Percentagem de crianças em agregados familiares pobres, OCDE
Portugal é um dos países da OCDE onde a percentagem de crianças em agregados familiares pobres é mais elevada |
Não são apenas as crianças que vivem com rendimentos abaixo do limiar de pobreza que são pobres. São também aquelas cujo bem-estar é afectado por condições de vida "deficientes" - e que, por isso mesmo, se considera que estão "em privação". É com base nesta abordagem que uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade Técnica de Lisboa, conclui que cerca de 40 por cento das crianças portuguesas vivem em "situação de pobreza".
Mas vamos por partes: uma em cada quatro crianças (23 por cento) estava, em 2009, inserida em famílias com rendimentos abaixo do limiar de pobreza; 27 por cento viviam uma situação de privação, tendo em conta 12 indicadores (ver entrevista). E mais de uma em cada dez (11,2 por cento) acumulava a forma mais gravosa de pobreza - estava em privação e, ao mesmo tempo, os seus agregados dispunham de rendimentos abaixo do limiar de pobreza.
PÚBLICO
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Um dos méritos do estudo, efectuado pelos investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), reside no facto de ter alargado o conceito da pobreza infantil, não a confinando apenas às condições económicas e monetárias. O estudo valorizou também, através de doze parâmetros, as situações de privação, que apanham aquelas crianças de famílias que (ainda) não se encontram abaixo do limiar de pobreza. E aqui, vista desta perspectiva, a situação é aterradora.
A pobreza infantil aumentou ao longo da primeira década deste século, acompanhando o declínio da economia, mesmo apesar dos específicos programas das políticas sociais implementados pelo governo. Com a suspensão destes apoios, principalmente ao nível do abono de família, e com o esperado empobrecimento da população mais vulnerável, incluindo a da classe média baixa, resultante da aplicação cega das medidas draconianas, impostas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, o futuro de cerca de 40 por cento das crianças portuguesas vai ser dramático. Se, neste domínio, a posição relativa de Portugal, ao nível da classificação da OCDE, já não é famosa, nos próximos anos ela tenderá a agravar-se, sem que isto venha a constituir qualquer escândalo para os políticos e ara a sociedade em geral.
Já aqui escrevi que um país que não sabe tratar das suas crianças e dos seus idosos não merece existir. E Portugal aproxima-se a passos largos do limiar dessa vergonhosa condição.
Seria saudável que os dirigentes dos partidos do arco da traição, de onde irá sair o que vai executar o programa de governo da troika, lessem atentamente o estudo do ISEG e anunciassem aos portugueses como pensam lidar com esta situação.
http://publico.pt/Sociedade/duas-em-cada-cinco-criancas-vivem-em-situacao-de-pobreza_1496617
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