Guernica
O dedo negro e adunco da facínora mão
traçou
num sujo mapa as coordenadas da morte...
Condenou
um povo à sua sorte!...
E
a Besta, na espessura grotesca do seu porte,
escoucinhou
o ar,
espumando
baba, sangue e raiva,
e,
decretando a celerada lei
pela
Humanidade proscrita,
deu
um berro descomunal
e
disse:
-
Matai a Liberdade!... Aqui!... Em Guernica!...
A
Besta hedionda,
fúria
encastelada de ventos mortais,
vomitando
fogo, ferro e aço,
espectro
gigante de asas negras esvoaçando,
riscou,
sinistra, o espaço...
No
céu azul daquela tarde adormecida
a
aventesma apareceu...
Um
povo do mundo ignorado,
desassossegado
e aflito,
de
medo e espanto trespassado,
morreu!...
Debaixo
dos escombros sucumbiu...
Sepultado
nas crateras que o fogo abriu...
Lisboa,
Fevereiro de 1985
Registado:
IGAC/MC- 5467/2004
Publicado na Seara Nova (Nº 10 FEV)
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