O
fogo do nosso descontentamento e da nossa revolta…
Ainda estou sob o efeito do espanto
sentido e da dor sofrida. Como é possível acontecer uma tragédia desta
dimensão, que deixa o país suspenso na dúvida se Portugal não é já a imagem do
inferno, quando todos andaram a apregoar que o nosso destino era o céu? E digo
isto, porque esta calamidade, além das causas estratégicas erradas, que estão a
ser seguidas, em relação à prevenção e ao combate aos incêndios na floresta
portuguesa, também entronca na esfera da acção política de todos os governos
anteriores, que consideraram desde sempre o interior rural como as portas do
quintal das traseiras do país. Perante o desgaste etário da desertificação
humana do interior, que se iniciou na década de sessenta, do século passado, e
que prosseguiu até à actualidade, devido à falta de oportunidades para os
jovens, os sucessivos governos privilegiaram a cidade e ignoraram o campo,
valorizaram o litoral e esqueceram-se do interior. E no interior, perante o
esgotamento da agricultura do minifúndio, o mato foi crescendo, constituindo-se
num barril de pólvora, que incendeia a floresta todos os anos, no pico do
Verão, alarmando as populações indefesas. E as chamas tanto podem ser
provocadas por um raio, vindo do céu, como por uma ponta de cigarro mal apagada
ou por um fósforo, activado por uma mão criminosa.
O actual governo, ao mesmo tempo que
deve dar prioridade à prevenção dos incêndios florestais, que praticamente não
existe, e não ignorando, todavia, o reforço dos respectivos meios para o seu
combate, deve também desenhar e activar o desenvolvimento económico do interior
rural do país, promovendo a fixação dos jovens e invertendo assim o ciclo da
desertificação humana.
2017 06 18
2 comentários:
Assino por baixo
Rogério Pereira
sócio nº 331 dos BVO
(com as cotas em dia)
Abraço, Rogério.
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