Na sua tomada de posse, Cavaco Silva apropriou-se indevidamente do discurso da esquerda. Percebe-se que o duro ataque dirigido ao governo, embora fundamentado e verdadeiro, ultrapassou os limites da contenção a que um Presidente da República deve submeter-se e obedeceu ao calculismo da sua ambição política, que consiste em transformar o palácio de Belém no centro de operações da oposição ao governo de José Sócrates. Quando afirmou que "impõe-se ao Presidente definir linhas de orientação e de rumos para a economia nacional", Cavaco Silva disse ao país o que pretendia fazer neste seu segundo mandato. E não é sua função, tal como claramente prescreve a Constituição, o de estabelecer linhas de orientação ao governo.
Perante o profundo descontentamento que grassa no país, e que é transversal ao eleitorado de todo o espectro partidário, incluindo o do Partido Socialista, Cavaco Silva, um homem de direita, escolheu as palavras certas para agradar a todos, capitalizando assim um trunfo importante, que vai fazer esquecer o seu passado, o mais recente e o mais remoto. Inclusivamente, colou-se ao movimento dos jovens da "Geração à Rasca", que dele receberam um importante estímulo para a sua manifestação de amanhã. Aqueles jovens indecisos, devido a um alinhamento ideológico e partidário mais conservador, e que, eventualmente, julgariam que se trataria de uma manifestação organizada pela esquerda, receberam o desejado sinal para avançar também.
Com a juventude nas ruas e com uma série de greves, que se avizinham, o centro da política foge do Parlamento e de S. Bento e passa para outros cenários, onde a demagogia de José Sócrates já não produz efeitos. Percebe-se, e isto já aqui foi dito várias vezes, que a partir de amanhã, a política vai jogar-se noutro tabuleiro, muito desfavorável à continuidade da política predadora, conduzida por este governo.
José Sócrates vai passar uma Quaresma muito difícil. Eu já tenho preparada para ele a Última Ceia", onde também vai aparecer um Judas. A crucificação (política, bem entendido) já não é comigo. É certo que faltam os milagres, que ele não fez, mas que os seus apóstolos irão inventar, embora venham a dar um realce particular ao seu único verdadeiro milagre, o da multiplicação da dívida, que suplanta, em grandeza, aquele que ocorreu com os pães, há mais de dois mil anos.
http://publico.pt/Política/cavaco-silva-arrasador-para-governo_1483973
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