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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Notas do meu rodapé: Com amigos destes prefiro os meus inimigos


Opinião no Financial Times: Grécia e Portugal sairão do euro mais cedo ou mais tarde, diz o economista Simon Tilford
O economista Simon Tilford acredita que Portugal e a Grécia poderão sair da zona euro dentro de poucos anos. Mesmo com o plano de assistência financeiro a Portugal desenhado pela UE e o FMI, com medidas menos draconianas do que as dos pacotes de ajuda à Grécia e à Irlanda, o programa de ajustamento ao país “vai certamente sofrer um destino semelhante”, nota num artigo publicado ontem no Financial Times.
PÚBLICO 12.05.2011
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Esta é também a minha opinião, tal como tenho referido aqui. Uma moeda única forte não serve os interesses da nossa economia. Apenas serve os interesses das economias mais desenvolvidas da Europa, mais concretamente os da Alemanha e os da França. E essa opção deve ser tomada quanto antes, de modo pacífico, recorrendo à renegociação da dívida.
Aliás, foi a partir da adesão à moeda única, que o valor da dívida e o valor do défice orçamental começaram a crescer. A crise financeira de 2008 mais não fez do que agravar uma situação que já vinha a degradar-se desde o início deste século, momento em que terminou o breve ciclo de crescimento da economia portuguesa, que tinha reanimado, a partir de 2005, já não na base do aumento das exportações, como aconteceu entre 1986-1990, mas sustentada principalmente pelo consumo de bens não transacionáveis. E se esta análise tivesse sido feita na altura, Portugal não teria chegado a este ponto. E isto transporta-nos a outra questão, ao sistema político e à incompetência dos nossos políticos, os do PS e os do PSD, os únicos responsáveis pela desgraça do país. Se repararmos bem, Portugal continua sem uma estratégia de desenvolvimento a longo prazo, a não ser aquela, de curto prazo, que foi desenhada e imposta pela troika (UE-FMI-BCE), e que, como também já se disse aqui, vai contra todos os princípios da racionalidade económica. Como afirmam os dois nobilizados, Josephe Stiglitz e Amartya Sen, não é em períodos de recessão económica que se corrigem os défices orçamentais e se pagam as dívidas, pois isso só pode ser feito sustentadamente quando a economia entra em crescimento. E estes dois notáveis economistas recorrem ao exemplo da Alemanha, depois da II Guerra Mundial, que só começou a pagar a sua dívida aos EUA, contraída para operar a sua reconstrução, depois de a sua economia ter começado a crescer nos fins dos anos cinquenta e princípios do anos sessenta, do século passado.
Também é necessário dizer que não se pode falar em plano de ajuda, por parte da UE, quando o seu empréstimo a Portugal vem amarrado a uma taxa de juro a 5,7%. Com amigos destes, prefiro os meus inimigos.  

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