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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A política é a arte de saber mentir!...


Governo rejeita que bloqueio nos serviços contribua para abstenção
O director-geral da Administração Interna rejeitou hoje que o bloqueio do portal do cidadão e do serviço de SMS 3838 contribua para a abstenção e garantiu que as urnas encerrarão à hora prevista.
“Os dados não demonstram isso. Este problema só se verificou a partir da uma da tarde, e ao meio-dia nós já tínhamos uma afluência menor do que a que tínhamos tido em 2006, e não havia nenhum problema", disse hoje Paulo Machado na Direcção-Geral da Administração Interna (DGAI) em declarações aos jornalistas.
Jornal de Negócios 24-1-2011

Conselho de Ministros rejeita responsabilidades nas dificuldades em votar
A Presidência do Conselho de Ministros (PCM) clarificou que o cartão de cidadão “serve apenas para identificar” e “não possui o número de eleitor” em chip ou sob qualquer outra forma.
Deste modo, segundo o assessor de imprensa da PCM, a responsabilidade dos problemas que se verificaram no domingo, com os eleitores que tiveram dificuldades a votar, não estão relacionadas com o cartão de cidadão, uma vez que é a Direcção Geral da Administração Interna (DGAI) que tem a cargo a gestão do recenseamento.
No entanto, a página oficial do cartão de cidadão na Internet – gerida pela Agência para a Modernização Administrativa que pertence à Presidência do Conselho de Ministros – explica que o cartão de cidadão “agrega e substitui os actuais cartões de contribuinte, de utente do serviço nacional de saúde, de beneficiário da segurança social e de eleitor”.
PÚBLICO 24-1-2011

Ministro pede desculpa por incidentes nas votações das presidenciais
Foi a primeira declaração do ministro da Administração Interna, ainda antes de qualquer pergunta dos deputados. “Quero pedir desculpa pelo sucedido”, disse Rui Pereira, no início da audição no Parlamento, referindo-se aos problemas com o cartão do cidadão que impediram eleitores de votar no domingo.
Rui Pereira reafirmou que determinou a abertura de um inquérito para “apurar de forma exaustiva tudo o que se passou”. “A nossa preocupação é compreender o que se passou e impedir que volte a acontecer em futuras eleições", disse o ministro.
PÚBLICO 25-1-2011
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Se o leitor tiver pachorra para ler estes três recortes, que reproduzem afirmações de responsáveis governamentais e da administração central, produzidas em dias diferentes, a tentar grotescamente justificar as anomalias provocadas pelo cartão do cidadão, que impediram milhares de cidadãos de exercer o seu direito de votar, entenderá melhor o que eu quis dizer, na anterior postagem, quando escrevi: Não quero envolver-me na discussão metafísica de tentar saber onde acaba a verdade e começa mentira ou como é que os políticos conseguem misturar discursivamente aquelas duas categorias da lógica aristotélica.
Temos um canhestro director-geral a dizer que aquilo não era nada com ele; a presidência do Conselho de Ministros, grotescamente, a sacudir a água do capote; e o ministro da tutela, que já estava com as orelhas a arder e que já não podia negar o óbvio, a pedir desculpa aos portugueses, mas sem referir as consequências políticas e disciplinares a considerar, após a conclusão do inquérito que mandou instaurar.
Como se pode constatar, neste pequeno folhetim, a verdade e a mentira andaram naquela roda viva do "ora, agora vais tu, ora, agora vou eu", tentando amolecer a justa indignação da opinião pública e procurando ganhar espaço de manobra, à espera da esponja com que o tempo apaga a memória. E o baile irá continuar com o inquérito.
Não há dúvida nenhuma que, cada vez mais, a política é a arte de saber mentir.

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