Amabilidade do Olímpio Alegre Pinto, que enviou o vídeo.
Quem vive do salário em Portugal paga todos os seus gastos sociais
Livro “prova”, com números e factos, que o Estado social é auto-sustentado.
Num momento de crise económica, em que a preocupação com a dívida pública é crescente - e em que a mensagem parece ser a a impossibilidade de continuar a sustentar um Estado, apelidado de "gordo" -, há quem defenda que o Estado é auto-sustentado e que não está, por isso, na origem dos monstruosos défices orçamentais e da estagnação económica. "Quem vive do salário em Portugal paga todos os seus gastos sociais", afirma Raquel Varela, coordenadora do livro "Quem Paga o Estado Social em Portugal?" (Bertrand), obra que reúne ensaios de 18 especialistas de diferentes áreas e nacionalidades. "Este livro prova, com números e factos, que os trabalhadores portugueses contribuem para o Estado social com o necessário para pagar a sua saúde, educação, bem-estar e infraestruturas". Uma conclusão importante, que faz deste livro "uma obra a ler" independentemente da ideologia política do leitor e da simpatia, ou não, pelo neoliberalismo. A reter ainda que, e segundo a autora, "a massa salarial corresponde a 50% do PIB mas paga 75% dos impostos".
Mafalda Avelar
Diário Económico
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Eu tenho afirmado aqui, de uma forma recorrente, que o sistema capitalista internacional, principalmente o financeiro, está organizado no sentido de promover a transferência da riqueza dos países pobres e a dos menos ricos para os países mais ricos, e, dentro de cada país, para transferir rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital. Analisando as várias vertentes do processo económico, chego sempre a esta conclusão, que, para mim, já é axiomática.
Raquel Varela, agora de uma forma fundamentada e baseada num louvável e apurado trabalho de análise estatística, vem desmontar esta monstruosa engrenagem do capitalismo, que só poucos sabem e entendem, de que só alguns suspeitam, mas que, infelizmente, muitos ignoram. A ligação íntima entre os poderes políticos, sustentados por um processo democrático viciado por uma alternância enganadora, e o poder económico e financeiro, que já está organizado à escala global para perpetuar o saque e a exploração do trabalho, passa despercebida à maioria da população, tal é o refinamento da arte do embuste, que se serve de uma comunicação social, que, embora livre, é fortemente condicionada nas suas escolhas editoriais, as informativas e as opinativas.
Raquel Varela teve o mérito de nos vir explicar que são os rendimentos do trabalho dos portugueses que, através dos impostos, pagam as funções sociais do Estado, e que a dívida soberana que se foi formando, através da cumplicidade dos sucessivos governos do PSD e do PS (a tal ilusória alternância), resulta precisamente da transferência de dinheiros públicos, por processos ínvios, de uma grande opacidade, para os bancos e para as grandes empresas.
É obrigatório ler o livro "Quem paga o Estado Social em Portugal?", da historiadora Raquel Varela.