Nunca o voto do eleitorado socialista se terá fragmentado tanto e em tantas direcções como nas presidenciais do passado domingo.
Manuel Alegre era o candidato oficial do PS, mas a contragosto de muitos socialistas, que não lhe perdoam a colagem dos últimos anos à esquerda radical e às teses do Bloco de Esquerda, a rebeldia antipartido do seu avanço contra Mário Soares em 2006 ou as críticas recorrentes à governação de Sócrates.
De acordo com o modelo de transferência de voto assente em matrizes a nível distrital, Alegre não terá captado mais de 1/5 dos eleitores socialistas (cerca de 405 mil dos mais de 2 milhões obtidos pelo PS nas últimas legislativas, de Setembro de 2009 - quase tantos como os 380 mil que terá ido buscar ao eleitorado do BE...).
Manuel Alegre era o candidato oficial do PS, mas a contragosto de muitos socialistas, que não lhe perdoam a colagem dos últimos anos à esquerda radical e às teses do Bloco de Esquerda, a rebeldia antipartido do seu avanço contra Mário Soares em 2006 ou as críticas recorrentes à governação de Sócrates.
De acordo com o modelo de transferência de voto assente em matrizes a nível distrital, Alegre não terá captado mais de 1/5 dos eleitores socialistas (cerca de 405 mil dos mais de 2 milhões obtidos pelo PS nas últimas legislativas, de Setembro de 2009 - quase tantos como os 380 mil que terá ido buscar ao eleitorado do BE...).
Semanário SOL
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Manuel Alegre pagou caro a sua rebeldia. Mário Soares montou-lhe a armadilha e José Sócrates acabou por lhe fazer a cama. Quer um, quer outro, são ardilosos na vingança e não perdoam a ousadia de quem os afronta. Foi deprimente ver Manuel Alegre praticamente sozinho, na noite eleitoral. Os seus amigos socialistas abandonaram-o; Maria Belém, por dever de ofício, ficou, embora, já antes, na conferência de imprensa em que anunciou a derrota do candidato, tivesse exibido o ar mais distante e descontraído do mundo, como a dizer que aquilo não era nada com ela. Francisco Louçã, que já aprendeu todas as manhas dos políticos, apareceu no fim do velório. Passou à margem da derrota. Ninguém referiu a derrota do BE, e, para Louçã, isso já foi uma meia vitória, porque o derrotado foi o Manuel Alegre.
http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=10261
6 comentários:
Não sei se valerá a pena fazer contas às perdas desta forma e se não bastará apenas dizer que ficaram de fora 5 193 584 eleitores, (Cinco milhões, cento e tal mil!…) isto tem obviamente algum significado e é para todos: começa a haver qualquer coisa de errado nesta forma de representatividade do cidadão.
Caro Grazina:
Eu, neste espaço, já fiz as contas que tinha a fazer, e tirei as minhas conclusões, que valem o que valem.
Quando um Presidente da República é eleito apenas por vinte e três por cento dos eleitores inscritos e a abstenção atinge cinquenta e três por cento, é porque algo vai mal na casa da democracia.E eu, já há muito tempo que sustento a tese de que são os democratas (ou os que se dizem democratas) que matam a democracia. A queda da primeira Repúbhlica é um exemplo disso.
E termino, citando Almada Negreiros:
"Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!"
Um abraço
Terminou com o Almada, rendo-me.
Caro Grazina:
Ao nível da nossa discussão, não há, nem pode haver, vencedores nem vencidos. Pode haver perspectivas diferentes nos modelos de avaliação à actual situação, que é muito crítica. Ninguém se pode arvorar à posse da verdade absoluta. Cada um, dentro das suas possibilidades, dá o seu contributo, mas não pode negligenciar o pensamento de outrém.
Se outrora discutia política pelo prazer intelectual que recolhia, hoje discuto-a por necessidade, já que estou muito preocupado com o futuro deste país. Temo um cataclismo social devastador. Não compreendo como se pode viver, acumulando dívidas sobre dívidas, com a agravante de a economia não conseguir desenvolver-se. Já não temos força para perseguir as performances das economias mais desenvolvidas e temos à perna as economias de países menos desenvolvidos. A tenaz está a apertar-se. E, acima de tudo, caro Grazina, tenho medo.
Um abraço
Apareça sempre. Eu também o visitarei.
Esqueci-me da referência ao Almada Negreiros. Sei que o aprecia muito. Eu também, embora ele fosse um fervoroso apoiante do Estado Novo e de Salazar. Mas não será a sua posição política, que lhe censuro, que irá retirar-lhe todo o seu grande mérito literário e artístico. Almada foi o grande pioneiro, juntamente com Pessoa e todo o grupo do Orpheu, a introduzir o modernismo em Portugal. Em 1913, Portugal já estava a aderir à revolução modernista na literatura e nas artes plásticas,nascida em Itália, em 1910. Esta precocidade contrastava com a lentidão da adopção de anteriores movimentos literários, durante o século XIX, o que muito impressionou o grande Unamuno, que visitou algumas vezes Portugal, onde tinha amigos.
Para mim, que sou apenas um curioso nestas coisas, o poema do Dantas constitui, pelo que ele tem de inovador, na forma, no estilo e no tema, uma das peças literárias mais importantes da Literatura Portuguesa. É um poema fracturante, que remove o bolor e o marasmo da nossa literatura, no princípio do século XX, adormecida que estava à sombra de dois gigantes, o Camilo e o Eça.Tudo o resto era para deitar fora.
Alexandre:
Noto que muito do que escreve tem subjacente o receio quanto à evolução da situação do nosso país. Ambos concordamos quanto à dificuldade da inversão das causas desses problemas, e se sei que esse medo nada tem a ver com o que é provocado pela falta de coragem, sei que é apesar de tudo um medo pelo qual não nos devemos deixar dominar, porque o medo, até os animais o pressentem nos outros, logo, só temos que mudar de atitude para não abrir às hienas algum dos flancos. Deveríamos concentrar-nos numa luta comum e não em procurar reforçar posições através da disputa de eleitorados no mesmo espectro. Eu tento fazer isso, quando evito o mais que posso criticas públicas à Esquerda.
Quanto ao Almada é verdade, tenho-o estranhamente como referência sempre que falo destas lutas, que passam muito pela mudança de mentalidades, mas tapando sempre essa outra parte dele, como faço ou fazemos também com Pessoa.
Abraço.
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