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domingo, 29 de maio de 2011

Casualidade, causalidade - Opinião de Manuel António Pina



Casualidade, causalidade

Talvez tenha visto mal mas não me apercebi de que, como vem sendo feito na Net, algum jornal se tenha ainda interrogado sobre a sucessão de três notícias em pouco mais de dois meses que, isoladas, talvez só tivessem lugar nas páginas de Economia mas que, juntas, e com um director ou um chefe de redacção curiosos de acasos, até poderiam ter sido manchete.
A primeira, de 16 de Março, a da renúncia - dois anos antes do termo do seu mandato - de Almerindo Marques à presidência da Estradas de Portugal (para que fora nomeado em 2007 pelo então ministro Mário Lino), declarando ao DE que "no essencial, est[ava] feito o [s]eu trabalho de gestão".
A segunda, de 11 de Maio, a de uma auditoria do Tribunal de Contas à Estradas de Portugal, revelando que, com a renegociação de contratos, a dívida do Estado às concessionárias das SCUT passara de 178 milhões para 10 mil milhões de euros em rendas fixas, dos quais mais de metade (5 400 milhões) coubera ao consórcio Ascendi, liderada pela Mota-Engil e pelo Grupo Espírito Santo. Mais: que dessa renegociação resultara que o Estado receberá, este ano, 250 milhões de portagens das SCUT e pagará... 650 milhões em rendas.
E a terceira, de há poucos dias, a de que Almerindo Marques irá liderar a "Opway", construtora do Grupo Espírito Santo.
O mais certo, porém, é que tais notícias não tenham nada a ver umas com as outras, que a sua sucessão seja casual e não causal.
Manuel António Pina
2011-05-26
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Comentário: O compadrio, a promiscuidade entre o Estado e os negócios privados e a corrupção a eles associada constituem verdadeiros cancros da vida pública do país, e que o documento da troika não inventariou como uma das principais causas estruturais do descalabro a que se chegou, como muito bem afirmou Jerónimo de Sousa. Não há nenhum grande projecto, onde não apareçam fumos de corrupção, associados ao favoritismo político. Mais. A opção por alguns  desses grandes projectos obedece mais à lógica da satisfação dos interesses particulares dos intervenientes do que à nobre causa do bem público. E nenhuma economia resiste, quando os dinheiros públicos são desbaratados desta maneira escandalosa. O problema já é antigo, mas começou a ganhar uma grande dimensão com a entrada dos primeiros fundos da então CEE, tendo-se agravado na última década, com a chegada ao poder dos aventureiros políticos sem escrúpulos, cujo principal objectivo é promover o seu próprio enriquecimento pessoal, muito bem escondido nas malhas dos off shores.
Com este tipo de comportamento, que ofende a Ética e a Moral, Portugal não conseguirá sobreviver nem integrar-se no círculo dos países civilizados.

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