Voz da autora
há fotografias como punhais
há fotografias como punhais. e poemas também.
todos os poemas que escreverei já foram escritos
dou-me apenas ao ofício das trevas
de os revelar em pedaços de argila
neles todos estão impressos a chuva e o vento
e as folhas noviças dos séculos e
meu pai e minha mãe que já partiram
esvoaçando num passado remoto
e também a rapariga feia e bela desfigurada pela varíola
que nunca fora amada porque não era bela
e que numa noite na taberna de Vladivostoque
se ofereceu derradeiramente a Joseph Kessel
talvez pouca gente saiba deste verso
que nunca terá sido dito deste modo
e foi acontecido durante a guerra sino-japonesa
quase ninguém esteve lá para o ver
mas eu estive. trouxe -o comigo.
é exatamente por esta razão que os meus poemas
já foram todos escritos.
são como chagas alastrando e crescendo em searas de fogo
estando entre a terra e as estrelas.
sei apesar de tudo porque li Juan Gelman
que cada lágrima é um problema insolúvel
Maria Azenha
Nota: A amável e honrosa colaboração no Alpendre da Lua, da "poeta" Maria Azenha, ocorrerá, periodicamente, às quintas-feiras.
http://alpendredalua.blogspot.pt/2013/01/citacao-de-um-poema-de-maria-azenha-e-o.html
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