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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Poema: Já disse tantas vezes - de maria azenha

Maria Azenha - "Já disse tantas vezes"
Voz da autora

Já disse tantas vezes

Vieste ao meu quarto.
Os lençóis abertos, em flor, ainda brilham.
Aí desenhámos sonhos, naus, viagens,
olhos que desabaram em rosas e relógios maduros de ouro.
São como punhais em paredes de fogo, crescendo
pela ternura das estrelas, à noite.
O teu nome está na casa em cada esquina
onde viaja um peixe de prata,
Deus chama para dentro de uma caixa,
e arde no vidro onde te fechas.
As laranjas sobre a mesa vertem ouro líquido dos gomos.
Ao mar irei contigo por corredores de areia no outono.
Sou uma onda azul que vem e volta, em silêncio,
com as aves contentes em pleno voo

Quando a tarde se desmorona
no ponto mais alto das dunas,
leio alguns livros no teu corpo, na vigília das nuvens.
A casa é um jardim transparente onde habitas
com divindades e cisnes. E o sol vem para dentro
escutar a música do pátio,
enquanto bebes estrelas no poço do coração da noite.
Desde manhã que subiram as joias das romãs aos teus lábios
e este poema nasce e morre e ressuscita
na flor sacrificada do orvalho.

Já disse tantas vezes: amo-te.
E tu ficas como uma criança perdida…

maria azenha
Amabilidade da autora
http://blocorecensoes.blogspot.pt/search?q=J%C3%A1+disse+tantas+vezes