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quarta-feira, 28 de junho de 2017

A propósito de uma Petição A Favor da Redução do Número de Deputados na Assembleia da República de 230 para 180


A propósito de uma Petição A Favor da Redução do Número de Deputados na Assembleia da República de 230 para 180

Desculpem-me todos os peticionários, apesar de todas as razões que possam invocar, eu penso que esta iniciativa é um perfeito faits divers, totalmente inócuo e vazio, no ponto de vista político. Fosse este um problema do país, que se resolveria facilmente. O desenvolvimento de um país não depende da dimensão numérica dos deputados do seu parlamento. Há países, mais desenvolvidos do que Portugal, que têm um maior número de deputados. As imagens da televisão apenas nos mostram um parlamento, em que a maioria de deputados parece que está a fazer figura de corpo presente. Mas não é assim. Há muito trabalho de gabinete a fazer. Cada deputado, de cada bancada, tem tarefas distribuídas, para cada sector da actividade do governo, e que vai desde compilação de legislação, pesquisa de elementos estatísticas para sustentar projectos partidários de decretos-lei, até ao estudo das propostas dos outros grupos parlamentares. etc.
Não queiram matar um dos pilares importantes da democracia.
Alexandre de Castro
2016 06 28

domingo, 25 de junho de 2017

Ode às vítimas dos incêndios…


Ode às vítimas dos incêndios…

Guardarei um punhado daquela terra queimada
num lugar sagrado da minha memória dorida
onde se ouvem os gritos incendiados pelo fogo
e os ecos do estertor da morte.
E as cinzas das árvores e das vidas perdidas
naquele incêndio que não tinha fim
ficarão para sempre sepultadas
no coração do meu jardim...

Alexandre de Castro

Junho de 2017

Nota: o meu contributo para a página do movimento “um activismo por dia”.
2017 06 25

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A culpa já vem de longe…


A culpa já vem de longe…

Em relação a estes trágicos incêndios, que enlutaram o país, pode ter havido, pontualmente, culpados institucionais e singulares, por negligência, desleixo, descuido ou incompetência. Mas a grande culpa tem de ser encontrada a montante. E essa grande culpa é política e tem de ser encontrada em todos os governos anteriores, que menosprezaram a defesa da floresta e que tomaram opções erradas (e algumas a levantarem muitas suspeitas de favorecimento pessoal), em relação à prevenção e ao combate dos incêndios florestais e em relação à elaboração de um plano nacional, integrado e coerente, da gestão da floresta.
Pior do que a anarquia do ordenamento das florestas, só a tragédia endémica dos seus incêndios. E é por aqui que o problema tem de ser equacionado. Caso contrário, tudo se vai repetir, ciclicamente, todos os anos, com mais ou menos tragédias.
Alexandre de Castro
2017 06 22

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Já não posso... Poema de Sónia M


Já não posso...

Já não posso esconder-me no escuro
como quando era menina.
Envolveu-me a cor que me deste,
no dia em que nossos poemas se fundiram.
Agora, mesmo de olhos fechados
trago esse azul profundo, agarrado à retina.
E nem as palavras que sussurrava ao vento,
já caem desamparadas no vazio.
Sei que as ouves quando as corriges
e me obrigas a reescrevê-las,
fazendo-as, tanto tuas como minhas.
Foram muitos, tantos...
os nomes que me ensinaste!
Com eles derrubei algumas pedras deste muro
Fascinada pela grandeza que me inventaste.
Não! Já nada será como dantes.
Porque agora a minha noite...não é mais escura.

(Terá sempre o brilho azul da tua luz)

Sónia M.

**
Nota: O intimismo é a principal linha de força da poesia de Sónia M. Um intimismo emotivamente doloroso e triste, que percorre os trilhos da saudade, dos amores impossíveis e de toda uma galeria de partidas e chegadas, sempre marcadas por um dramatismo intenso e comovente. E o poema, onde melhor se enlaçam a saudade e a tristeza, é o que se intitula "Despedidas", que a "poeta" escreveu em "Notas do meu diário".
Neste poema, "Já não posso", escrito em 2012, em que a "poeta" se socorre de um diálogo com um hipotético interlocutor, que lhe apontou a luz do caminho e a grandeza do talento, a melodia triste não a abandona, embora das palavras se solte um grito contido de afirmação e de redenção, "Porque agora a minha noite...não é mais escura".
Já nada será como dantes, principalmente aquele fulgor do primeiro instante.
2017 06 22

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Arte na praia _ de Milú Cardoso


Um ramo de uma árvore devolvido pelo mar à sua origem, para ser captado, de forma magistral, pela objectiva certeira da Milú Cardoso, de quem, aqui, já publiquei três fotografias de elevada qualidade técnica e artística. Aqui, em a "Arte na praia", vale o sentido de oportunidade e, a confundir o observador, o efeito do enquadramento da imagem, que leva a pensar tratar-se de uma obra de escultura.
Alexandre de Castro
2017 06 21

domingo, 18 de junho de 2017

O fogo do nosso descontentamento e da nossa revolta



O fogo do nosso descontentamento e da nossa revolta…

Ainda estou sob o efeito do espanto sentido e da dor sofrida. Como é possível acontecer uma tragédia desta dimensão, que deixa o país suspenso na dúvida se Portugal não é já a imagem do inferno, quando todos andaram a apregoar que o nosso destino era o céu? E digo isto, porque esta calamidade, além das causas estratégicas erradas, que estão a ser seguidas, em relação à prevenção e ao combate aos incêndios na floresta portuguesa, também entronca na esfera da acção política de todos os governos anteriores, que consideraram desde sempre o interior rural como as portas do quintal das traseiras do país. Perante o desgaste etário da desertificação humana do interior, que se iniciou na década de sessenta, do século passado, e que prosseguiu até à actualidade, devido à falta de oportunidades para os jovens, os sucessivos governos privilegiaram a cidade e ignoraram o campo, valorizaram o litoral e esqueceram-se do interior. E no interior, perante o esgotamento da agricultura do minifúndio, o mato foi crescendo, constituindo-se num barril de pólvora, que incendeia a floresta todos os anos, no pico do Verão, alarmando as populações indefesas. E as chamas tanto podem ser provocadas por um raio, vindo do céu, como por uma ponta de cigarro mal apagada ou por um fósforo, activado por uma mão criminosa.
O actual governo, ao mesmo tempo que deve dar prioridade à prevenção dos incêndios florestais, que praticamente não existe, e não ignorando, todavia, o reforço dos respectivos meios para o seu combate, deve também desenhar e activar o desenvolvimento económico do interior rural do país, promovendo a fixação dos jovens e invertendo assim o ciclo da desertificação humana.
Alexandre de Castro

Ver também aqui
2017 06 18

domingo, 11 de junho de 2017

Guarda Costeira Europeia: um novo passo no ataque à soberania


A constituição da Guarda Costeira Europeia, mesmo admitindo que aqui e ali serão burilados alguns «bicos» para amenizar as criticas, constituirá um passo que entrará, mais cedo do que tarde, pela plataforma continental portuguesa.
***«»***

Eu já escrevi por aqui que Angela Merkel tem um olho apontado para Zona Exclusiva Económica (ZEE), de Portugal, a mais extensa do mundo e que possui uma riqueza de recursos naturais, que Portugal, por desleixo, incompetência ou inércia, não quer, não pode ou não sabe explorar. Minérios e petróleo jazem esquecidos no fundo do oceano, e, além disto, a importância estratégica, que a ZEE nacional potencialmente possui, é de valorizar. Alguém dizia, há dias, que, se Portugal explorasse a sua ZEE, poderia ser um dos países mais ricos do mundo. Mas os nossos governantes andaram (e ainda andam) deslumbrados com o canto de sereia da Europa Unida, e vão, em Bruxelas, assinando tudo que vai hipotecar a nossa soberania, no futuro próximo, assumindo  aquela "parola" postura de que Portugal tem de ser o melhor aluno da Europa.
Eu lancei aqui um aviso, em relação ao perigo de Portugal perder a soberania sobre a sua ZEE, quando Angela Merkel, há uns meses, afirmou que a gestão dos mares dos países europeus deveria ser centralizada na Comissão Europeia. E os políticos do nosso descontentamento e os comentadores dos jornais e das televisões calaram-se, numa manobra suja de submissão ao que diz a czarina da Europa, Angela Merkel, para quem a UE é o instrumento fundamental para sustentar o poderio económico e político da Alemanha.
A criação de uma Guarda Costeira Europeia é o primeiro passo na estratégia de retirar a Portugal a gestão sobre o seu mar.
A tentação federalista está a caminho, por etapas cautelosas, para não levantar alarmes. Mas o saque vai continuar.
Alexandre de Castro

2017 06 11

terça-feira, 6 de junho de 2017

Porque é difícil unir a Europa?


Porque é difícil unir a Europa?

Historicamente e sociologicamente, a Europa é diferente dos EUA. A Europa passou pela "idade imperial" de Roma, pela fase senhorial da Idade Média, pela Revolução burguesa francesa, pela fase da industrialização inglesa e, transversalmente, pelo colonialismo de Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Bélgica. A História dos EUA é recente, e começa com a emigração massiva dos europeus mais pobres e com a matança dos índios, dos quais só restam alguns, nas reservas, para exibir aos turistas, Quando declarou a sua independência, já havia um sentimento nacional muito forte, que unia os descendentes imigrados, que, rapidamente, esqueceram a sua origem europeia.

As várias guerras entre os vários países da Europa, desde a Idade Média, criaram um sentimento nacional em cada povo, que ainda se mantém muito forte. E, actualmente, esse sentimento nacionalista está a emergir novamente, porque a UE e o Eurogrupo não são mais do que um sofisticado processo para que a Alemanha domine economicamente, por meios pacíficos, os outros países. Agora, e depois da sonegação da soberania monetária, cambial e financeira, a Alemanha já está a querer retirar, aos governos dos outros países, a sua soberania orçamental. Perante estes garrotes, a tendência dos povos irá ser centrífuga e não centrípta, como os europeístas gostariam. A Europa é um continente de nacionalidades, que nem Napoleão nem Hitler conseguiram dominar pelas armas.Tentar criar uma Europa Federal é uma verdadeira aberração, que a memória histórica sempre rejeitou e continuará a rejeitar.
Alexandre de Castro
2017 06 06

sábado, 3 de junho de 2017

PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA – 2017 _ Referência ao livro “ A Casa de ler no escuro” de Maria Azenha


PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA – 2017

(obra finalista)

Referência ao livro “ A Casa de ler no escuro” de Maria Azenha
Por João Guisan – Professor – Galiza

Como já sabem aqueles que assistiram à anterior entrega dos prémios Glória de Sant’Anna, na hora de determinar os poemas que vou ler, o meu primeiro critério de escolha é sempre o mesmo: de todos o mais curto (neste caso, os mais curtos). Não é apenas por preguiça. É que eu acho que toda a poesia, ou pelo menos a boa poesia, tem qualquer coisa de “podasia”, que, segundo constará dos dicionários de um futuro não muito longínquo, é a «arte mista de “poda” e “poesia” que consiste em podar um discurso até o deixar reduzido a uma parte tão essencial que não pode ser compreendido da primeira vez». Porque a “podasia”, com efeito, espreme todo o sumo poético de um texto, mas a custo de o deixar desprovido de sentido. Pelo menos de “sentido ao primeiro olhar”. Tomemos, por exemplo, um sisudo tratado sobre a pesca do bacalhau na Terra Nova de 500 páginas. Comecemos por “podar”, como quem não quer a coisa, 499 delas, e, não nos conformando com isso, dessa única página restante deixemos apenas umas poucas linhas, e mesmo a essas poucas linhas vamos podar-lhes a maior parte do seu comprimento, até obtermos qualquer coisa como: «No beliche o músculo O peixe no porão Os sonhos a bordo Esticam-se aos quilómetros Perdão: às milhas náuticas». Teremos conseguido que aquele longo estudo, por podas sucessivas, destile, no extremo das linhas decepadas, uma poucas gotas de seiva com algum cheiro de poesia, quer dizer de “podasia”. Talvez não vamos tirar daí muitos dados sobre a pescaria do bacalhau na Terra Nova, mas compreenderemos por fim o verdadeiro sentido e funcionamento da “Podasia”. A “podasia” exige do leitor o que a poda exige do Sol, da terra, a chuva e as sazões: que reconstrua toda a ramada antes cortada. Com o senão de ela já não poder ser mais igual à original, mas talvez muito mais viçosa. É isso que vos peço que façam com estes dois brevíssimos poemas da Maria Azenha que vou ler. Se quando eu tiver pronunciado a última das sílabas do último dos versos, vocês acharem que chegou o ponto final, que o poema já acabou… Se não perceberem nesta reverberação de capela uma convite às reticências… É um sintoma de que, ou eu li pessimamente, ou vocês padecem da maior e pior das surdezes, que é a incapacidade para ouvir o silêncio. Consultem urgentemente os vossos otorrinolaringolocardiologistas, que nos dicionários do futuro serão os «especialistas nas ressonâncias que os sons emitidos pela garganta e percebidos pelos ouvidos, produzem nas ondas que registam os electrocardiogramas».

POEMAS DE MARIA AZENHA: “AVISO” E “A LOUCURA”

Aviso

A vida pode ser uma mulher atravessando a rua
A mulher pode ser uma criança com uma flor de cinzas na boca
A flor pode ser um homem enforcado na lua


A loucura

! A loucura parece-se com Deus.
Não a temas.
Verás que é boa e não arruína a garganta
como a voz humana!

In No Tempo dos Espelhos

***«»***
O meu comentário:

Aprendi muito, ao ler o texto do Professor João Guisan. E, agora, também eu posso dizer: é através da “podasia” (um seu inédito e original conceito) que os grandes poetas escrevem grandes poemas. É o caso dos poemas “Aviso” e “A loucura”, da “poeta” Maria Azenha.
E, nestes dois poemas (permita-se-me este meu acervo crítico), Maria Azenha evidencia toda a sua enorme capacidade em proceder à “síntese poética da Ideia”.
Alexandre de Castro
2017 06 03

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Armando Silva Carvalho (poeta) _ 28 MAR 1938 _ 01 JUN 2017

Imagem retirada do blogue “Voar fora da asa”

Mais um poeta da nossa modernidade, que nos deixa órfãos...
AC
2017 06 01

O que é que falta para federar a Europa?

 

Comissão sugere que cargo de presidente
do Eurogrupo passe a ser permanente

A Comissão Europeia sugeriu esta quarta-feira quer institucionalizar o Eurogrupo e sugere a criação de um posto de presidente em permanência, ao contrário da rotatividade atual decidida pelos ministros, que, a partir de 2019, podia também assumir no futuro a liderança de uma espécie de Ministério das Finanças da zona euro.
Na documento publicado hoje com a reflexão sobre o aprofundamento da União Económica e Monetária até 2025, a Comissão sugere dar poder de decisão ao Eurogrupo, atualmente um grupo informal, o que, por sua vez, “justificaria a nomeação de um presidente a tempo inteiro”.
No longo prazo, com o alargamento da zona euro – que a Comissão também defende que deve continuar a acontecer até chegar a todos os membros da UE – o Eurogrupo poderia passar a ter a mesma configuração que o Conselho da União Europeia, onde normalmente são ratificadas as decisões acordadas pelo Eurogrupo.
A sugestão para as mudanças no Eurogrupo não se ficam por aqui. A Comissão defende uma ideia, já antiga, de vir a ser criado uma espécie de Ministério das Finanças da zona euro, para melhor integrar também na vertente orçamental os países do euro. Esse Ministério poderia passar a assumir um papel atualmente assumido pela Comissão Europeia, o da supervisão orçamental e a gestão da estabilidade macroeconómica na zona euro.
***

O que é que falta para federar a Europa?

O que é que falta para federar a Europa, perdendo, os respectivos países, a sua soberania, que passava para Berlim, por mediação de Bruxelas?
A Alemanha elevou-se a grande potência económica - através dos vários mecanismos de troca desigual, facilitados pelas instituições europeias, que lhe obedecem inteiramente - à custa dos restantes países europeus, principalmente os do sul. E, agora, pretende avançar em força, com uma política de mais inclusão - um eufemismo que transporta ocultamente uma ideia federalista - a fim de poder competir com o mundo anglo-saxónico, liderado pelos EUA.. Tal como aconteceu até ao momento, a factura deste ambicioso projecto será paga por todos os países da UE, mas os lucros, na sua maior parte, ficarão em Berlim.
Alexandre de Castro
2017 06 01