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domingo, 6 de março de 2011

Escândalo na RTP! Homens da Luta vencem Festival da Canção 2011

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A brilhante vitória dos célebres "Homens da Luta" no Festival da Canção da RTP não pode deixar de ter uma leitura política. É a segunda vez que o festival não consegue evitar a provocação. Tal como aconteceu com a "Tourada" de Ary dos Santos e Fernando Tordo, o poder dominante ficou exposto ao ridículo, perante os milhões de portugueses que já ouviram ou vão ouvir a interpretação dos "Homens da Luta". Se, na "Tourada", eram os cornos do touro que falavam mais alto, neste caso, é mais a popularidade de um duo, que, de uma forma original, construiu a sua imagem, através do seu aparecimento público, sem pré-aviso, em múltiplas situações, e sempre a parodear as manifestações típicas do pós-25 de Abril, ao mesmo tempo que contextualizava uma mensagem, mediaticamente demolidora para o sistema político. Até José Sócrates já teve de ordenar à polícia para não deixar aproximar de si os "Homens da Luta". É que eles, ridicularizam através do próprio ridículo, o que é politicamente tóxico e perigoso e altamente corrosivo.
Nada mais irrita o poder dominante do que ver a televisão do Estado a ridicularizar o próprio Estado, ou, melhor dizendo, quem dele se apropriou para satisfazer interesses privados, em detrimento do interesse público. Nada mais irrita um reaccionário, um conservador ou uma pessoa de direita, do que ver aparecer na RTP imagens de cravos vermelhos, apelos à luta e ao protesto, cartazes com mensagens reivindicativas e ouvir slogans revolucionários. E os Homens da Luta, na sua actuação de ontem, tiveram lá isso tudo. E o mais grave, é que a Europa inteira também vai ver e ouvir. Um verdadeiroo escândalo para a velha e a nova aristocracia, que vêem o país como uma coutada pessoal.
O statu quo defendido pelos júris distritais, constituído por pessoas de perfil festivaleiro, foi quebrado pelo voto popular. Outro escândalo! À boa maneira salazarista, prevejo que, nos próximos anos, o método de eleição da canção vencedora seja alterado para arredar do processo o voto do público.
Também não pode escapar ao observador atento que a escolha do público (povo) foi impulsionada por um critério político e não estritamente musical. O povo não desperdiçou a oportunidade de votar no protesto, que os "Homens da Luta" já simbolizam. Os portugueses começam a compreender que não estão sozinhos no seu profundo descontentamento e na sua íntima revolta.

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