Páginas

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

SÓ FALTA CHAMAREM-NOS PARVOS!*

Clicar duas vezes para ampliar a imagem

SÓ FALTA CHAMAREM-NOS PARVOS!
Aí está uma descoberta do Passos Coelho que até lhe pode dar o Nobel da Matemática**; descobriu a maneira de alguns não fazerem parte do todo. Basta chamarem abono suplementar ao que dantes se chamava Subsidio de Férias ou de Natal e os "boys" não necessitam de perder as mordomias como acontece com os cidadãos a quem trata como idiotas. E, enquanto não mostrarem a sua indignação e correrem com esta escumalha que mente e engana, carregando de sacrifícios os que menos têm enquanto "apaparica" os seus amigos, acabam por ser realmente idiotas aos olhos dos bandalhos que nos governam. De que estão à espera ainda não entendi.
*  Texto de autor desconhecido, que corre na internet e que foi recebido por email.
** Não existe o Prémio Nobel da Matemática.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ana Drago não teve papas na língua...

"PSD criou a geração mais precária e agora tira direitos às gerações mais velhas"
Amabilidade do João Grazina
***
Ana Drago não teve papas na língua. Chamou os bois pelos nomes, arrasou um insignificante deputado do PSD, que ainda julga que os ricos não são mais ricos por causa dos pobres e que os problemas dos jovens de hoje são da responsabilidade das gerações mais velhas. Um deputado que arrota discursos descabidos e indigentes, que provocam o vómito, e cuja moral está ao nível do lixo da sarjeta.
Ana Drago demonstrou que não pode haver paninhos quentes, nem salamaleques e que, no parlamento, também é preciso partir a louça.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Feriado do 5 de Outubro: carta ao primeiro-ministro da Associação Ateísta Portuguesa


Exmo. Senhor
Dr. Pedro Passos Coelho
Primeiro-ministro de Portugal
Senhor primeiro-ministro Pedro Passos Coelho:

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) ficou perplexa com a ameaça do Governo de, após várias tergiversações, regressar à proposta da eliminação do dia 5 de Outubro como feriado nacional.
Tão grave como o atentado à memória histórica da matriz do nosso regime é a cedência de um estado constitucionalmente laico à chantagem eclesiástica da religião particular que a democracia tem injustamente cumulado de privilégios.
Não foi na defesa dos trabalhadores que a Igreja católica exerceu a chantagem, foi na manutenção de um feriado que assinala a improvável Assunção de Nossa Senhora ao Céu, evento de que se desconhece a data, o itinerário e o meio de transporte.
A direção da AAP, certa de interpretar o sentir das centenas dos seus sócios e de muitos portugueses (céticos, agnósticos, livres-pensadores, crentes de várias religiões e, até de católicos a quem repugna ver Portugal transformado num protetorado do Vaticano), repudia a ingerência clerical na política do Estado português bem como a cedência deste à arrogância da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Assim, a AAP apela ao Governo para que reconsidere o ato de genuflexão perante a CEP, ato incompatível com a natureza laica do Estado.
Certa de que o bom senso imperará, a AAP aguarda que o sentido de Estado de V. Ex.ª se sobreponha à beata cedência ao proselitismo religioso e que a paz religiosa não seja perturbada pela a humilhação do Estado de Direito.
Confiando na manutenção do feriado de 5 de Outubro e na perpetuação da homenagem aos heróis da Rotunda,
Apresentamos os nossos cumprimentos.
Direcção da Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 27 de Janeiro de 2012

Micro contos: Sem título

Farta de toda aquela homogeneidade, despiu-se e caminhou nua pelas ruas da cidade. Entre olhares de censura e de espanto, um homem de figura esguia ofereceu-lhe um jornal e um olhar reconfortante. Sorrindo, pegou no papel tisnado por notícias feias e fez um lindo vestido. Deu um beijo na testa do homem e este começou a chorar. Ela secou-lhe as lágrimas com uma folha que dizia que no dia seguinte o sol iria brilhar num céu sem nuvens.
Micro Contos

Qual é o teu valor de mercado, mãe? - por Francisco Queirós

Eduardo Catroga vale 639 mil euros

“Qual é o teu valor de mercado, mãe? Desculpa escrever-te uma pequena carta, mas estou tão confuso que pensei que escrevendo me explicava melhor.
Vi ontem na televisão um senhor de cabelos brancos, julgo que se chama Catroga, a explicar que vai ter um ordenado de 639 mil euros por ano na EDP, aquela empresa que dava muito dinheiro ao Estado e que o governo ofereceu aos chineses.
Pus-me a fazer contas e percebi que o senhor vai ganhar 1750 euros por dia. E depois ouvi o que ele disse na televisão. Vai ganhar muito dinheiro porque tem o seu valor de mercado, tal como o Cristiano Ronaldo. Foi então que fiquei a pensar. Qual é o teu valor de mercado, mãe?
Tu acordas todos os dias por volta das seis e meia da manhã, antes de saíres de casa ainda preparas os nossos almoços, passas a ferro, arrumas a casa, depois sais para o trabalho e demoras uma hora em transportes, entra e sai do comboio, entra e sai do autocarro, por fim lá chegas e trabalhas 8 horas, com mais meia hora agora, já é noite quando regressas a casa e fazes o jantar, arrumas a casa e ainda fazes mil e uma coisas até te deitares quando já eu estou há muito tempo a dormir.
O teu ordenado mensal, contaste-me tu, é pouco mais de metade do que aquele senhor de cabelos brancos ganha num só dia. Afinal mãe qual é o teu valor de mercado? E qual é o valor de mercado do avozinho? Começou a trabalhar com catorze anos, trabalhou quase sessenta anos e tem uma reforma de quinhentos euros, muito boa, diz ele, se comparada com a da maioria dos portugueses. Qual é o valor de mercado do avô, mãe? E qual é o valor de mercado desses portugueses todos que ainda recebem menos que o avô? Qual é o valor de mercado da vizinha do andar de cima que trabalha numa empresa de limpezas?
Ontem à tardinha ela estava a conversar com a vizinha do terceiro esquerdo e dizia que tem dias de trabalhar catorze horas, que não almoça por falta de tempo, que costumava comer um iogurte no autocarro mas que desde que o motorista lhe disse que era proibido comer nos transportes públicos se habituou a deixar de almoçar. Hábitos!
Qual é o valor de mercado da vizinha, mãe? E a minha prima Ana que depois de ter feito o mestrado trabalha naquilo dos telefones, o “call center”, enquanto vai preparando o doutoramento? Ela deve ter um enorme valor de mercado! E o senhor Luís da mercearia que abre a loja muito cedo e está lá o dia todo até ser bem de noite, trabalha aos fins de semana e diz ele que paga mais impostos que os bancos?
Que enorme valor de mercado deve ter! O primo Zé que está desempregado, depois da empresa onde trabalhava há muitos anos ter encerrado, deve ter um valor de mercado enorme! Só não percebo como é que com tanto valor de mercado vocês todos trabalham tanto e recebem tão pouco! Também não entendo lá muito bem – mas é normal, sou criança – o que é isso do valor de mercado que dá milhões ao senhor de cabelos brancos e dá miséria, muito trabalho e sofrimento a quase todas as pessoas que eu conheço!
Foi por isso que te escrevi, mãe. Assim, a pôr as letrinhas num papel, pensava eu que me entendia melhor, mas até agora ainda estou cheio de dúvidas. Afinal, mãe, qual o teu valor de mercado? E o meu?”
Francisco Queirós
Diário as beiras

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Opinião: ESTA JANGADA DE MADEIRA EM QUE EMBARCÁMOS - por Gertrudes Silva


ESTA JANGADA DE MADEIRA EM QUE EMBARCÁMOS

Aqui há uns tempos, ao reflectir sobre a bondade (ou não) do nosso embarque na jangada da Europa, eu apontava como razões para o aparente malogro de um tal projecto as seguintes razões fundamentais:
A primeira tem que ver com a própria natureza da União, edificada sem o farol de qualquer objectivo verdadeiramente congregador, antes na lógica directa da estratégia da Guerra Fria, conceito que, quanto se sabe, foi inventado pelas potências ditas ocidentais. Com o fim desse conceito, como até aí era formulado, por via da Implosão do Bloco de Leste, os fundamentos da União também se afundaram num charco de águas turvas, voltando depois à superfície travestidas de muitas outras coisas.
E se na sua origem tinham por teóricas e disfarçadas finalidades evitar a eclosão de mais guerras neste continente cuja história se narra por sucessivas, senão mesmo permanentes conflitos entre os seus membros fundadores, logo no primeiro sobressalto após a Queda do Muro se viu quão frágil era esta União na terrível, fratricida e genocida “Guerra dos Balcãs”.
No caso concreto de Portugal é hoje ainda mais claro o intuito dos políticos que se apressaram a tratar da nossa adesão: pôr o nosso país a salvo de qualquer tentação “totalitária inspirada no sistema que tinha Moscovo como “Sol” radioso, esquecendo-se, ou ignorando que já noutro momento crucial da nossa história nos debatêramos com o dilema de saber qual a nossa verdadeira vocação e interesses, se o continente europeu que para nós ficava lá tão longe, se o mar Atlântico aqui mesmo a banhar-nos o corpo quase por inteiro.
A História não comporta “se’s”, bem sabemos; mas a passagem por este momento crucial sempre dá para ver quando é que nós fomos realmente grandes, não vindo agora para o caso à custa de que desumanidades e narradas crueldades. A Inglaterra que nos seguiu os passos na epopeia marítima e imperial, relativamente à sua inserção numa comunidade de vocação essencialmente continental sempre se mostrou mais parcimoniosa, procurando, assim, salvaguardar as suas características próprias ditadas pela natureza e, consequentemente, a sua vocação mais virada para o mar, este que não é “Nostrum”, mas das potências económicas e militares.
E, no entanto, se formos a ver, a dita (re)construção europeia é um projecto, na sua essência e à partida, artificial; e a demonstração dessa fragilidade intrínseca aí está agora, exposta em toda a sua nudez na crise em que todos, se bem que uns mais que os outros, nos encontramos mergulhados, e em que os princípios fundadores tão sobejamente proclamados, com destaque para a solidariedade, vão sendo postos de lado perante a voz tonitruante dos ditos, e para a maior parte de nós misteriosos e obscenos, mercados.
E esta ausência de solidariedade, sabemo-lo bem, não dependerá da maldade ou bondade dos dirigentes e dos respectivos povos. Parece ser genética, o que, no caso, é o mesmo que dizer que tem raízes históricas, as quais, para não irmos mais lá para trás, têm que ver com a forma como os diferentes países que hoje constituem a Europa foram tocados, e “contaminados”,pela civilização muçulmana, pelo fenómeno do feudalismo e, mais modernamente, pelo movimento da Reforma e da Contra-Reforma. E, já agora, nada se perde se metermos aqui pelo meio também a linha separadora da implantação e desenvolvimento da Maçonaria, a que a revolução desencadeada por Lutero também não parece alheia.
O maior ou menor envolvimento com a civilização muçulmana, além de fazer dos países do Sul o veículo da retoma do contacto com a mãe de toda a nossa dita “civilização ocidental” e, através dessa via, do acesso aos mais avançados conhecimentos e técnicas ligadas às Matemáticas, Astronomia, Agricultura e Navegação, isto para já nem falar de domínios como a Filosofia, Literatura, Medicina e muitas outras mais, esse contacto, em alguns casos de vários séculos, explica, pelo menos numa boa parte, que tenham sido esses países que mais cedo partiram à descoberta de outros mundos e doutros interesses, e teve o condão, também por isso, de os subtrair aos maiores rigores do feudalismo que, na sua pureza, se foi instalando e progredindo na medida da perda do domínio do poderio de Roma, primeiro imperial e depois papal.
Mas a mais decisiva cisão entre as duas Europas – a do Sul e a do Norte e Central – talvez tivesse sido a que resultou, segundo Eduardo Lourenço e outros credenciados pensadores, do movimento da Reforma iniciada por Lutero nos começos do século XVI, o qual subtraiu à obediência papal os domínios da Europa Central e Setentrional. E a linha de separação que a partir daí se estabeleceu não foi só da ordem filosófico-religiosa, mas também, e por mor desta, de índole determinantemente cultural, com a conjugação da livre interpretação da Bíblia, pedra angular da doutrina de Lutero, com os progressos na técnica de impressão de textos a partir do impulso decisivo de Gutenberg, cerca de um século mais tarde, o que, dito de uma forma um tanto grosseira, dividiu o continente europeu numa Europa letrada – a do Norte e Centro – e numa Europa de analfabetos, cá mais para o Sul.
A Contra-Reforma, que não surgiu por acaso, teve o duplo, ou tripulo condão de manter uma parte do continente sob a obediência do Papa, de dar alento e até fomentar sucessivas, duradouras e devastadoras guerras sob as bandeiras de um e o mesmo Deus, e de por estas e outras vias evitar a “contaminação” dos povos do Sul, arraçados de mouros, de pretos e outras ainda mais exóticas estirpes, tudo, mesmo tudo, menos qualquer gota de sangue puro.
Por isso somos como somos, não como os demais, fracos de vontade, bem sabemos, enquanto dela não precisarmos. Gostamos de viver a vida, mesmo quando parecemos tristes. E se por vezes isso nos acontece, é porque temos sentimentos, os nossos, mais dados à saudade e outros modos idênticos de sentir, entre a dor da perda e a esperança nos dias que virão a seguir, bem diferentes das tragédias dos outros, tecidas com monstros e heróis épicos que, de dedo em riste, apontam para o destino glorioso e irrecusável de certos povos. A nós, também tentaram levar-nos por esses esotéricos caminhos, só que nós, mais pobres, mais ignorantes e desconfiados, pesem os quase 50 anos de fascismo envergonhado, não nos deixámos levar por Hitlers e Mussolinis.
Em resumo, quando nos pomos a pensar nesta Europa, afinal, com tão pouco de União e tão desigual, temos de ter em atenção que, na sua essência, a História assim o quis, a Sul ficou uma Europa Católica e a Norte uma Europa Protestante que bem mais cedo que a outra aprendeu a ler e a escrever. Que à pala deste diferendo o Sul se desfez com alguma crueldade e muita ingenuidade dos judeus verdadeiros, que eram, e ainda hoje são o pilar fundador e estruturante do sistema capitalista. E que esta linha divisória e determinante de diferentes percursos não foi traçada ao acaso e não é com tratados atrás de tratados donde os povos são sistematicamente arredados que esta realidade se vai alterar. Se calhar, o melhor ainda será começar a pensar numa outra solução.
Diamantino G. Silva*
Viseu, 14-01-2012
* Diamantino G. Silva é escritor, coronel reformado, capitão de Abril e comentador regular do Alpendre da Lua.

A Grande Loja Laranja e a EDP

Amabilidade do Joaquim Pereira da Silva

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O EURODESASTRE...

*
Desengane-se o leitor mais distraído. Não é o primeiro-ministro de Portugal que está a falar, nem nenhum dos dirigentes políticos do arco da traição. Aos dirigentes políticos do PSD, do PS (com honrosas excepções) e do raquítico CDS falta-lhes a dignidade de quem tem a coluna vertebral erecta. São os herdeiros legítimos do Miguel de Vasconcelos, de 1640. Quem está a falar é um corajoso e lúcido eurodeputado, que declarou alto e bom som, não querer uma Europa governada, de forma antidemocrática, pela senhora Angela Merkel. A ditadura financeira, que está a ser imposta aos países do Sul da Europa, alguns já a serem governados por governos não eleitos, não pode sobrepor-se à liberdade e à democracia dos povos, nem colocar em perigo a independência dos países.
(Texto já publicado em 20 de dezembro de 2011. e que agora se repete, acompanhado por um vídeo traduzido em português. Nunca é demais repetir as evidências da verdade).

A beleza "delicada" das máscaras do Carnaval de Veneza



***
As máscaras do Carnaval de Veneza são de uma beleza "delicada". Parece que estamos a ver uma coisa etérea, exterior à realidade palpável, e que, se forem tocadas, podem estilhaçar-se, como se fossem feitas da mais pura porcelana.

A indignação é crescente...

Custa-me muito pensar, que se paga casa, comida e roupa lavada, (fora o resto dos trocos), a um homem para vir a publico dizer a quantidade de barbaridades que diz!
Sinto-me lesada. Pelo meu avô, pelo meu pai, por tantos outros pelo país fora, que viveram a sua vida de sacrifícios, para agora no final das suas vidas, enfraquecidos pela velhice...indefesos, serem deixados á sua sorte por pessoas como estas. Continue a fingir Aníbal, que estas pessoas não existem, feche os olhos, ás suas fomes, aos calos das suas mãos, aos suores com mistura de sangue, dos trabalhos forçados que tiveram de fazer, para trazer um prato de sopa á mesa.
E não me venham dizer que eu não tenho direito a falar, que não estou em Portugal e não faço ideia daquilo que estão a passar. Porque sei. Mais do que gostaria de saber. Foi este homem e outros como ele que me negaram o direito a uma vida digna no país que me viu nascer.
Sinto-me indignada, lesada e acima de tudo revoltada, com o teatro de fantoches em que Portugal se transformou.
Sónia Micaelo
(Do blogue Sussurros)

Agradecimento

É com imenso prazer que registo a inscrição do Manuel Tiple, meu antigo colega da empresa Sandoz, no Alpendre da Lua, onde ele já deixou alguns esclarecidos comentários.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O mau jornalismo televisivo de Mário Crespo

***
Mário Crespo é um péssimo jornalista. Ainda não aprendeu que, no decorrer de uma entrevista, a boa prática profissional exige ao jornalista uma reserva prudente quanto à emissão das suas próprias opiniões, pois o objetivo é recolher a opinião do entrevistado, que é aquilo que interessa ao público, sendo por isso que a sua presença se justifica. O jornalista deve anular-se e dar o palco ao entrevistado. Deve limitar-se a enquadrar o tema com inteligência e criatividade e fazer as perguntas com objetividade. Se for sagaz, deve fazer perguntas armadilhadas para explorar eventuais contradições do entrevistado. Mas Mário Crespo, enrola-se nas suas palavras, e assume-se como comentador. Aos entrevistados, seus correligionários ideológicos, espreguiça-se untuosamente, num canhestro servilismo, fazendo perguntas bondosas e inocentes. Aos entrevistados que não lêem pela sua cartilha política, faz perguntas impertinentes e capciosas. Se Mário Crespo pretende exercer a função de comentador político, terá de criar o seu próprio espaço de opinião, bem marcado e bem definido. Aí, pode dizer o que muito bem entender.
Mas, além de ser um mau jornalista, Mário Crespo não percebe nada de economia. Destila venenosamente os estereótipos da direita neoliberal, delicia-se ronceiramente com os lugares comuns que debita, na presunção de que são pensamentos brilhantes. Nesta entrevista ao dirigente da CGTP, Arménio Carlos, percebeu-se que não sabe o que é a taxa de produtividade, focalizando-a exclusivamente no fator trabalho. Não sabe que os grandes motores para o aumento da taxa de produtividade assentam no investimento, na inovação tecnológica e na melhoria do sistema de gestão e de comercialização, que são os principais fatores que promovem o aumento do PIB.
Salvou-se nesta entrevista o desempenho de Arménio Carlos, que deu uma lição ao ignorante jornalista.

domingo, 22 de janeiro de 2012

O ridículo mata... (a propósito das reformas de Cavaco)*

"Realmente...isto é uma vergonha! Numa altura em que só aos trabalhadores portugueses é que estão a ser aplicadas medidas "impostas" pela troika e subscritas por este Governo e pelo PS, numa altura em que grande parte dos portugueses têm dificuldades para conseguirem alimentar decentemente as suas famílias, numa altura em que os sacrifícios são sempre para os mesmos - aqueles que menos ganham, que vivem apenas do rendimento do seu trabalho - estas declarações são um ultraje! São vergonhosas! Mas sim, só nos cabe a nós todos darmos a volta a isto! É só preciso ter vontade e querer!"
Sandra Margarida*
**
 "Estes vigaristas continuam, impunemente, a gozar com o povo, num deboche repugnante que nos leva ao vómito. Quando é que os portugueses começarão a compreender que o 1º PASSO DA LUTA ESTÁ NO VOTO? Não serve de nada dizerem que não foram vot...ar portanto não têm nada a ver com isto. Antes pelo contrário: têm tudo a ver - o Cavaco só é presidente da república porque 53% dos portugueses não votou. E é isto que interessa. Claro que a luta é fundamental e não podemos desistir dela mas seria muito mais fácil se os portugueses tivessem votado (e votado bem); não estaríamos, agora, a viver nestas aflições. Não percebo porque é que as pessoas insistem em votar em partidos (outras nem sequer votam) que aprovam leis contra quem trabalha e contra os interesses do povo".
Ana Sara Cruz*
* Comentários tirados do Facebook, da página de Pedro Frias.

Passos sobre Cavaco: "Os sacrifícios têm que ser repartidos por todos"


O primeiro-ministro garantiu neste sábado que os “sacrifícios vão valer a pena e que Portugal vai passar esta situação difícil” e que todos, independentemente da sua posição, têm que fazer sacrifícios, reagindo às declarações do PR sobre a sua reforma.
PÚBLICO
***
Passos Coelho ainda não leu o relatório da Comissão Europeia, comentado e referido aqui, no post anterior, onde se afirma que Portugal foi o país, entre todos aqueles que estão sujeitos a políticas de austeridade, que mais fez incidir os sacrifícios sobre as classes de menores rendimentos. Ao contrário do que afirma Passos Coelho, que na mentira nada fica a dever a José Sócrates, os sacrifícios não são iguais para todos. Observando o gráfico, pode ver-se que à medida que diminui o rendimento, aumenta a percentagem da perda do poder de compra, até chegar, no fim da escala, aos seis por cento para os mais pobres, enquanto os mais ricos perderam apenas dois por cento.  Com estas selvagens medidas de austeridade, que não vão resolver a crise profunda em que se encontra o país, o fosso entre os rendimentos dos vinte por cento dos portugueses mais pobres e os vinte por cento dos portugueses mais ricos vai agravar-se, aproximando-se do patamar que caracteriza os países subdesenvolvidos, em termos da distribuição dos rendimentos.
A conclusão que tem de se tirar, leva a concluir que o grande patronato e o governo prosseguem uma gravosa política de empobrecimento da maioria da população, aproveitando a crise financeira para acentuar a transferência de rendimentos dos trabalhadores para o capital.
http://www.publico.pt/Política/passos-sobre-cavaco-os-sacrificios-tem-que-ser-repartidos-por-todos_1530145

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Notas do meu rodapé: Em Portugal, são os mais pobres que estão a pagar a crise...

Percentagem de mudança no rendimento familiar disponível devido a medidas
de austeridade - Retirado do resistir.info e reportando a um relatório do
Observatório da Situação Social da Comissão Europeia
Já aqui foi denunciado que as medidas de austeridade impostas ao país, quer através dos sucessivos PEC`s do governo de José Sócrates, quer através da aplicação cega do memorando da troika, pelo atual governo, elegeram como vítimas os grupos sociais mais vulneráveis, os desempregados e os pensionistas, precisamente aqueles que, no conjunto da população, têm menores rendimentos e onde se aloja a bolsa da pobreza e a de todos aqueles que se encontram em risco de pobreza. E é isto que a própria União Europeia, no seu estudo, vem confirmar. De todos os países, sujeitos a políticas de austeridade, Portugal foi aquele que mais sacrificou os pobres e protegeu os ricos, o que revela a cruel e abjeta insensibilidade deste governo para com os problemas sociais emergentes. 
Durante o período de tempo da aplicação das medidas de austeridade regressivas, em Portugal, o segmento dos mais pobres e o dos que se encontram em risco de pobreza perdeu entre seis a a quatro por cento dos seus rendimentos, enquanto que os mais ricos apenas perderam dois por cento. Todos os outros países considerados no estudo, Estónia (EE), Irlanda (IE), Grécia (EL), Espanha (ES) e Reino Unido (UK), ou sobrecarregaram mais os maiores rendimentos ou distribuiram equitativamente os sacrifícios por todas as classes sociais. 
Estes números envergonham Portugal. E é esta vergonha que os dirigentes europeus mais ortodoxos, como a senhora Merkel, elogiam hipocritamente, classificando Portugal como um bom aluno da Europa.
http://www.socialsituation.eu/research-notes/SSO2011%20RN2%20Austerity%20measures_final.pdf

Agradecimento

O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento à Margarida Lima (ver respetivo painel na parte final), pela sua decisão de se inscrever como amiga deste blogue.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Daniel Estulin - O GOVERNO, SA e uma visão do teu futuro...

Amabilidade de Joaquim Pereira da Silva
*
Este vídeo também foi enviado pelo Diamantino Silva, e que vinha acompanhado por um texto esclarecedor de João Sequeira, que aqui se publica:

Queridas Amigas e Amigos:
Para os poderes instituídos na Europa e nos EUA tudo o que se diz nesta conferência de Imprensa não passa daquilo a que sobranceiramente chamam de “teoria da conspiração”.A maior parte desses vociferadores da “verdade única” ou do “politicamente correcto” não são estúpidos, nem estão enganados. Apenas se limitam e serem a voz do dono, pois sabem bem os dividendos pessoais que daí tiram.
Não adianta nada discutir com eles. Adianta sim “avisar a malta” como canta a canção antiga, cada vez mais actual. Adianta sim “acordar a malta, que é o que faz falta”.
Como vêem já existem vozes no Parlamento Europeu a explicar o que é óbvio e quem manda de facto no Mundo. Os governos que, descaradamente, já nomeiam à revelia dos eleitores, e as assembleias nacionais que aceitam esses factos consumados, só sabem dizer que tudo isto não passa de “teoria da conspiração” e o que importa é credibilizar os países perante o poder financeiro, pagando os empréstimos a tempo, mas esquecendo que a maior parte desses empréstimos já foram pagos nos juros agiotas impostos. Entretanto os Povos vão empobrecendo “alegremente” à espera que chegue o “salvador da pátria” o messias chamado Hitler, Salazar, Franco, Mussolini, ou um seu filio adepto à ordem do capital financeiro, como o senhor Monti e o grego do Goldman Sachs, que vem “acabar com a malandragem e meter isto na ordem!” se os povos os deixarem.
Os mais novos não sabem como é que os “messias” conseguem esse “milagre”, mas nós os velhos, sabemos, porque já os vimos. Basta matar ou deixar morrer mais uns tantos judeus, árabes, ou ciganos. Hoje é diferente porque nesses grupos muitos se passaram para o outro lado... Hoje é mais fácil identificar alvos sempre actuais: São os pobres e pedintes porque não se lavam, tresandam, incomodam, mendigam, e é um grupo crescente, que não se esgota, com candidaturas sempre prontas na classe média, de onde se desce mais depressa do que se sobe. Basta agir “inteligentemente” nas políticas de saúde, da segurança social e do trabalho. Depois é só esperar que morram!
Já me esquecia que tudo isto não passa de “teoria da conspiração”, para os súbditos apátridas e alguns “xico-espertos”, muitos deles sem se darem conta de que são “os senhores que se seguem”.
Espero que divulguem o anexo.
João Sequeira

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Emigrar...

Um país que é obrigado a exportar a sua mão de obra, é um pais falhado. E Portugal é um país falhado, resultado evidente da governação iluminada do pessoal do PSD e do PS, durante trinta e cinco anos. Passos Coelho vai desferir-lhe o golpe mortal. O leitor não acredita? Quando perceber, já não irá a tempo.  

Brasil: "Senado alvo de desinfestação após ataque de rato"


O ataque de um rato a uma funcionária na quarta-feira obrigou a Senado brasileiro a contratar serviços de desinfestação e desratização, publicou hoje o jornal Folha de São Paulo.
Segundo o jornal, a funcionária da câmara alta do Parlamento brasileiro estava a trabalhar quando, ao calçar uma sandália, foi mordida no pé. A mulher foi atendida pelo serviço médico do Senado e está em observação.
O caso ocorreu na sala da Secretaria-geral da Mesa Diretora. Além desta, também a Secretaria do Congresso passará pela desinfestação. A atividade nas duas secretarias foi suspensa.
Diário de Notícias
***
É de presumir que o rato apenas tivesse querido comer a rata.
Presume-se também, que seja aproveitada a ocasião para desinfestar os senadores.
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2240233&seccao=EUA

domingo, 15 de janeiro de 2012

"Grécia pode voltar ao crescimento se seguir austeridade"

Angela Merkel, chanceler alemã
Fotografia © Thomas Peter - Reuters
A chanceler alemã Angela Merkel insistiu hoje que a Grécia pode voltar ao crescimento económico se seguir um comportamento de austeridade.
Numa entrevista a uma rádio, a Deutschlandfunk, salientou que a redução da despesa "geralmente leva a que a economia não seja capaz de crescer tanto".
Angela Merkel referiu, no entanto, haver muitos exemplos de países onde foram aplicados programas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e "fortes fases de crescimento aconteceram depois de uma fase de recessão".
As reformas estruturais "nunca têm efeitos imediatos e necessitam de algum tempo antes de os seus efeitos serem sentidos e devem ser implementadas com veemência, claro", referiu.
O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, vai encontrar-se hoje com responsáveis gregos.
Diário de Notícias
***
A Grécia vai voltar ao crescimento por decreto ou vai ser obrigada a vender a Acrópole, com o seu emblemático Parthenon?
É evidente que a senhora Merkel está a confundir duas realidades distintas, a económica e a financeira, embora ambas se cruzem uma na outra. Não é possível recuperar as finanças, quando se destrói o tecido económico. A própria Alemanha, nos períodos posteriores às duas guerras mundiais do século passado e na resposta à grande depressão de 1929,  teve de viver com elevados défices orçamentais e endividar-se no exterior, para poder investir na sua indústria pesada, que nunca poderia ter alcançado o desenvolvimento desejado, se os seus credores lhe tivessem imposto metas para o equilíbrio das suas finanças, que é o que a União Europeia está a impor, desajustadamente, aos países periféricos, numa autêntica guerra de terra queimada. 
Não há alternativa credível, na resolução da crise, às políticas de desenvovimento económico, que, no futuro, venham a gerar riqueza para pagar parte da dívida, que, previamente, deverá ser reestruturada sem agravamentos penalizadores para os países devedores.
 http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2241763

Citação: A utopia do neoliberalismo e o seu desfasamento com a realidade

... O neoliberalismo é um exemplo de uma utopia falhada, mas que soube durar muito mais do que seria de esperar porque se especializou em encontrar mil e uma formas de torturar a realidade com os seus instrumentos ideológicos; instrumentos bem protegidos e aperfeiçoados para Portugal, em instituições, por sinal públicas, que são um símbolo do esvaziamento da soberania democrática, como é o caso do BdP.
João Rodrigues
Ladrões de Bicicletas
* Título da responsabilidade do editor do Alpendre da Lua.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Notas do meu rodapé: Os novos emigrantes talvez venham a querer esquecer o país que os pariu e que os condenou a pertencerem à "Geração à Rasca"

"Governo resolve o problema mandando os jovens emigrar"
O deputado Paulo Pisco (PS) considerou hoje que o Governo pode não ter uma política de emigração para os jovens portugueses, mas adota uma postura de tentar resolver o desemprego entre esta camada da população "mandando-os emigrar".
Diário de Notícias
***

A emigração, historicamente, sempre foi a válvula de escape dos portugueses mais desafortunados, em tempos de crise económica. A mais importante, aquela que teve um efeito estruturante na economia do país, foi a que ocorreu nos anos sessenta do século passado, e que teve como destino a França e a Alemanha, para onde se deslocou massivamente a maioria dos homens válidos das zonas rurais. O despovoamento do interior, a que esses emigrantes deram origem, nunca mais foi invertido.
Mas, agora, a emigração começa a ser uma alternativa para os jovens técnicos qualificados, que, em Portugal, não encontram saídas profissionais, e aos quais o primeiro-ministro, numa confissão implícita de impotência e de descrença, convida a abandonar o país. É um sinal pouco animador dado por aquele governante, que assim desmente as expetativas otimistas, mil vezes anunciadas, sobre as vantagens futuras das suas políticas de austeridade. Já nem ele acredita que o país possa vir a recuperar, depois da devastação a que está a proceder, a mando da senhora Merkel e em benefício do grande capitalismo financeiro europeu.
Poderemos dizer que, pela primeira vez na nossa história, se assiste à fuga de quadros qualificados, numa escala nunca vista anteriormente. E, neste caso, ocorre uma dupla perda para a economia portuguesa. Por um lado, perde-se o elevado potencial desses quadros, que dariam um contributo significativo para a criação da riqueza nacional, e, por outro lado, e isto não ocorreu nos períodos emigratórios precedentes, perde-se o avultado investimento que o país dispendeu na sua formação. Atinge-se assim o limite do desperdício, que irá ter consequências nefastas no nosso futuro coletivo. Se o ciclo emigratório dos jovens mais qualificados atingir grande dimensão estatística, daqui a dez ou quinze anos, Portugal irá ter falta de massa crítica, já que claudicará a transferência geracional no topo das carreiras profissionais, das públicas e das empresariais, e também ao nível dos respetivos dirigentes. O problema é muito sério, o que não deveria permitir a manifestação de tamanha leviandade por parte de um primeiro-ministro, que se desacredita, quando, no seu discurso, vem estimular a ocorrência deste fenómeno. 
E não colhe validade o argumento, que já anda a ser badalado por aí, pelos papagaios encartados do regime, que este desequilíbrio seria compensado com a incorporação das respectivas remessas de capital na economia portugesa, como aconteceu no século passado. Os jovens quadros que emigrarem irão atrás de um projeto de enraizamento integral nos países de destino, onde constituirão família e onde guardarão as suas poupanças e património, para transmitirem aos seus filhos. Muitos deles, até, talvez venham a querer esquecer o país que os pariu, mas que os condenou a pertencerem à "Geração à Rasca", abandonando-os ao seu destino. 

Uma política para enriquecer os ricos, com uma austeridade para empobrecer os pobres...

Seja qual for o desenlace da aplicação do programa da troika, que os nossos ingénuos governantes querem levar ainda mais além, é provável que se consiga alcançar as metas dos défices mas, a dívida pública vai aumentar e a economia não vai crescer a 3% ou mais como seria necessário. Num país à beira de ser total e irresponsavelmente privatizado, o que está assegurado desde já é o desmantelamento progressivo do Estado Social; o aumento das desigualdades sociais (os ricos têm uma oportunidade soberana de se tornar ainda mais ricos, largos estratos da classe média vão conhecer dias amargos e os pobres ficam à mercê de esmolas publicas ou privadas); o aumento substancial da emigração, incluindo a de pessoas qualificadas (os cínicos dirão que isso é bom para as futuras remessas dos emigrantes mas estão redondamente enganados). Enfim …
E aqui estamos nós!/Trinta e sete anos de esperanças adiadas/Vinte e cinco anos de manás desperdiçados.
José Manuel Rolo
Lisboa, 31/07/11
In Economia com futuro

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Opinião: A América transformou. A China adaptou-se - por Ivan Krastev


Para um europeu, nos dias de hoje, pensar sobre o futuro é perturbador. A América está militarmente sobrecarregada, politicamente polarizada e financeiramente endividada. A União Europeia parece à beira do colapso e muitos não europeus vêem o velho continente como uma potência aposentada, que ainda consegue impressionar o mundo com as suas boas maneiras mas não com coragem ou ambição.
Inquéritos de opinião a nível mundial, realizados nos últimos três anos, indicam consistentemente que muitos estão a virar as costas ao Ocidente e – com esperança, medo ou ambos – vêem a China a avançar para o palco central. Como diz a velha piada, os otimistas estão aprender a falar chinês; os pessimistas estão a aprender a utilizar uma Kalashnikov.
Enquanto um pequeno exército de especialistas afirma que a ascensão da China ao poder não devia ser assumida e que os seus alicerces económicos, políticos e demográficos são frágeis, a sabedoria convencional afirma que o poder da China está a crescer. Muitos questionam-se como é que uma Pax Sinica [paz chinesa] mundial pode afirmar-se: como é que a influência mundial da China se manifestaria?
Como é que a hegemonia chinesa diferiria da variedade americana? De uma maneira geral, as questões de ideologia, de economia, de história e de poder militar dominam os debates actuais na China. Mas, quando se compara o mundo americano de hoje com um possível mundo chinês de amanhã, o contraste mais marcante consiste na forma como os americanos e os chineses experimentam o mundo para além das respectivas fronteiras.
A América é uma nação de imigrantes, mas também é uma nação de pessoas que nunca emigram. Notavelmente, os americanos que vivem fora dos EUA não são chamados de emigrantes, mas sim de “expatriados”. A América deu ao mundo a ideia de ser um “caldeirão cultural” – um instrumento de cozinha alquímica onde diversos grupos étnicos e religiosos se misturam, voluntariamente, construindo uma nova identidade americana.
E muito embora os críticos possam argumentar que o “caldeirão” é um mito nacional, tem tenazmente fundamentado o imaginário colectivo da América.
Desde que os primeiros europeus se estabeleceram ali, no século XVII, as pessoas de todo o mundo têm sido atraídas para o sonho americano de um futuro melhor; o encanto da América é, em parte, a sua capacidade de transformar os outros em americanos. Tal como um russo, agora professor universitário da Universidade de Oxford, disse: “Você pode tornar-se num americano, mas nunca se pode tornar num inglês”. Não surpreende, portanto, que a agenda mundial dos EUA seja transformadora; é a que dita as regras.
Os chineses, por outro lado, não tentaram mudar o mundo, mas sim adaptar-se a ele. As relações da China com os outros países são canalizadas através da sua diáspora e os chineses percecionam o mundo através das suas experiências como imigrantes.
Hoje, vivem mais chineses fora da China do que franceses a viver em França e estes chineses, que estão no exterior, fazem parte do grande número de investidores na China. Na verdade, há apenas 20 anos, os chineses que viviam no estrangeiro produziam tanta riqueza como toda a população no interior da China. Primeiro, a diáspora chinesa teve sucesso, depois foi a própria China.
Chinatowns – comunidades, muitas vezes insulares, localizadas nas grandes cidades do mundo – são o cerne da diáspora chinesa. Como o cientista político Lucien Pye observou uma vez, "os chineses vêem tal diferença absoluta entre eles e os outros que, inconscientemente, acham natural referirem-se aos nativos dos países que os acolhem como “estrangeiros”.
Enquanto o “caldeirão cultural” americano transforma outras nacionalidades, as chinatowns ensinam os seus habitantes a adaptarem-se – a tirarem proveito das regras e dos negócios do país de acolhimento, ao mesmo tempo que permanecem separados. Enquanto os americanos levam a sua bandeira bem alto, os chineses trabalham arduamente para serem invisíveis. As comunidades chinesas, no mundo inteiro, conseguiram tornar-se influentes nos seus países de acolhimento, sem serem ameaçadas; conseguiram ser fechadas e não transparentes, sem provocarem a ira; conseguiram ser uma ponte de ligação com a China, sem parecerem ser uma “quinta coluna”.
Como a China é de adaptação, não de transformação, é improvável que mude o mundo de forma dramática, caso venha a assumir as suas rédeas.
Mas isso não significa que a China não explorará esse mundo para fins próprios.A América, pelo menos em teoria, prefere que os outros países partilhem os seus valores e ajam como americanos. A China só pode recear um mundo onde toda a gente aja como os chineses. Deste modo, num futuro dominado pela China, os chineses não definirão as regras, mas procurarão tirar o maior proveito possível das regras que já existem.
Ivan Krastev
30.12.2011
Amabilidade de Diamantino Silva

Agradecimento

Agradeço à editora do blogue Momentos Inesquecíveis a sua decisão de o  associar ao Alpendre da Lua.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Basílio Horta diz que a novidade da política de crescimento foi anúncio “cluster do pastel de nata”

O deputado do PS Basílio Horta criticou nesta quinta-feira a ausência de uma política de crescimento económico, ironizando que a última novidade desta área é o anúncio do “cluster do pastel de nata”.
Depois de uma declaração política no plenário da Assembleia da República do social-democrata Pedro Pinto sobre o crescimento económico, o deputado socialista Basílio Horta recuperou afirmações do ministro da Economia de hoje de manhã, quando Álvaro Santos Pereira defendeu que o caminho para a internacionalização das empresas portuguesas passa pela afirmação dos produtos nacionais, dando como exemplo os pastéis de nata.
“O ‘cluster’ do pastel de nata, o ‘cluster’ do frango” é a última novidade que foi anunciada”, gracejou Basílio Horta, que contrapôs algumas das ‘conquistas’ do último Governo socialista de José Sócrates, como o facto de ter trazido para Portugal a Embraer ou o Ikea.
PÚBLICO
***
E o cluster dos jaquinzinhos? E o cluster de tripas à moda do Porto? E porque não, recuperar o galo de Barcelos? Todos estes produtos têm elevada tecnologia incorporada, logo, muito valor acrescentado. Outra ideia que vivamente aconselhamos ao ministro da Economia, o já célebre Álvaro, seria apostar no cluster da cera para velas. 
Não há dúvida. A Assembleia da República está a exibir os melhores espetáculos de revista à portuguesa do país, que rivalizam em comicidade com as do velhinho Parque Mayer. E com uma vantagem acrescida: não se paga bilhete.
http://www.publico.pt/Política/basilio-horta-diz-que-a-novidade-da-politica-de-crescimento-foi-anuncio-cluster-do-pastel-de-nata-1528812

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Notas do meu rodapé: O execrável calibre moral de Manuela Ferreira Leite!...

«Quem tem mais de 70 anos e quer fazer hemodiálise tem de pagar»
A pergunta é feita a António Barreto, outro interveniente no debate, mas a resposta vem da parte da líder do PSD: «[Ana Lourenço pergunta] Não acha abominável que se discuta se alguém que tem 70 anos tem direito à hemodiálise ou não? [Resposta de Ferreira Leite] Tem sempre direito se pagar. O que não é possível é manter-se um Sistema Nacional de Saúde como o nosso, que é bom, gratuito para toda a gente. Para se manter isso, o Sistema Nacional de Saúde vai-se degradar em termos de qualidade de uma forma estrondosa. Então, nem para ricos, nem para pobres. E será inevitável que tratamentos desse estilo, evidentemente que existem, e que as pessoas têm direito a eles, desde que paguem. Fora disso não é possível gratuitamente. O país não produz riqueza para isso e se não produz riqueza para isso degrada-se a qualidade».
TVI 24
***
Manuela Ferreira Leite, numa declaração desastrada, perversa e moralmente inqualificável, confessou em público aquilo que o governo anda a fazer secretamente. Os portugueses estão assim a ser confrontados com a maior monstruosidade do programa do governo, que pretende implementar o "assassinato lento" dos idosos mais pobres do país, restringindo o seu acesso ao Serviço Nacional de Saúde. Negando-lhes a assistência médica, que lhes prolongaria a vida, e esbulhando-os nas pensões de reforma, o que os condenará à morte, o governo diminui os gastos nas rubricas da Saúde e da Segurança Social. Reduzidos a lixo social, considerados marginais numa sociedade regida pela ferocidade fundamentalista das leis do mercado, profundamente fragilizados e sem mecanismos próprios de defesa, os idosos são infamemente ultrajados na sua dignidade de cidadãos, sendo remetidos para a condição de apêndices a abater na execrável engenharia financeira do governo. Eu já escrevi aqui que uma sociedade que não sabe tratar das suas crianças nem dos seus idosos não merece existir. E eu hoje já não sei se o país indiferente e apático, que se chama Portugal, merece existir.
Mas Manuela Ferreira Leite teve pelo menos um mérito, ao afirmar que os direitos têm de ser pagos. Veio dar sustentação ao meu radicalismo crescente, que se extrema cada vez mais, ao ponto de começar a advogar o extermínio de quem pretende eliminar-me fisicamente. É que eu estou a três anos de completar os setenta anos de vida e não aufiro rendimentos para pagar os tratamentos de hemodiálise, caso deles venha a necessitar. Considero que já os paguei durante a minha vida ativa, com o dinheiro dos meus impostos, parte dele desviado para alimentar a corja nojenta que tem esbulhado o país.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Agradecimento

O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento ao Amóes Xavier, pela sua decisão de se inscrever como amigo deste blogue. Atinge-se assim, com esta inscrição, o número mítico de 100 amigos/seguidores.

Cavaco Silva: Este algarvio manhoso...

*
É mesmo assim que está titulado este email que agora reencaminho. Um pedaço da nossa história recente. Uma estória que ainda não tem fim, mas cuja 'moral' já todos sabemos. Os ladrões viraram gente importante, e os sicários continuam prontos para prender e calar os que se recusam ao silêncio.
O BPN, dizia o governo de Sócrates, «era um risco sistémico'. Daí a intervenção. Hoje sabemos onde e a quem beneficiou esta 'nacionalização' encapotada. Porque razão o Ps a fez, e o PSD, silencioso, agradeceu. Salvaram-se os pobres amigos. O Povo, reconhecido, paga.
Mas há mais. O Isaltino continua a ter direito a suspensões de execução de sentenças, que a outros foi e é recusada. Também este é uma 'vitima' do sistema algarvio. Uma outra estória a seguir.
Texto de um email que circula na internet, juntamente com o vídeo
Amabilidade do João Fráguas

domingo, 8 de janeiro de 2012

A enrabadela do Euro...

Amabilidade de Dalia Faceira e de Pilar Vicente
Tradução:
Dois homens, um atrás do outro.
Devíamos ter percebido logo que o Euro
Nos iria enrabar a todos!
***
Mas as mulheres também não escaparam!... É que o Euro leva tudo a eito...

Notas do meu rodapé: A roda da História e a perdição de Portugal...


A roda da História e a perdição de Portugal...

A roda da História é imparável. Existe uma corrente sequencial do nascimento e da queda dos impérios, que, por curioso que pareça, caminhou do Oriente para o Ocidente, acompanhando o movimento aparente do Sol: China, India, Mesopatâmia, Egipto, Finícia, colónias jónicas do mar Egeu, onde nasceu a moeda, Atenas e o império de Alexande, Roma, império árabe, Portugal e Espanha, Países- Baixos e Inglaterra e a França. e, por fim, os EUA. Já deu uma volta à Terra e, agora, vai regressar ao princípio. Novamente à China e à India.

O declínio da civilização ocidental é evidente. Como aconteceu a todas elas, a sua morte vai ser lenta, enquanto a sua sucessora vai crescendo e consolidando a sua posição. Os ciclos desta mudanças históricas não se medem pela tempo de vida médio de um homem. No início dos tempos da História, normalmente, a transição durava séculos. Mas a sua velocidade tem vindo a aumentar ao longo do tempo, e, por isso, os historiadores e os economistas prevêm que em 2050 a China dominará o Mundo. E nada se pode fazer para mudar o curso desta evolução, tal como nada se pode fazer para operar o rejuvenescimento de um idoso, devolvendo-o à sua adolescência. As sociedades têm uma vitalidade endémica limitada, tal com a vida humana. É um paralelismo curioso entre o fenómeno social e  o fenómeno biológico. Já na Pré-História aconteceu o mesmo. o Homem Sapiens, de onde o homem da actualidade descende em linha recta, "engoliu" o Homem de Neeanthartal, de uma forma pacífica, através da misceginação, segundo alguns autores, ou de uma forma violenta, através do extermínio, segundo outros. Nesses tempos pré-históricos, ainda não tinha surgido o fenómeno da escravatura, que só aparecerá mais tarde, acompanhando o lento enquadramento da noção primitiva de Estado soberano, a estruturação rígida da divisão da sociedade em classes e, no processo económico, um aparelho produtivo a gerar excedentes. Descrevendo a situação com os conceitos actuais da ciência económica, poder-se-ia dizer que a civilização dos faraós criou uma vantagem competitiva, em relação aos seus vizinhos, institucionalizando a escravatura em larga escala. A sua outra vantagem teve origem num fenómeno natural. Vinha-lhe das cheias do Nilo. Mas os faraós  repousaram nessas duas mais valias, que eles julgavam eternas, e que lhes garantiriam riqueza e poder. Deixaram que fossem os finícios e os gregos a descobrir que a política do transporte (termo que António Sérgio introduziu no discurso histórico, referindo-se a Portugal) ainda era mais rentável. Mas são os romanos, séculos depois, que, copiando as concepções de Alexandre, descobriram que o império marítimo tinha de ter uma sustenção de base territorial, o que os levou a cercar o mar Mediterrâneo com as suas legiões, com os seus cônsules e a sua cultura. Roma foi o império mais estruturado da antiguidade. A estratégia militar, o Direito e a Engenharia foram as alavancas competitivas da sua superioridade. Mas também não atingiu a eternidade, como os centuriões julgavam. O trabalho escravo, base da sua produção de bens e serviços, acabou por se revelar pouco rentável em valor acrescentado (a taxa de produtividade começou a diminuir, dir-se ia hoje). E, pela primeira vez, nos tempos históricos, uma civilização requintada cai nas mãos de povos primitivos, ainda a viver no regime tribal, os bárbaros (os ascendentes ancestrais da senhora Angela Merkel), que na sua embriaguês da vitória destruiram tudo aquilo a que não sabiam dar uso e entregaram aos clérigos cristãos tudo aquilo que não sabiam fazer, incluindo algumas parcelas da soberania e do governo das gentes. Como eram incultos e alarves, reduziram os povos autóctones à servidão. Encontrava-se a História no início de uma longa noite escura, que só dez séculos depois assistiu ao raiar da manhã, com a luz a aparecer com os iluministas e os revolucionários franceses. Os árabes, não conseguiram ultrapassar os Perinéus e ficaram-se pela Península Ibérica, onde desenvolveram uma civilização de sucesso, nas artes, nas letras, na filosofia, no comércio e na agricultura. Foram prudentes e inteligentes. Não impuseram à força a sua nova religião (apenas exigindo um imposto a quem  a não a abraçasse) e libertaram os produtores da servidão, deixando-os à vontade para produzir nas suas terras e vender os seus produtos nos mercados (medidas estas que aumentaram a taxa de produtividade). Por isso foram recebidos como libertadores.

Entretanto a Europa medieval, dominada pelo braço vigoroso (por vezes cruel) do papado e por uma aristocracia parasita, evolui muito lentamente e, com o progresso do comércio marítimo, criou uma classe social, a burguesia, que se revelou muito dinâmica. A Renascença, esse período que rasgou as trevas da ignorância da Idade Média, é um produto dessa nova classe social. As repúblicas das cidades do norte da penísula itálica eram então o centro da Europa, já que não podiam ser o centro do mundo, porque os árabes faziam a leste e a sul da Europa uma extensa e segura barreira, que impedia o acesso ao mítico Oriente. Foram os portugueses que furaram esse cerco, descobrindo a rota do Cabo. Para a Europa, iniciava-se o caminho da dominação do mundo. Portugueses, espanhós e holandeses globalizaram, à medida da época, a economia. Veio o colonialismo, que estruturou o saque. Mas, em contrapartida, nasceram as ideias iluministas, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, que mudaram a face da Europa. A burguesia começou a ganhar terreno perante a aristocracia parasitária. É a Inglaterra e o seu vastíssimo império que caracterizam esse tempo de progresso intelectual, cultural e tecnológico, e  que constituem as marcas identitárias da civilização europeia, que também legitima a herança greco-romana da Antiguidade Clássica. A Inglaterra, embora hegemónica, depois da queda de Napoleão, não evita a afirmação da França, nem a da Alemanha, que acaba por nascer como estado na segunda metade do séc, XIX, e que tantas dores de cabeça viria a dar no século seguinte (e no actual também). As duas guerras mundiais e o esgotamento do modelo colonial (entretanto substituído pelo difuso modelo neocolonial), já muito dispendioso, deram o golpe mortal ao domínio mundial exercido pelas potências coloniais da Europa. É certo que não morreu, mas ficou muito combalida. A nova potência emergente, os EUA, que lhe herdou a cultura e as gentes, ajudaram-na a recuperar. Mas nunca mais brilhou como no passado. E isto, apesar de ter colocado de pé um projecto político, social e económico original e único, que suscitou muitas expectativas: a construção da União Europeia e a criação da moeda única, cuja viabilidade está actualmente a ser posta em causa.

O aliado do outro lado do mundo, e que ainda detém um poder hegemónico ao nível político, militar e económico, também já não goza de boa saúde. A sua grande preocupação, nunca declarada, é preparar o terreno para poder enfrentar militarmente o avanço imparável do colosso chinês. É que a roda da História não deixa de rodar, e aproxima-se o momento em que essa roda vai iniciar a seguna volta ao planeta Terra.

No meio deste gigantesco movimento de mudança, Portugal parece perdido. Perdeu a África, perdeu a Europa, que também está perdida. e, agora, parece que vai perder-se a si próprio, vítima dos seus erros e dos seus pecados. Não soube aproveitar as vantagens da globalização. Ficou apenas com as respectivas desvantagens. A sua sobrevivência como país independente está em perigo. Portugal foi um país de oportunidades perdidas. E as perspectivas são tão negras, que até o actual primeiro-ministro e o seu ministro da Presidência já pedem aos jovens portugueses, principalmente aos mais qualificados, para emigrarem.

Alexandre de Castro

Janeiro de 2012

sábado, 7 de janeiro de 2012

Agradecimento

A Mari Paines resolveu proceder a uma segunda inscrição como amiga/seguidora do Alpendre da Lua, iniciativa que, para alguns, poderá parecer uma redundâcia, e que não é. Interpreto o gesto como uma homenagem a este blogue. Obrigado, Mari Paines.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Carta de um amigo a propósito do texto "Um postal não ilustrado de votos para o Ano Novo" - Diamantino Silva*


Amigo Castro
Li com muita atenção o teu editorial de votos de Ano Novo e, no fim, o que me saiu de repelão foi uma coisa assim:            
“O nosso drama é que o povo é sempre o mesmo; a merda é que muda. O mesmo que foi atrás do Tanoeiro a cercar o Palácio Real perante os apelos insidiosos de que estavam a matar o Mestre de Avis. O mesmo que, perante o sufoco, a fome e muitas outras privações seguiu atrás dum sonho que nos levou aos quatro cantos do Mundo, ficando por saber, e nunca mais o saberemos, se era esse o caminho – o do mar – que devíamos seguir ou o do Continente onde, depois do último suspiro do Império, alguém tratou de lodo nos meter e acolher antes que viessem para aí outras desgraças maiores.           
O mesmo povo que, enquanto tal, nunca mais esteve verdadeiramente em nenhum dos nossos outros sobressaltos históricos, limitando-se a matar e a morrer sempre às ordens de alguém, excepção feita, na nossa História recente ao 25 de Abril em que, tal como em 1383, o seu contributo foi fundamental.            Povo com manhas e pecados, como qualquer outro. Que veio para a rua, e em força, no 25 de Abril, como ali ficou dito, mas que também enchia o Terreiro do Paço para aclamar Salazar.           
Povo que desgraçadamente, e um povo assim bem que deles precisava, há muitos, muito anos não conhece um líder à altura nem conseguiu segregar um projecto de futuro nacional. Porque não podemos esquecer-nos que mesmo quando nos agigantámos e enfrentámos pavores e adamastores, já nessa altura andávamos a mando de alguém e a perseguir quimeras, interesses e objectivos que não eram nossos.           
Povo que em mais este momento crucial que atravessamos faz o que sempre fez em semelhantes circunstâncias: submeter-se e emigrar até que o tumor volte a esvaziar.           
Eu sei que isto parece muito pesado e até excessivo como aperitivo para arrancar para um Novo Ano; mas também penso que povo somos nós, como se diz na peça, e que temos de deixar, nessa perspectiva, de pôr o povo sempre no lugar da vítima de opressores e de pagadores de promessas como aconteceu, até certo ponto, a seguir ao 25 de Abril. E penso que é tempo de todos nós, que do povo nos reclamamos, voltarmos a ler e a meditar no belíssimo e acutilante texto de Mia Couto, “Os sete sapatos sujos”. Um abraço e um Bom Ano
Diamantino*

Ano novo, vida nossa - por José Soeiro


«Bateram as 12 badaladas e anunciaram que tínhamos ficado em 2011. Na televisão, um comentador explicava: "Seria uma irresponsabilidade mudar de ano agora, em plena crise." O colega de debate, especialista em finanças cronológicas, concordava: "Não estamos em tempo de comprar novos calendários, as pessoas têm de compreender que é preciso fazer sacrifícios."
Claro que nem toda a gente aceitou pacificamente a ideia. Milhares de jovens que iam fazer 18 anos em 2012 organizaram manifestações pelo direito ao futuro: "Não queremos ficar com as nossas vidas congeladas", gritavam nas ruas. Movimentos de cidadãos fizeram uma jornada contra o "recuo hsitórico" que significava voltar ao passado. Houve uma greve por um novo calendário e por melhores condições de vida. Clandestinamente, alguns começaram a produzir calendários alternativos e a funcionar com as datas de 2012. O Governo explicou que era "totalmente inviável" mudar de ano. Sugeriu que os jovens emigrassem. Perante os protestos, ameaçou prender quem tentasse fazer um ano novo à revelia do acordo estabelecido com parceiros internacionais.
De repente, as praças foram ocupadas pela gente. Fizeram-se músicas, contos, poemas, filmes sobre os futuros possíveis: como seria um ano novo? As pessoas começavam a criar aquilo de que falavam. Aguentaram semanas na rua, numa lenta impaciência. Até que um dia o poder viu-se impotente: já não restava ninguém em 2011.»
José Soeiro
PÚBLICO