Simplesmente
Mulher...
No Dia Internacional
da Mulher
Até Deus, logo que te viu,
no breve enlevo do paraíso,
te amaldiçoou com o pecado original...
E o Homem, através dos tempos,
impondo o poder que esse Deus lhe deu
nunca te perdoou o encantamento
da bíblica árvore em que se perdeu...
Em nome de Deus, Jeová e Alá,
Moisés, Cristo e Maomé,
cristãos, muçulmanos e judeus,
erguendo aos céus os sagrados livros,
impuseram o silêncio do teu corpo,
riscaram a tua existência, a tua voz...
E a tua vida, separada da tua pujança,
foi apenas uma sombra esquecida...
Benzeram-te com a peçonha
da vergonha
de teres nascido mulher...
E os homens ungiram a tua vagina
para aquecerem a sua volúpia
e dilatarem o teu vigoroso útero,
que pariu a humanidade inteira,
e esquecendo-se, sem remorsos,
da tua dimensão verdadeira...
Eras apenas mãe, esposa ou irmã,
na simples serventia de parideira, vivendo
ao ritmo das mamadas dos teus filhos...
E quando o vento mudava de feição
eras serpente, bruxa e feiticeira,
desgraçada e perdida rameira...
Mulher sem condição...
E tu eras simplesmente Mulher
(e não um objecto qualquer,
escondido na burka, no hábito ou no véu)...
Nem mesmo eras aquela outra Maria
que as asas de um arcanjo cobriu
E que, mesmo chamada virgem, pariu...
Alexandre de Castro
Lisboa, Março de 2005
Registado: IGAC/MC- 5467/2004