos condenados a ser bem sucedidos", disse.
O primeiro-ministro reconheceu, no entanto, que "o debate que se vai seguir será sempre influenciado pela nossa visão política e ideológica" porque "não pode deixar de ser assim".
Diário de Notícias
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Passos Coelho começou por cavalgar na mentira. Agora, a cavalgar numa mula branca, iniciou a seu percurso da chantagem e da ameaça, tendo até começado a engrossar a voz, tal como um arrieiro. Deixou escapar o tique de contornos ditatoriais e autoritários, ao falar de "consenso imposto" e de uma visão política e ideológica unilateral. O próprio incidente com os jornalistas, na conferência inaugural, do Palácio Foz, sobre a Reforma do Estado, foi intencionalmente provocado para intimidar os jornalistas, mostrando que o Governo poderá sempre recorrer a todos os meios para domesticar a irreverência e o atrevimento da imprensa hostil.
Ficou claro que este governo quer impor um pensamento democraticamente único. Também ficou claro que o governo pretende aniquilar os pilares sociais do Estado, sem se preocupar minimamente com os efeitos devastadores da sua política assassina.
http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=2997336&page=-1 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Notas do meu rodapé: A Alemanha emitiu “moeda falsa"


Amabilidade do João Grazina, (vídeo publicado no ARROIOS).
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A Alemanha emitiu “moeda falsa”
Faltava esta informação crucial, a da emissão de moeda falsa por parte da Alemanha e a sua posterior utilização em empréstimos internacionais, bem focalizados e bem calculados, em relação à garantia da sua rápida rentabilização, para compreender, na sua totalidade, o puzzle da armadilha da dívida, montada aos países periféricos da Europa, o que justificaria, só por si, como resposta, o seu não pagamento.
Com este hábil e manhoso estratagema, a Alemanha não cumpriu as normas estabelecidas no Tratado de Maastricht, que impedia os países signatários da adesão à moeda única de emitir mais moeda nacional, obrigando as respetivas economias a funcionar apenas com a massa monetária que já estava em circulação. O controlo destas normas, a cargo das instituições europeias, seria feito através do indicador da taxa de inflação, que aumentaria, caso houvesse emissão de mais moeda. Para esconder a fraude, e para evitar o efeito inflacionário induzido pela emissão de mais moeda, o banco central alemão fazia seguir diretamente o dinheiro da rotativa para os bancos comerciais, onde ficava sob a forma de depósitos, em nome do Estado, não o libertando para a economia real. Tratava-se, pois, de dinheiro falso, feito do nada, sem ter o seu valor facial ligado ao valor da economia, e que iria ser utilizado posteriormente na especulação monetária e imobiliária, através da formação das dívidas soberanas e das dívidas dos bancos dos países do sul da Europa.
Nunca foi tão fácil obter tanto dinheiro a tão baixo preço. Prometia-se o eldorado, à medida que os cogumelos imobiliários iam crescendo a granel, por toda a parte. A União Europeia, dominada pela Alemanha, fazia o seu papel, concebendo projetos nos seus programas de financiamento, o que obrigava os estados a recorrer aos empréstimos internacionais, para poderem suportar a comparticipação financeira, que lhes competia, das obras realizadas, umas úteis e necessárias, outra faraónicas e inúteis. É certo que as diferentes atividades ligadas à construção geraram a montante muitas indústrias e muitos postos de trabalho. Mas também é certo que, com a crise, todas essas atividades faliram, provocando desemprego e contribuindo para a diminuição do consumo interno, que por sua vez, em ondas sistémicas, foram contaminar outras atividades, o que prova que as políticas de crescimento têm de apostar em várias frentes da economia, o que não foi o caso. E a contaminação galgou fronteiras, com os países fornecedores de bens e serviços a Portugal a ressentirem-se, embora em pequena escala, com a diminuição das compras das empresas portuguesas.
Esse dinheiro, o dos empréstimos, que não teve suporte na economia real, gerou lucros fabulosos, em forma de juros, em toda a cadeia operacional por onde passava, enriquecendo, em primeiro lugar, a economia alemã, à custa da dívida dos países do sul.
A falta de prudência, nuns casos, e uma estreita conivência, noutros, levou os governos desses países a uma estreita cumplicidade colaboracionista com o capital financeiro, a fim de facilitar, ao nível das opções políticas, a aplicação desses empréstimos no setor produtivo de mais rápida reprodução do capital – a construção civil, que apenas gera bens finais não transacionáveis (*) (casas, obras públicas, etc.). Paralelamente, os bancos nacionais promoviam agressivamente o crédito às famílias, que se endividaram para a compra de casa própria para habitação. Em Portugal, os sucessivos governos, pressionados pelo capital financeiro, atuaram em consonância, aumentado a legião de devedores, ao não tomarem medidas de estímulo ao mercado de arrendamento, que só agora, esgotadas as fontes de crédito, irá ser implementado, com a aprovação da lei das rendas, lei esta que, injustamente, vai agravar dramaticamente, no que concerne às rendas antigas, a situação de milhares inquilinos idosos, a maioria deles a receber pensões inferiores ao salário mínimo nacional.
Com tal política e com tal negócio, montaram-se verdadeiros clusters financeiros, cuja matéria-prima foi a dívida, e que segue uma rota descendente, na escala de valor acrescentado, a começar no Estado alemão e a acabar no cliente final, que é quem acaba por pagar a fatura toda com os rendimentos do seu trabalho. Os bancos alemães, os governos e os bancos nacionais, as câmaras municipais, os donos dos terrenos urbanizáveis, as empresas imobiliárias e de construção civil e as empresas de bens intermédios obtiveram rendimentos desproporcionados com dinheiro artificial, obrigando agora as famílias a pagar esse desvario financeiro com dinheiro obtido na economia real, com o dinheiro proveniente dos salários, ou seja, o resultante do trabalho produtivo, que não é especulativo.
Como todos estes significativos recursos foram principalmente canalizados para estes setores, faltaram em muitos outros, nomeadamente no setor exportador de bens e serviços, desequilibrando assim a estrutura do produto (PIB) das economias dos países do sul, em que o consumo interno, intencionalmente induzido, se valorizou em relação aos outros fatores.
Durante uma dezena anos, o capitalismo financeiro alemão, com o dinheiro da rotativa, enriquecia à custa da bolha imobiliária que se foi formando em Portugal, na Grécia, na Irlanda e, principalmente, em Espanha. O esgotamento da capacidade de endividamento e o aumento do crédito mal parado ditou o fim do sistema baseado na dívida, com pesados custos para os devedores, que assim estão a pagar o risco que pertenceria aos credores, política esta só possível de executar com a cumplicidade existente entre os governos e o capital financeiro.

(*) Bens transaccionáveis são os bens e serviços que são passíveis de ser vendidos economicamente nos mercados internacionais.
Alexandre de Castro
2013 01 16


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Notas do meu rodapé: FMI é a guarda avançada do capitalismo

Imagem do blogue "desenvolturasedesacatos"
O relatório do FMI foi encomendado e não é um relatório técnico. É um programa político, cujo objetivo único é conseguir uma diminuição da despesa do Estado em quatro mil milhões de euros, sem tomar em linha de conta as consequências desastrosas ao nível da coesão social. Aplicado, tal como está prescrito, levaria à indigência extrema de mais de metade da população portuguesa. Estamos perante uma tentativa de assassinato político do país. O governo da traição está apostado, para poder satisfazer as prepotentes exigências do capitalismo financeiro, em destruir o mercado interno e em asfixiar os pilares socais do Estado, mostrando, ao mesmo tempo, uma grande insensibilidade social perante a descomunal taxa de desemprego, que as medidas recessivas iriam provocar.
O governo pretende construir um outro país, tomando por modelo a Botswana ou a Somália.

"Estou cansado" é a desculpa dos homens para a falta de interesse sexual - PÚBLICO


Estudo diz que mais de 10% dos homens portugueses diz ter falta de interesse sexual. A culpa é do cansaço, alega metade.
O cansaço e o stress profissional já não ficam à porta de casa e estão a afectar cada vez mais a vida sexual dos homens portugueses. De tal forma que estes dois factores foram apontados num estudo como as principais razões para a falta de interesse sexual dos inquiridos.
Os dados fazem parte do “Estudo transcultural sobre factores associados ao interesse sexual masculino”, que será apresentado nesta segunda-feira no ISPA - Instituto Universitário, em Lisboa, coordenado pela psicóloga clínica e investigadora Ana Carvalheira, em parceria com os investigadores Aleksandar Štulhofer, da Universidade de Zagreb, na Croácia, e Bente Træen, da Universidade de Olso, na Noruega.
PÚBLICO
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Não é nada o cansaço, a provocar a falta de interesse sexual. O problema é que o «tesão» já está a pagar imposto. A troika, no seu programa de ajustamento, quer também acabar com o mito do macho latino, ressuscitando um outro, que andava perdido, mas que é muito atrativo para os portugueses, o mito sebastianista. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Fármacos contra cancro restringidos nos hospitais


Infarmed nega, mas associações de doentes denunciam dificuldades no acesso a medicamentos de combate ao cancro, hepatite C e artrite reumatóide.
Segundo o Público, há doentes que veem negado o tratamento, outros que o recebem a conta-gotas ou fora do prazo. Médicos e associações dizem que o ministério não pode alegar desconhecimento.
Diário de Notícias, citando o PÚBLICO
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Este governo já tinha passado o limite da decência. Agora começa a pisar o caminho da ignomínia. Só falta, depois, consumar o crime. Paulo Macedo quer transformar os hospitais em campos de extermínio e reproduzir em Portugal um silencioso Holocausto. Tudo em nome da troika e escondendo-se atrás de um relatório suspeito, encomendado ao Conselho de Ética! 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Para avivar a memória dos distraídos!...


«A moeda única é um projecto ao serviço de um directório de grandes potências e de consolidação do poder das grandes transnacionais, na guerra com as economias americanas e asiáticas, por uma nova divisão internacional do trabalho e pela partilha dos mercados mundiais.
A moeda única é um projecto político que conduzirá a choques e a pressões a favor da construção de uma Europa federal, ao congelamento de salários, à liquidação de direitos, ao desmantelamento da segurança social e à desresponsabilização crescente das funções sociais do Estado.»
Carlos Carvalhas, Secretário-geral do PCP
«Interpelação do PCP sobre a Moeda Única», em 1997
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Palavras acertadas estas, as de Carlos Carvalhas. E agora mais verdadeiras do que nunca! Fazendo o papel daquela criança que veste o casaco do pai, os portugueses adotaram uma moeda claramente desajustada em relação ao valor e ao perfil da sua economia, e que fora desenhada para servir outros senhores. Além das entorses governativas, provocadas sucessivamente pelos governos do PSD e pelo PS, que se alternaram no poder, e do atavismo de uma classe empresarial ignorante e convencida, a quem sempre faltou visão estratégica, a entrada na moeda única foi a principal causa da atual crise económica e financeira do país. O euro veio a revelar-se o maior erro estratégico e estrutural de Portugal, na sua História Moderna e Contemporânea. Acabou por ser tão nefasta para a economia portuguesa, como foi a da opção pela Guerra Colonial, feita por Salazar.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CIP quer reduzir indemnizações para menos de 12 dias e adiamento do Fundo de Compensação


O representante da Confederação Empresarial de Portugal - CIP, Gregório Novo, defendeu hoje a redução das compensações por despedimento para um número inferior a 12 dias e reivindicou a criação do Fundo de Compensação apenas quando as empresas tiverem equilíbrio financeiro.
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Façam a vontade ao homem! Acabem com o pagamento das indemnizações por despedimento sem justa causa. Nem Salazar se atreveu a tanto!
Dando pequenos passos, como faz a raposa ao aproximar-se do galinheiro, o empresariado nacional vai conseguindo chegar à sua ambição de sempre: a desregulamentação integral da legislação laboral e, particularmente, a referente aos despedimentos, para assim, de uma forma fácil e sem riscos, poder obter, através da chantagem implícita sobre os salários, ganhos de produtividade à custa da redução dos custos unitários do trabalho, já que, devido à herança de um parasitismo asfixiante e do pernicioso protecionismo estatal, se mostra incapaz de desenvolver a economia, através da inovação, do conhecimento e do investimento, tal como acontece nas economias desenvolvidas.

Agradecimento


O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento ao António Vassalo, pela sua decisão de se inscrever como amigo/seguidor deste blogue.

Os chatos do Facebook...

Imagem retirada do Diário2

A caracterização dos perfis dos utilizadores do Facebook está sociologicamente correta, embora não seja exaustiva, pois apenas seriou os perfis dominantes, sendo isso o que interessa. Eu por mim, acrescentava o perfil dos "poetas", aqueles utilizadores que escrevem poemas de amor aos quadradinhos, com versos de pé quebrado, cheios de rimas.   

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

FOTOGRAFIA: Preto no branco - mr vadez

Autor: mr vadez

Um efeito estético bem conseguido, que não deixa o observador indiferente. O retrato do rosto humano é a prova de fogo de um qualquer fotógrafo, que queira fazer da fotografia uma arte nobre e sublime.
É preferencialmente, nesse espaço anatómico, que ele poderá traduzir em imagens, um mundo rico de expressões e de sentimentos. O rosto humano fala e a fotografia pode recriar, na sua linguagem específica, o sentido último dessa voz surda que emana de cada olhar e de cada ruga. Tal como na pintura.
Alexandre de Castro
2013 01 10

CARTAS DA REVOLUÇÃO: Um sonho não concretizado…


Um sonho não concretizado…

Querida amiga:
Acordei estremunhado, ao acabar de sair de um sonho (ou de um pesadelo, não sei bem). Um sonho de que me lembrei de partilhar contigo, que a esta hora já estás acordada. E foi um sonho que me deixou uma sensação amarga, muito estranha e difusa. Não foi de alegria nem de tristeza. Apenas sei que sinto algum desconforto, agora que estou a pensar nele, no meio do silêncio aterrador da noite. Também não sei se tive medo. Desassossego, sim. Fiquei, pelo menos, inquieto.
A voz off, que me sopra todos os sonhos, adquire sempre a identidade de alguém que me narra o próprio sonho. Aqui, seria possivelmente um jornalista televisivo a debitar uma notícia, dando-lhe algum dramatismo. E o caso não era para menos! A notícia referia que o país estava a começar a entrar num turbilhão político pré-revolucionário e anárquico. O Tribunal Constitucional tinha acabado de anunciar a inconstitucionalidade do Orçamento de Estado de 2013. Foi como se uma bomba tivesse caído em S. Bento. O ministro das Finanças demite-se e foge do país. Segue-se a demissão do ministro da Economia e dos Negócios Estrangeiros. Cavaco Silva chama Passos Coelho ao Palácio de Belém e, numa nota emanada da Presidência da República, apela à calma dos portugueses. Começam a chegar informações de que, no interior do país, as populações começaram a sair à rua, em protesto e a exigir eleições legislativas. Cavaco Silva pede ao Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas que ponha as tropas de prevenção. Este recusa cumprir a ordem, respondendo que a Segurança Pública não compete às Forças Armadas, mas sim às forças policiais. Cavaco Silva pensa demiti-lo, mas começam a chegar vozes dos quartéis a avisar que as Forças Armadas nunca irão atacar o povo. Passos Coelho também está a pensar em demitir-se.
E a voz off comenta: Cavaco Silva começa a sentir o peso da responsabilidade desta crise, por não ter atuado atempadamente, pedindo a fiscalização preventiva do Orçamento de Estado. Foi apanhado pela armadilha que ele próprio armou. Abstendo-se em tomar uma decisão frontal e clara, em relação à conformidade do Orçamento de Estado com a Constituição da República, julgou que iria passar incólume por esta crise, quando, na realidade, ele deverá vir a ser a sua principal vítima, entre os políticos. Talvez escolha a demissão, já que perdeu a legitimidade moral para desempenhar o cargo. Ele próprio, possivelmente, também já terá concluído não ter capacidade para controlar uma situação, a ameaçar entrar em roda livre a qualquer momento.
E acordei, levantando-me da cama de rompante, como se estivesse a fugir de alguma coisa.
E, agora, estou aqui a pensar seriamente neste sonho, a partilhá-lo contigo, e não sei se deva acreditar nele.
Uma coisa, no entanto, me chamou a atenção. No sonho, não aparece ninguém a querer liderar seja o que for, nem o descontentamento e a revolta, nem a reação contrária, a da repressão. Parece-me que o país se demitiu. E isto é preocupante! Resta a revolta popular, cuja dimensão o sonho não conseguiu avaliar.
Só me falta saber se este sonho foi sonhado por outros portugueses.
E vou regressar à cama, que estou com sono. Não sei, no entanto, se conseguirei adormecer. Ou sonhar novamente! Talvez contigo…
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RESPOSTA:

Querido amigo:
Não sei se o teu sonho/pesadelo foi sonho ou se foi antes uma premonição...
Acho que eu, com um sonho desses, ficaria assustada uma data de noites sem dormir, só para não voltar a sonhar.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Espetáculos eróticos devem pagar 5% de IVA, defende o Tribunal Administrativo Fiscal de Almada


Um salão erótico, como o que ocorreu em 2007, não deve pagar uma taxa de IVA de 21 por cento, como exigia a Administração Fiscal, mas a taxa mínima de cinco por cento, correspondente aos espetáculos de cariz erótico. A deliberação é do Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada.
O erotismo é um espetáculo e não uma obscenidade. A deliberação é do Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada e versa sobre o III Salão Internacional Erótico de Lisboa e a Feira Sexy07, em Portimão, ambas em 2007. Nas entradas, o imposto sobre o valor acrescentado (IVA) foi tributado a cinco por cento, com a Administração Fiscal a exigir, posteriormente, que a tributação fosse à taxa máxima (que era de 21 por cento) e a reclamar as verbas em falta e juros de mora.
João Miguel Ribeiro
ptjornal
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Estou de acordo com a histórica decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada. Na realidade, é necessário levantar o tesão dos portugueses...
http://www.ptjornal.com/2013010813210/geral/sociedade/espetaculos-eroticos-devem-pagar-5-de-iva-defende-o-tribunal-administrativo-fiscal-de-almada.html

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Notável escultura representando Nelson Mandela


A escultura, na sua estrutura, é constituída por 50 placas de aço com 10 metros de altura, cortadas a laser e inseridas na paisagem, representando o 50.º aniversário da captura e prisão de Nelson Mandela, em 6 de agosto de 1962, no próprio local onde tal sucedeu, e que lhe custaria 27 longos anos de cárcere.Num ponto específico de observação, a visão em perspetiva das colunas surpreende ao assumir a imagem de Nelson Mandela. O escultor é Marco Cianfanelli, de Joanesburgo, que estudou belas-artes em Wits.
João Fráguas
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Em Portimão, no jardim principal, no centro da cidade, encontra-se uma grande escultura dedicada ao escritor e antigo Presidente da República, Teixeira Gomes, em que o autor produz, através da rotação do ângulo de observação do espetador, o mesmo efeito visual conseguido pelo escultor Marco Cianfanelli, para a escultura de Nelson Mandela, com a diferença de que aquele efeito é conseguido numa placa acrílica, incrustada num grande e retangular bloco de pedra. Na altura, aquela peça escultória foi saudada pela crítica, que realçou a importante inovação estilística, introduzida na estatuária portuguesa, que, diga-se em abono da verdade, não é brilhante, salvo raras exceções.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Pontapés na Gramática!...


Banif vai usar dinheiro do Estado para comprar dívida pública
O Governo exigiu como condição de ajudar o Banif a recapitalizar-se que fossem extinguidas essas garantias, pelo que esses títulos serão devolvidos ao Estado.
Diário Económico
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Os erros gramaticais começam a não ser exceção na imprensa escrita portuguesa. Se ainda não se constituíram como regra, já começam, por outro lado, a ser irritantemente frequentes.
Há dias, denunciámos aqui um erro gramatical, relativo à confusão destas duas formas gramaticais distintas, «porque» e «por que», que surgiu num artigo do Jornal de Notícias. Hoje trazemos aqui a notícia de um outro erro gramatical, aparecido no Diário Económico, e que se relaciona com a confusão, muito generalizada, aliás, da utilização do particípio passado dos verbos com duas versões para aquela forma nominal, quando são conjugados com os verbos auxiliares ser/estar e ter/haver. 
O verbo extinguir, da terceira conjugação, apresenta duas formas para o particípio passado: a forma regular, «extinguido», que se formou por via popular, durante a evolução da língua, e que se conjuga com verbo auxiliar ter/haver, e a forma irregular «extinto», que é a forma erudita, vinda diretamente do latim, e que se conjuga com o verbo auxiliar ser/estar.
No artigo do Diário Económico, que aqui está em causa, deveria ter sido escrito "que fossem extintas" e não "que fossem extinguidas"
Existem, no entanto, algumas exceções a esta regra.
Eu não percebo a razão da elevada ocorrência deste erro gramatical, já que se trata de uma regra muito simples, de fácil memorização. Eu aprendi-a na minha 4ª classe, e é com tristeza que assisto ao seu constante atropelo na televisão, atropelo este até cometido por personalidades de elevada qualificação.
Talvez fosse interessante instituir o "Observatório dos erros gramaticais da Língua Portuguesa", a juntar às muitas dezenas de observatórios já existentes, e cuja utilidade ninguém percebe. 
http://economico.sapo.pt/noticias/banif-vai-usar-dinheiro-do-estado-para-comprar-divida-publica_159556.html
http://alpendredalua.blogspot.pt/2012/12/pontapes-na-gramatica.html

domingo, 6 de janeiro de 2013

O Problema em Portugal (e no Mundo)...


Amabilidade do João Fráguas, que enviou o vídeo.
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É necessário perceber esta verdade elementar: Os cidadãos têm toda a liberdade de escolher os políticos. Mas o que a maioria dos cidadãos não sabe é que está a eleger políticos, já escolhidos previamente pelo sistema capitalista.
É necessário perceber outra verdade elementar: Os cidadãos têm todo o direito de emitir as suas opiniões. Mas o que a maioria dos cidadãos não sabe é que as suas opiniões foram subtilmente modeladas e inculcadas na sociedade pelo sistema capitalista, através das bem oleadas máquinas institucionais (as instituições políticas, económicas  culturais, comunicacionais e religiosas). 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

"Quem vive do salário em Portugal paga todos os seus gastos sociais" Livro de Raquel Varela


Amabilidade do Olímpio Alegre Pinto, que enviou o vídeo.

Quem vive do salário em Portugal paga todos os seus gastos sociais
Livro “prova”, com números e factos, que o Estado social é auto-sustentado.
Num momento de crise económica, em que a preocupação com a dívida pública é crescente - e em que a mensagem parece ser a a impossibilidade de continuar a sustentar um Estado, apelidado de "gordo" -, há quem defenda que o Estado é auto-sustentado e que não está, por isso, na origem dos monstruosos défices orçamentais e da estagnação económica. "Quem vive do salário em Portugal paga todos os seus gastos sociais", afirma Raquel Varela, coordenadora do livro "Quem Paga o Estado Social em Portugal?" (Bertrand), obra que reúne ensaios de 18 especialistas de diferentes áreas e nacionalidades. "Este livro prova, com números e factos, que os trabalhadores portugueses contribuem para o Estado social com o necessário para pagar a sua saúde, educação, bem-estar e infraestruturas". Uma conclusão importante, que faz deste livro "uma obra a ler" independentemente da ideologia política do leitor e da simpatia, ou não, pelo neoliberalismo. A reter ainda que, e segundo a autora, "a massa salarial corresponde a 50% do PIB mas paga 75% dos impostos".
Mafalda Avelar
Diário Económico
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Eu tenho afirmado aqui, de uma forma recorrente, que o sistema capitalista internacional, principalmente o financeiro, está organizado no sentido de promover a transferência da riqueza dos países pobres e a dos menos ricos para os países mais ricos, e, dentro de cada país, para transferir rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital. Analisando as várias vertentes do processo económico, chego sempre a esta conclusão, que, para mim, já é axiomática.
Raquel Varela, agora de uma forma fundamentada e baseada num  louvável e apurado trabalho de análise estatística, vem desmontar esta monstruosa engrenagem do capitalismo, que só poucos sabem e entendem, de que só alguns suspeitam, mas que, infelizmente, muitos ignoram. A ligação íntima entre os poderes políticos, sustentados por um processo democrático viciado por uma alternância enganadora, e o poder económico e financeiro, que já está organizado à escala global para perpetuar o saque e a exploração do trabalho, passa despercebida à maioria da população, tal é o refinamento da arte do embuste, que se serve de uma comunicação social, que, embora livre, é fortemente condicionada nas  suas escolhas editoriais, as informativas e as opinativas.
Raquel Varela teve o mérito de nos vir explicar que são os rendimentos do trabalho dos portugueses que, através dos impostos, pagam as funções sociais do Estado, e que a dívida soberana que se foi formando, através da cumplicidade dos sucessivos governos do PSD e do PS (a tal ilusória alternância), resulta precisamente da transferência de dinheiros públicos, por processos ínvios, de uma grande opacidade, para os bancos e para as grandes empresas. 
É obrigatório ler o livro "Quem paga o Estado Social em Portugal?", da historiadora Raquel Varela.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

MENSAGEM DE RETRIBUIÇÃO AO PEDRO E À LAURA

A resposta de Pedro!...

Caro Pedro,
Antes de mais os meus sinceros agradecimentos pela amabilidade que tiveste em prescindir dos poucos momentos em que não tens que carregar o país às costas, para pensar um pouco em nós e nos nossos natais.
Retrataste com a clarividência de poucos a forma penosa como atravessamos esta quadra que deveria ser de alegria, amor e união. És de facto um ser iluminado e somos sem dúvida privilegiados em ter ao leme da nossa nau um ser humano de tão refinada cepa.
Gostava também de ser interlocutor de alguém que queria aproveitar o espírito de boa vontade que a quadra proporciona para te pedir sinceras desculpas…a minha mãe.A minha mãe é uma senhora de 70 anos, que usufruindo de uma escandalosa pensão de mil e poucos euros, se sente responsável pelo miserável natal de todos os seus concidadãos. Ela não consegue compreender onde falhou, mas está convicta de que o fez…doutra forma não terias afirmado o que afirmaste. Tentarei resumir o seu percurso de vida para que nos ajudes a identificar a mácula.
A minha mãe nasceu em Alcácer do Sal começou a trabalhar com 12 ou 13 anos…já não se recorda muito bem. Apanhava ganchos de cabelo num salão de cabeleireiro, e simultaneamente aprendia umas coisas deste ofício. Casou jovem e mudou-se para a cidade em busca de melhor vida. Sem opções de emprego a minha mãe nunca se acomodou e fazia alguns trabalhos de cabeleireira ao domicilio…nunca se queixou…foi mãe jovem e sempre achou que por esse facto era a mulher mais afortunada do mundo. Arranjou depois emprego num refeitório de uma grande fábrica. Nunca teve qualquer tipo de formação mas a cozinha era a sua grande paixão.
Depois de alguns anos no refeitório aventurou-se no seu grande sonho…ter um negócio próprio de restauração. Quis o destino que o sonho se concretizasse no ano de 1974…lembras-te 1974? O ano em que te tornaste livre? Tinhas o quê? 10 anos?Pois é…o sonho da minha mãe tem a idade da democracia.
O sonho nasceu pequeno, com pouco mais de 3 ou 4 colaboradoras. Com muita dificuldade, muito trabalho e muitas noites sem dormir foi crescendo e chegou a dar trabalho a mais de 20 pessoas. A minha mãe tem a 4ª classe.
Tu já criaste empregos Pedro? Quer dizer…criar mesmo…investir e arriscar o que é teu…telefonemas para o Relvas a pedir qualquer coisa para uma amiga da Laura não conta como criar emprego. A minha mãe criou…por isso ela não compreende muito bem onde errou. Tudo junto tem mais de 40 anos de descontos para a segurança social. Sempre descontou aquilo que a lei lhe exigia. A lei que tu e outros como tu…gente de tão abnegada dedicação, se entretém a escrever, reescrever, anular, modificar…enfim…trabalhos de outra grandeza que ela não compreende mas valoriza.
Pois como te digo, a minha mãe viu passar o verão quente, os tempos do desenvolvimento sem paralelo, o fechar de todas as fábricas da região, os tempos do oásis, as várias intervenções do FMI, as Expos, os Euros, do futebol e da finança…e passou por isto tudo sempre a trabalhar como se não houvesse amanhã. A pagar impostos todos os meses e todos os anos. IVA, IRC, IRS, IMI, pagamentos por conta, pagamentos especiais por conta, por ter um toldo, por ter a viatura decorada, por ter cão, de selo, de circulação, de radiodifusão…não falhando um único desconto para a sua reforma, não falhando um único imposto. E viu chegar as condicionantes da idade avançada sem lançar um queixume. E foi resolvendo todos os seus problemas de saúde que inexoravelmente foram surgindo, recorrendo a um seguro privado, tentando deixar para aqueles que realmente necessitam, o apoio da segurança social. Em mais de 40 anos de contribuição não teve um dia de baixa, não usufruiu de um cêntimo em subsídios de desemprego. E ela dá voltas e voltas à cabeça e não há forma de se recordar onde possa ter falhado. Mas certamente falhou…Por isso Pedro, quando eu lhe li a tua carinhosa mensagem, que certamente escreveste na companhia da Laura e com um cobertor a cobrir as vossas pernas para poupar no aquecimento, ela comoveu-se, e cheia de remorsos pediu-me que por esta via te endereçasse um sentido pedido de desculpas.
Pediu também para te dizer que se sente muito orgulhosa de com a redução da sua pensão poder contribuir para que a tua missão na terra seja coroada de sucesso.
És de facto único Pedro. A forma carinhosa como te referes aos sacrifícios que os outros estão fazer, faz-me acreditar que quase os sentes como teus. Sei que sofres por nós Pedro. Sei que cada emprego que se perde é uma chaga que se abre no teu corpo…é um sofrimento atroz que te é imposto…e tudo por culpa de quem? De gente como a minha pobre mãe que mesmo sem querer tem levado toda uma vida a delapidar o património que é de todos. Por isso se a conseguires ajudar a perceber onde errou ficar-te-ei eternamente agradecido. A minha mãe ainda é daquele tipo de pessoas que não suporta a ideia de estar a dever algo a alguém...ajuda-nos pois Pedro.
Aceita por favor, mais uma vez, em nome da minha mãe, sentidas desculpas. Ela diz que apesar de reformada e com menos saúde vai continuar a trabalhar para poder expiar o tanto mal que causou.
Continua Pedro..estás certamente no bom caminho, embora alguns milhões de ingratos não o consigam perceber.
Não te detenhas…os génios raramente são reconhecidos em vida.
Um grande abraço para ti.
Um grande beijo para a Laura.
Nuno Barradas
Amabilidade do Diamantino Silva e do Joaquim Pereira da Silva.
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Eu também estou com a intenção de escrever ao Pedro. No entanto, não vou seguir a linha de argumentação do Nuno Barradas. O que eu vou fazer é pedir ao Pedro que promova o meu despedimento, sem justa causa, da Segurança Social, e que me faça as contas. A Segurança Social devolve-me o dinheiro pago por mim e pelas empresas onde trabalhei, como contribuições, e desconta todas as prestações sociais que me foram pagas até aqui, ou seja, as pensões de reforma que já recebi, os subsídios das baixas por doença, e o subsídio de desemprego. Tudo isto, calculando o valor real, e não o valor nominal, de todas as prestações e de todas as contribuições, a partir do momento em que produziram efeito contabilístico, o que obriga a aplicar àquelas prestações e àquelas contribuições, em cada ano fiscal, a respetiva taxa de inflação (é o que os economistas designam por Paridade de Poder de Compra) .
Ah!... Já me esquecia!... Também quero a devolução dos dois subsídios que ele me ROUBOU em 2012.
Eu já fiz as contas por alto, e conclui que irei ganhar muito dinheiro, pois, além da enorme quantia a ser devolvida pela Segurança Social, que não será negligenciável, ainda vou beneficiar, no futuro, pelo facto de não auferir rendimentos, da isenção do IRS e das inconstitucionais taxas que o governo acrescentou àquele imposto.
E depois disto tudo, quero que o Pedro vá com a Laura "fazer meninos", lá para trás das fragas, em Vila Real, que é a terra onde ele foi parido.
Assinado,
Alexandre de Castro