"Governo resolve o problema mandando os jovens emigrar"
O deputado Paulo Pisco (PS) considerou hoje que o Governo pode não ter uma política de emigração para os jovens portugueses, mas adota uma postura de tentar resolver o desemprego entre esta camada da população "mandando-os emigrar".
Diário de Notícias
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A emigração, historicamente, sempre foi a válvula de escape dos portugueses mais desafortunados, em tempos de crise económica. A mais importante, aquela que teve um efeito estruturante na economia do país, foi a que ocorreu nos anos sessenta do século passado, e que teve como destino a França e a Alemanha, para onde se deslocou massivamente a maioria dos homens válidos das zonas rurais. O despovoamento do interior, a que esses emigrantes deram origem, nunca mais foi invertido.
Mas, agora, a emigração começa a ser uma alternativa para os jovens técnicos qualificados, que, em Portugal, não encontram saídas profissionais, e aos quais o primeiro-ministro, numa confissão implícita de impotência e de descrença, convida a abandonar o país. É um sinal pouco animador dado por aquele governante, que assim desmente as expetativas otimistas, mil vezes anunciadas, sobre as vantagens futuras das suas políticas de austeridade. Já nem ele acredita que o país possa vir a recuperar, depois da devastação a que está a proceder, a mando da senhora Merkel e em benefício do grande capitalismo financeiro europeu.
Poderemos dizer que, pela primeira vez na nossa história, se assiste à fuga de quadros qualificados, numa escala nunca vista anteriormente. E, neste caso, ocorre uma dupla perda para a economia portuguesa. Por um lado, perde-se o elevado potencial desses quadros, que dariam um contributo significativo para a criação da riqueza nacional, e, por outro lado, e isto não ocorreu nos períodos emigratórios precedentes, perde-se o avultado investimento que o país dispendeu na sua formação. Atinge-se assim o limite do desperdício, que irá ter consequências nefastas no nosso futuro coletivo. Se o ciclo emigratório dos jovens mais qualificados atingir grande dimensão estatística, daqui a dez ou quinze anos, Portugal irá ter falta de massa crítica, já que claudicará a transferência geracional no topo das carreiras profissionais, das públicas e das empresariais, e também ao nível dos respetivos dirigentes. O problema é muito sério, o que não deveria permitir a manifestação de tamanha leviandade por parte de um primeiro-ministro, que se desacredita, quando, no seu discurso, vem estimular a ocorrência deste fenómeno.
E não colhe validade o argumento, que já anda a ser badalado por aí, pelos papagaios encartados do regime, que este desequilíbrio seria compensado com a incorporação das respectivas remessas de capital na economia portugesa, como aconteceu no século passado. Os jovens quadros que emigrarem irão atrás de um projeto de enraizamento integral nos países de destino, onde constituirão família e onde guardarão as suas poupanças e património, para transmitirem aos seus filhos. Muitos deles, até, talvez venham a querer esquecer o país que os pariu, mas que os condenou a pertencerem à "Geração à Rasca", abandonando-os ao seu destino.
4 comentários:
Destino é o pensamento que expressa a crença de um povo pelas boas e más razões. Como todos os governantes ralham e não têm razão, comeram os nossos impostos,e o que sobra é dar-lhes um púcaro de água que é a única coisa que não se nega nem a um inimigo.
O Salazar impedia as saídas do país, mesmo aos mais desfavorecidos; o Coelho, na democracia, manda emigrar a "nata" da intelectualidade do país, com a agravante que isso representa. Qualquer dia fica o país, tal qual o interior.
Só me ocorre convidar o Primeiro Ministro a emigrar comigo. Até o deixo escolher o destino :)
Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (quase 89 anos),digo simplesmente:
A Pátria-Mãe p'ra mim madrasta/
empurrou-me p'rà emigração/
e maldita seja a Governação/
que Portugal p'rà miséria arrasta.
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