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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A Revolta de 31 de Janeiro de 1891 é uma referência no imaginário dos republicanos

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Amabilidade do amigo Mário Jorge Neves,
que enviou a imagem
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A Revolta de 31 de Janeiro de 1891 surge como resposta directa à pusilanimidade evidenciada pela da Coroa em relação ao ultimato britânico de 1890, em que se exigia a Portugal a cedência imediata dos territórios entre Angola e Moçambique (Mapa Cor-de-Rosa). Foi uma revolta impulsionada pelo grande sentimento de humilhação, que varreu o país de lés a lés, e que, para os republicanos, resultava da decadência do regime monárquico.
Sem suporte político, e sem uma adequada preparação de um plano militar consistente, fruto da impetuosidade irreflectida dos militares (sargentos, essencialmente), que a desencadearam no Porto, onde ainda chegou a ser proclamada a República e anunciado o seu primeiro governo, a revolta rapidamente foi sufocada pela Polícia Municipal e pelas forças leais à Coroa.
Nessa mesma manhã, em Lisboa, tinha reunido o Directório do Partido Republicano, que elaborara um plano político de longo prazo para implantação da República, mas que não referia, já que não estavam reunidas as respectivas condições objectivas, o recurso imediato ao levantamento militar, o que só veio a acontecer dezanove anos depois. Os republicanos mais irrequietos não se conformaram com tanta lentidão de processos para provocar a queda da Monarquia e os mais audazes lançaram-se cegamente, de improviso, numa aventura que acarretou mortes e feridos e, para a maioria dos activistas, o degredo ou exílio.
Mas o espírito do 31 de Janeiro rapidamente se transformou numa referência mítica para os republicanos, que sempre celebraram essa data com grande fervor patriótico.
Durante o fascismo, os republicanos, tal como faziam no cinco de Outubro, organizavam iniciativas patrióticas, que procuravam afrontar o poder totalitário do Estado Novo.
Raul Rego, íntegro republicano, historiador e jornalista, que também foi deputado constituinte, depois da revolução de Abril, aproveitava o seu jornal (primeiro o Diário de Lisboa, depois o República, de que foi director) para comemorar a efeméride.
Neste artigo, que aqui damos à estampa, Raul Rego refere-se a um bispo, sem o identificar, que esteve sempre ligado, até morrer em 1882, ao movimento liberal, contrastando assim com o reaccionarismo e revanchismo do restante clero católico. Trata-se do bispo de Viseu, D. António Alves Martins, que, em 1828, ainda estudante de Teologia, Filosofia e Matemática, na Universidade de Coimbra, foi preso e condenado à morte pelas forças miguelistas, então no poder, tendo, no entanto, conseguido fugir com um companheiro de infortúnio, iludindo a escolta militar que o conduzia, sob prisão, a Viseu, onde deveria ser enforcado.
A ele se atribui a célebre frase: "a religião deve ser como o sal na comida, nem de mais nem de menos". Morreu pobre no Paço Episcopal do Fontelo, em Viseu.
Camilo Castelo Branco, que era seu amigo, fez-lhe, nos seus escritos, referências elogiosas.

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