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domingo, 22 de maio de 2011

Um Poema ao Acaso: o anjinho cupido - valter hugo mãe


O anjinho cupido

estávamos a grelhar o anjinho cupido e o
anjinho cupido grelhado é como um
franguinho encolhido sem muita diferença
resolvemos comer o amor porque a
fome era tanta e o amor um desperdício

as flechinhas, com as quais o
anjinho cupido se preocupava tanto, serviram
para fazer o lume, arderam bem e
com facilidade. íamos meter as
flechinhas no cu para as mandar às
urtigas e vingarmo-nos de algum modo, mas
o lume era essencial e a fome grande e
o anjinho cupido tão tenrinho, nós
queríamos mesmo era comer

de barriga cheia sentimos o coração
mirrar, mas nada que não pudéssemos
esperar. foi até engraçado estarmos de
papo para o ar, o sol quentinho, uma brisa
fresca a vir do norte, um sossego dos
bons, e sentir no peito um ratinho a emagrecer
como se tivesse feito exercício e ganho
juízo. comer o amor dá saúde, pensámos, e
a vida de ali em diante tem sido só
graça

a mim, a barriga do cupido soube-me
bem e curou-me a tristeza
a mim, os braços do cupido souberam-me
bem e curaram-me a tristeza
a mim, o rabinho do cupido soube-me
bem e curou-me a tristeza
curado da tristeza, compreendo agora, tudo
me sabe bem

valter hugo mãe

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