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É uma entrevista desassombrada. O ilustre sociólogo Boaventura de Sousa Santos tem uma visão correcta sobre as causas e a evolução da actual crise e das suas previsíveis consequências. No entanto, eu não aceito lá muito bem a tese que sustenta a ideia de que este ataque ao euro se destina a defender a posição do dólar, como moeda internacional de pagamento, embora o resultado, na prática, venha a ser esse. A especulação em torno das dívidas soberanas é igual à especulação utilizada em todos os negócios existentes nas bolsas de valores, e estes credores não fazem fretes aos políticos e, normalmente, tal como o dinheiro, também não têm Pátria. Neste jogo, eles procuram essencialmente dois objectivos. Em primeiro lugar, assegurar o retorno do capital emprestado. Em segundo lugar, ganhar o mais possível, aproveitando as oportunidades do mercado e as fragilidades dos devedores, sem se preocuparem minimamente com as tragédias que possam provocar (e, pelos vistos, nem os governantes se preocupam). Para eles é indiferente a moeda com que negoceiam. Se o euro passasse a ser a moeda preferida para os pagamentos internacionais, eles imediatamente convertiriam os seus dólares em euros, e seria esta moeda que eles iriam adoptar nos seus negócios. É pois redutor resumir esta ofensiva contra os países europeus da periferia como uma mera manobra especulativa para destruir o euro. Para assegurar o retorno, os credores avaliam muito bem as condições de solvibilidade e as perspectivas de crescimento económico dos países que vendem a sua dívida soberana. E todos sabemos que os países da Europa do Sul e a Irlanda apresentam grandes dificuldades, porque todos eles gastaram mais do que aquilo que produziram. Os défices orçamentais crónicos e os défices comerciais e das balanças de pagamentos, que exigem cada vez mais endividamento externo, acabam por lançar o pânico nos credores, que têm receio de perder o seu dinheiro, o que os leva a aumentar os respectivos juros. Mas não é só a nível orçamental que a avaliação de cada país é efectuada. Para eles também é importante saber se um determinado país está em condições de promover um crescimento económico sustentado, de modo a assegurar os compromissos financeiros assumidos E, como sabemos, em Portugal, no actual quadro, não se vislumbra nenhuma janela de oportunidade, que assegure aquele desiderato, a não ser através de uma grande baixa ao nível de salários, o que nos conduziria à situação imediatamente anterior à adesão à União Europeia. Portugal está a pagar a insanidade dos políticos dos últimos trinta anos e o parasitismo da maioria dos empresários. Uns e outros não souberam lançar projectos inovadores e arrojados que catapultassem Portugal para a rampa do desenvolvimento sustentado. Néscios, oportunistas e irresponsáveis (alguns corruptos), não aproveitaram as janelas de oportunidades da globalização, condenando, assim, o povo português a ter de sofrer as consequências negativas dessa mesma globalização.
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