Já
não posso...
Já não posso esconder-me no escuro
como quando era menina.
Envolveu-me a cor que me deste,
no dia em que nossos poemas se fundiram.
Agora, mesmo de olhos fechados
trago esse azul profundo, agarrado à
retina.
E nem as palavras que sussurrava ao
vento,
já caem desamparadas no vazio.
Sei que as ouves quando as corriges
e me obrigas a reescrevê-las,
fazendo-as, tanto tuas como minhas.
Foram muitos, tantos...
os nomes que me ensinaste!
Com eles derrubei algumas pedras deste
muro
Fascinada pela grandeza que me
inventaste.
Não! Já nada será como dantes.
Porque agora a minha noite...não é mais
escura.
(Terá sempre o brilho azul da tua luz)
Sónia
M.
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Nota: O intimismo é
a principal linha de força da poesia de Sónia M. Um intimismo emotivamente
doloroso e triste, que percorre os trilhos da saudade, dos amores impossíveis e
de toda uma galeria de partidas e chegadas, sempre marcadas por um dramatismo
intenso e comovente. E o poema, onde melhor se enlaçam a saudade e a tristeza,
é o que se intitula "Despedidas", que a "poeta" escreveu em
"Notas do meu diário".
Neste poema, "Já não posso",
escrito em 2012, em que a "poeta" se socorre de um diálogo com um
hipotético interlocutor, que lhe apontou a luz do caminho e a grandeza do
talento, a melodia triste não a abandona, embora das palavras se solte um grito
contido de afirmação e de redenção, "Porque agora a minha noite...não é
mais escura".
Já nada será como dantes, principalmente aquele fulgor do primeiro instante.
Já nada será como dantes, principalmente aquele fulgor do primeiro instante.
2017 06 22