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terça-feira, 27 de abril de 2021

Guernica


A célebre pintura de Picasso
 

Guernica

 

 O dedo negro e adunco da facínora mão

traçou num sujo mapa as coordenadas da morte...

Condenou um povo à sua sorte!...

 

E a Besta, na espessura grotesca do seu porte,

escoucinhou o ar,

espumando baba, sangue e raiva,

e, decretando a celerada lei

pela Humanidade proscrita,

deu um berro descomunal

e disse:

- Matai a Liberdade!... Aqui!... Em Guernica!...

 

A Besta hedionda,

fúria encastelada de ventos mortais,

vomitando fogo, ferro e aço,

espectro gigante de asas negras esvoaçando,

riscou, sinistra, o espaço...

 

No céu azul daquela tarde adormecida

a aventesma apareceu...

Um povo do mundo ignorado,

desassossegado e aflito,

de medo e espanto trespassado,

morreu!...

 

Debaixo dos escombros sucumbiu...

Sepultado nas crateras que o fogo abriu...

 

Alexandre de Castro

 

Lisboa, Fevereiro de 1985

 

 

Registado: IGAC/MC- 5467/2004

 

Publicado na Seara Nova (Nº 10 FEV)