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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Notas do meu rodapé: As nefastas políticas de Cavaco Silva

O filho de Boliqueime, principal responsável pelo “afundamento” do país
Dez anos como chefe de Governo, cinco como Presidente e dois como ministro. Francisco Lopes apontou esta quarta-feira o actual Presidente como o maior responsável pela situação do país.
"Foi dois anos ministro das Finanças, foi 10 anos primeiro-ministro e outros cinco Presidente. Pede outros com iguais responsabilidades, mas é difícil encontrar quem tenha mais responsabilidades no afundamento do país e pela injustiça social que vivemos.”
PÚBLICO
Lopes acusa Cavaco de aniquilar uma “geração de indústrias do país”
O dirigente comunista acusou Cavaco de “lançar poeira para os olhos” dos portugueses e de aniquilar com “uma geração de indústrias no nosso país”. “Não esquecemos que foi com ele como primeiro-ministro que foi liquidando grande parte da indústria naval, da indústria química, da indústria metalo-mecânica, da indústria da pesca”, afirmou num jantar com apoiantes, na Moita
PÚBLICO
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E Francisco Lopes tem carradas de razão. A origem da actual situação do país tem o foco da sua origem no período do consulado cavaquista. E é muito difícil passar esta imagem aos portugueses, mais precisamente aos eleitores mais novos, cuja maioria nem sequer saberá que Cavaco Silva governou o país durante 10 anos, apoiado em duas maiorias absolutas. Mas é preciso explicar-lhes, como fez Francisco Lopes, o fundamento de tal acusação.
Em primeiro lugar, Cavaco Silva foi o responsável pela introdução do ideário neoliberal em Portugal, inspirando-se nas teorias do guru Milton Friedman, um economista norte-americano da escola de Chicago, e que tinham começado a ser duramente aplicadas nos EUA, por Ronald Reagan, o presidente cowboy, e, na Grã Bretanha, por Margaret Thatcher, a chamada Dama de Ferro.
Milton Friedman propunha - em contraponto ao pensamento de Keynes, que inspirara a política económica dos países ocidentais desde a Grande Depressão até à crise petrolífera no início da década de setenta do século passado - a não intervenção do Estado na economia, (e que se fazia através da aplicação de políticas anti-cíclicas), ao mesmo tempo que defendia a total desregulamentação dos mercados, já que estes, por si só, acabariam por se auto-regular em função da oferta e da procura. Nos dias de hoje, todos nós sabemos as desastrosas consequências dessa selvagem desregulamentação, que acabou por desencadear uma crise económica e financeira, cujo fim ainda não é perceptível no horizonte. Com esta crise, caiu por terra a apologia da falácia de um Estado não interveniente, já que foi o Estado, com o dinheiro dos contribuintes, que teve de socorrer os bancos e as empresas, para evitar a sua insolvência. Os economistas neoliberais eclipsaram-se perante a hecatombe da falência do sistema financeiro nos Estados Unidos e tiveram de engolir muitos sapos com a evidência do fracasso das suas teorias, que apenas facilitaram a consolidação do capital financeiro e a sua planetária vocação especulativa, bem como deram a base de sustentação teórica para o galopante fenómeno da deslocalização.
Cavaco Silva, cujo formação foi rigidamente formatada pela sebenta dos neoliberais, o que lhe encurtou as vistas e obnubilou o pensamento, engasgar-se-ia se tivesse de voltar a bolçar as suas lições de economia. enquanto se dedicou à docência. O vómito provocar-lhe-ia o mesmo esgar facial, do que o provocado pela mastigação falante do bolo-rei.
O seu primeiro grande erro, enquanto primeiro ministro, situou-se ao nível do planeamento estratégico do desenvolvimento económico do país. Como tecnocrata que é, apenas avaliou os investimentos e os custos operacionais imediatos, esquecendo-se dos efeitos gravosos a longo prazo, e que agora ganham clara evidência na existência de acentuadas assimetrias regionais, pois o interior do país foi completamente ignorado. Pretendeu fazer da Grande Lisboa o principal pólo de desenvolvimento, concentrando aí os grandes investimentos públicos com o dinheiro fácil, que vinha de Bruxelas, a fim de atrair os investimentos privados. Esta falha na coesão territorial, que se mantém ainda hoje, está revelar-se dramática nesta época de crise, já que nas regiões menos desenvolvidas, existem menos ofertas de emprego.
O seu segundo erro, também estratégico, envolve o sector da educação. Ao permitir a abertura e o funcionamento de universidades privadas, que cresceram como cogumelos, Cavaco Silva, acreditando que o mercado saberia escolher as melhores instituições do ensino superior, abriu o caminho para a proliferação de cursos de baixo investimento (Direito, Letras e Economia), que formaram licenciados mal preparados e em número excessivo, em relação às necessidades do país, o que é uma forma irresponsável de gerar desperdício. Com esta política, não se formou a massa crítica, necessária para o desenvolvimento do país.
O total descontrolo da gestão de verbas comunitárias, que permitiram todos os abusos por utilização indevida, a indiferença perante o trabalho infantil, a ausência de políticas sociais estruturantes e coerentes, a passividade perante as ordens de Bruxelas para o abate de barcos de pesca, a ausência de apoio à agricultura portuguesa, o exagerado aumento da despesa do Estado, que não soube reestruturar na devida altura, e a submissão aos grupos económicos, que consolidaram o seu domínio sobre a política, constituíram entorses, cujos efeitos negativos viriam a repercutir-se no futuro. Foi um péssimo primeiro ministro.

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