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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Outra vez, João Abel Manta...



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Neste tríptico, João Abel Manta capta o lado mais misterioso de Salazar: a sua solidão. A solidão da sua vida de asceta, da qual não se lhe conheciam vícios, e a sua solidão no exercício do poder, o que lhe era politicamente vantajoso. E o ditador usou e abusou da exposição pública dessa solidão, para construir à sua volta o mito do salvador a Pátria. Para o caracterizar melhor, Abel Manta enquadrou-o num palácio de estilo neoclássico, realçando assim o seu enraizado conservadorismo.
Vestindo sempre Salazar de negro, para realçar o hábito que lhe ficou dos tempos do seminário, Abel Manta caricaturou-lhe a vocação solitária para o poder absoluto, o que norteou toda a sua vida política, e, num rasgo genial do seu traço, escreveu, numa sintese perfeita, a história do ditador, fazendo suceder ao Salazar mais novo e ao Salazar mais velho, o vazio da terceira janela, simbolicamente eficaz na sua leitura imedita, e com que pretendeu afirmar que os regimes ditatoriais raramente sobrevivem à morte dos seus fundadores.

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