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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Mark Blyth: A austeridade é uma ideia perigosa

Amabilidade do João Fráguas, que enviou este vídeo.
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Imediatamente antes de receber este esclarecedor vídeo, o meu amigo João Fráguas enviara-me de Itália uma mensagem, onde, a certa altura, recorre a uma citação de Karl Marx, em Das Kapital, 1867: "Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que a dívida se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado", para depois acrescentar que "qualquer semelhança com a actualidade não é mera coincidência", concluindo, por fim, que esta afirmação do grande economista e filósofo, Karl Marx, que não está nada desactualizado em relação ao nosso tempo, constitui uma "previsão com quase 150 anos".
Respondi-lhe que, nesta crise, dominada pela cartilha neoliberal, a manobra foi mais sofisticada. Em vez de proceder à nacionalização da banca, medida política que punha em causa as bases do sistema capitalista, os países ocidentais optaram por injectar, sem obrigatoriedade de retorno, somas avultadas de dinheiro (dos contribuintes) no sistema financeiro e, em alguns casos, criaram os bed banks para onde os bancos privados despejaram o lixo tóxico (os activos considerados irrecuperáveis). Para que não houvesse sobressaltos na opinião pública, os governos apresentaram estas medidas como necessárias para o relançamento da economia.
Mas, ao socorrer os bancos, os Estados iriam à falência se, entretanto, não procedessem à sua recapitalização. Pondo de lado o aumento de impostos, devido à sua impopularidade, os governos recorrerm ao estratagema de proceder a cortes gigantescos nas políticas sociais estatais, que, naturalmente, atingiram os sectores mais fragilizados da sociedade (desempregados, idosos com pensões mínimas, jovens à procura do primeiro emprego), e, no sector da saúde, agravaram os custos ao seu acesso e à sua utilização.

2 comentários:

João Mota disse...

O discurso político é, em geral, falacioso. A "austeridade" é um exemplo disso, já que o uso de eufemismos é considerado uma falácia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_fal%C3%A1cias. Neste caso, o eufemismo não é usado com propósito irónico, mas é sim utilizado para convencer. Aconselho a impressão da lista de falácias da ligação anterior, e a sua afixação ao lado da televisão. Verão que os telejornais concorrem com a indústria publicitária para ver quem consegue convencer usando o maior número de falácias.

Alexandre de Castro disse...

Obrigado, João. Já sei que chegaste bem aos Estados Unidos.
Tio Alexandre