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sábado, 21 de maio de 2011

Notas do meu rodapé: A eloquência da linguagem fílmica

LOVEFIELD (Short Film by Mathieu Ratthe)
Sugestão do João Fráguas
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Um filme magnífico, que apresenta toda a expressividade da linguagem fílmica, tendo-se ido ir buscar o culto do suspense ao grande realizador Alfred Hitchcock, mas subvertendo-lhe, pelo jogo do efeito surpresa, o espectáculo do terror.
O realizador encaminha o espectador (e a sua curiosidade) pelo trilho rasgado num vasto campo de trigo, exibido exuberantemente numa grande panorâmica, com a imensa seara a ondular ao vento e, abdicando da palavra, socorre-se apenas do som e da imagem, recuperando assim a pureza da particularidade única que emancipou a sétima arte e a tornou distinta de todas as outras manifestações artísticas. Uma banda musical de ritmo sincopado, com predominância da modulação dos agudos, típica nos filmes de terror, um telemóvel abandonado no chão, um pano ensanguentado, como se tudo aquilo fosse um cenário com os destroços de uma violenta luta, o ranger irritante e inquietante de uma tabuleta de sinalização vertical, na estrada próxima, a balouçar pendularmente, devido ao vento, e que o realizador esconde previamente do espectador, a obsessiva presença de um corvo, no seu gralhar persistente, talvez, pensa o espectador, a anunciar desgraça e morte, aquele pé descalço e sujo, a contorcer-se de dor, já que se ouvem gemidos lancinantes, e, depois, a explosão daquele punhal que uma mão enterra violentamente na terra, ao mesmo tempo que a música se suspende bruscamente. Crime, assassinato de uma mulher, pensa o espectador. O homem, o presumível assassino, é mostrado pelo movimento lento e minucioso da câmara, nos seus pormenores mais chocantes: bíceps desenvolvidos, tatuagens de mau gosto no braço, tronco encorpado, e um rosto duro, a evidenciar preocupação. E o persistente gralhar do corvo! Uma fuga precipitada do homem para junto do carro, na estrada, a procura de algo, que se não se pode adivinhar, e, por fim, uma manta, que, julga o espectador, irá servir para cobrir o cadáver. Um enquadramento perfeito dos diferentes planos narrativos, utilizando a câmara e contando a história, apenas com imagens, aqui utilizadas como meio de comunicação privilegiado.
Agradavelmente, o espectador descobre que foi enganado pelo realizador, e que, afinal, aquele homem rude e de aparência violenta, capaz de cometer as maiores torpezas, era um herói que aparece a sorrir de felicidade, por ter ajudado a nascer uma criança, num campo florido de trigo.
Uma realização exemplar, que utilizou a economia de meios proporcionada pela gramática da linguagem da narração fílmica, através da eloquência da imagem.

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