Já disse tantas vezes
Vieste ao meu quarto.
Os lençóis abertos, em flor, ainda brilham.
Aí desenhámos sonhos, naus, viagens,
olhos que desabaram em rosas e relógios maduros de ouro.
São como punhais em paredes de fogo, crescendo
pela ternura das estrelas, à noite.
O teu nome está na casa em cada esquina
onde viaja um peixe de prata,
Deus chama para dentro de uma caixa,
e arde no vidro onde te fechas.
As laranjas sobre a mesa vertem ouro líquido dos gomos.
Ao mar irei contigo por corredores de areia no outono.
Sou uma onda azul que vem e volta, em silêncio,
com as aves contentes em pleno voo
Quando a tarde se desmorona
no ponto mais alto das dunas,
leio alguns livros no teu corpo, na vigília das nuvens.
A casa é um jardim transparente onde habitas
com divindades e cisnes. E o sol vem para dentro
escutar a música do pátio,
enquanto bebes estrelas no poço do coração da noite.
Desde manhã que subiram as joias das romãs aos teus lábios
e este poema nasce e morre e ressuscita
na flor sacrificada do orvalho.
Já disse tantas vezes: amo-te.
E tu ficas como uma criança perdida…
maria azenha
Amabilidade da autorahttp://blocorecensoes.blogspot.pt/search?q=J%C3%A1+disse+tantas+vezes