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terça-feira, 31 de maio de 2011

Um Poema ao Acaso: Discussão - Mário Henrique Leiria


Discussão

- Desconfio que a democracia não resulta. Juntam-se astronautas,
bodes, camponeses, galinhas, matemáticos e virgens loucas e
dão-se a todos os mesmos direitos.
Isso parece-me um erro cósmico. Desculpa.

Desculpei mas fiquei ofendido. Que a democracia era aquilo
mesmo, e ainda com conversa fiada como brinde, isso sabia eu.
Que mo viessem dizer, era outra coisa.
Fiquei ainda mais ofendido, até porque não gosto de erros cósmicos.
Acho um snobismo.

- Eu sou democrático - rugi entre dentes, como resposta. - Tenho
amigos no exílio, todos democráticos.
Foram para lá por serem democráticos.
É um sacrifício que poucos fazem, ir para o exílio e ser professor
universitário exilado e democrático.
Eras capaz de fazer isso ?

- Não sou democrático.

Não havia resposta a dar. Nenhuma. Ele não era democrático, não
sabia de democracia.

Eu sim, sou democrático, até já quis ir à América, que me
afirmaram que lá é que é a democracia.

Recusaram-me o visto no passaporte, disseram
que eu era comunista!
Viram isto ?

Mário Henrique Leiria
Contos do Gin-Tonic

Jovem muçulmana apedrejada até à morte


Katya Koren, uma jovem muçulmana, foi apedrejada até à morte por ter participado num concurso de beleza na Ucrânia. Os alegados autores do crime justificam o acto dizendo que a jovem violou as leis islâmicas.
Jornal de Notícias
***
Daqui a uns anos acabam-se os concursos de beleza na Europa, a não ser que as mulheres comecem a desfilar de burka e mostrando apenas o a ponta do tornozelo, o que deve ser muito excitante para os seguidores do profeta.
Que eu saiba, esta é a primeira lapidação de uma mulher em território europeu. 
Eu já escrevi aqui que ainda iria ver a raínha Isabel II, vestida com a burka.

Portugal: Duas em cada cinco crianças vivem em situação de pobreza

Percentagem de crianças em agregados familiares pobres, OCDE
 Portugal é um dos países da OCDE onde a percentagem de
crianças em agregados familiares pobres é mais elevada

Não são apenas as crianças que vivem com rendimentos abaixo do limiar de pobreza que são pobres. São também aquelas cujo bem-estar é afectado por condições de vida "deficientes" - e que, por isso mesmo, se considera que estão "em privação". É com base nesta abordagem que uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade Técnica de Lisboa, conclui que cerca de 40 por cento das crianças portuguesas vivem em "situação de pobreza".
Mas vamos por partes: uma em cada quatro crianças (23 por cento) estava, em 2009, inserida em famílias com rendimentos abaixo do limiar de pobreza; 27 por cento viviam uma situação de privação, tendo em conta 12 indicadores (ver entrevista). E mais de uma em cada dez (11,2 por cento) acumulava a forma mais gravosa de pobreza - estava em privação e, ao mesmo tempo, os seus agregados dispunham de rendimentos abaixo do limiar de pobreza.
PÚBLICO
***
Um dos méritos do estudo, efectuado pelos investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), reside no facto de ter alargado o conceito da pobreza infantil, não a confinando apenas às condições económicas e monetárias. O estudo valorizou também, através de doze parâmetros, as situações de privação, que apanham aquelas crianças de famílias que (ainda) não se encontram abaixo do limiar de pobreza. E aqui, vista desta perspectiva, a situação é aterradora.
A pobreza infantil aumentou ao longo da primeira década deste século, acompanhando o declínio da economia, mesmo apesar dos específicos programas das políticas sociais implementados pelo governo. Com a suspensão destes apoios, principalmente ao nível do abono de família, e com o esperado empobrecimento da população mais vulnerável, incluindo a da classe média baixa, resultante da aplicação cega das medidas draconianas, impostas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, o futuro de cerca de 40 por cento das crianças portuguesas vai ser dramático. Se, neste domínio, a posição relativa de Portugal, ao nível da classificação da OCDE, já não é famosa, nos próximos anos ela tenderá a agravar-se, sem que isto venha a constituir qualquer escândalo para os políticos e ara a sociedade em geral.
Já aqui escrevi que um país que não sabe tratar das suas crianças e dos seus idosos não merece existir. E Portugal aproxima-se a passos largos do limiar dessa vergonhosa condição.
Seria saudável que os dirigentes dos partidos do arco da traição, de onde irá sair o que vai executar o programa de governo da troika, lessem atentamente o estudo do ISEG e anunciassem aos portugueses como pensam lidar com esta situação.
http://publico.pt/Sociedade/duas-em-cada-cinco-criancas-vivem-em-situacao-de-pobreza_1496617

Portugal recebe hoje 1,75 mil milhões de euros de Bruxelas


Portugal recebe hoje a primeira tranche da União Europeia, no valor de 1,75 mil milhões de euros e na quarta-feira recebe mais 4,75 mil milhões de euros.
PÚBLICO
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Os dirigentes políticos dos partidos do arco da traição suspiraram de alívio. Já há dinheiro para a renovar a frota de automóveis topo de gama para os ministros do novo governo.

A Ratolândia: uma fábula exemplar

Mouseland, legendado em português
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Este vídeo e o texto transcrito em baixo já foram objecto de publicação no Alpendre da Lua, no passado 23 de Abril, mas com tradução em castelhano. Volto agora a publicá-lo, com tradução portuguesa, na esperança de esclarecer melhor aqueles portugueses que, segundo as mais recentes sondagens, se preparam para votar maioritariamente nos partidos do arco da traição. É importante que eles compreendam a diferença, ou a ausência dela, entre os gatos brancos, os gatos pretos e os gatos malhados. A fábula é de uma exemplaridade única, e cada vez mais retrata melhor a realidade política do país.
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Em Portugal, já fomos governados pelos gatos brancos, pelos gatos pretos e pelos gatos malhados. Os gatos destas duas cores até já fizeram uma coligação. Pouco a pouco foram alargando a portinha por onde se podia fugir, dizendo-nos sempre que seria para nosso bem. O que é certo é que eles já podem meter as quatro patas, para nos assaltar a bolsa.
Com esta fábula paradigmática e profundamente didáctica, Thomas (Tommy) Douglas, que exerceu cinco mandatos como primeiro-ministro do Canadá, fez uma arrasadora sátira ao sistema partidário das democracias ocidentais, e que tem a sua máxima expressão no bipartidarismo dos EUA. O poder muda de actores, mas, contudo, não muda de mãos. A sede do poder continua a residir na oligarquia financeira.
Julgo que Tommy Dougalas nem sequer tinha ideologia. Para ele a política era um meio para promover o bem-estar de toda a população. Foi por sua iniciativa que o Canadá instituiu o primeiro sistema de saúde universal e gratuito. Ele pertencia àquela estirpe de políticos que, abnegadamente, serviam o bem público sem se servirem a si próprios, o que nos tempos de hoje já é uma raridade, principalmente em Portugal.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Assim, também vou começar a fazer Yoga...

Yoga for Wine Lovers
Amabilidade da minha irmã Maria Helena e com uma dedicatória para a Renata
***
... mas prefiro utilizar um garrafão de 5 litros.

Passos Coelho não quer “tragédia grega” em Portugal


O presidente do PSD dramatizou hoje o discurso por causa da Grécia, para dizer que não quer para Portugal “a tragédia” que está a acontecer naquele país por não ter conseguido cumprir o acordo com a troika da União Europeia, BCE e FMI.
PÚBLICO
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Que Portugal já é uma tragédia grega, e que irá ter um final trágico, nada épico, já é universalmente admitido. Falta só saber se também irá ser uma comédia. Com os actores da camarilha de Passos Coelho no governo,  até poderá vir a ser um circo de feira. Palhaços e macacos não faltarão. Eu levarei os amendoins.

Conto: UM GRANDE PORTUGUÊS - Fernando Pessoa (Ficções)


UM GRANDE PORTUGUÊS

Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa.
Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.». «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos, negociantes de gado como ele, a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem.
Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O Vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho.
Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as cousas todas certas. E ditou o recibo — um recibo de bêbado, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e «estando nós a jantar» (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbado...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário, «nem eu estava tão bêbado que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça, foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade — nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.
Fernando Pessoa
1926
Ficção e Teatro. Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Europa-América, 1986

Póstroika


Amabilidade do Joaquim Monteiro (Kitó)

domingo, 29 de maio de 2011

Casualidade, causalidade - Opinião de Manuel António Pina



Casualidade, causalidade

Talvez tenha visto mal mas não me apercebi de que, como vem sendo feito na Net, algum jornal se tenha ainda interrogado sobre a sucessão de três notícias em pouco mais de dois meses que, isoladas, talvez só tivessem lugar nas páginas de Economia mas que, juntas, e com um director ou um chefe de redacção curiosos de acasos, até poderiam ter sido manchete.
A primeira, de 16 de Março, a da renúncia - dois anos antes do termo do seu mandato - de Almerindo Marques à presidência da Estradas de Portugal (para que fora nomeado em 2007 pelo então ministro Mário Lino), declarando ao DE que "no essencial, est[ava] feito o [s]eu trabalho de gestão".
A segunda, de 11 de Maio, a de uma auditoria do Tribunal de Contas à Estradas de Portugal, revelando que, com a renegociação de contratos, a dívida do Estado às concessionárias das SCUT passara de 178 milhões para 10 mil milhões de euros em rendas fixas, dos quais mais de metade (5 400 milhões) coubera ao consórcio Ascendi, liderada pela Mota-Engil e pelo Grupo Espírito Santo. Mais: que dessa renegociação resultara que o Estado receberá, este ano, 250 milhões de portagens das SCUT e pagará... 650 milhões em rendas.
E a terceira, de há poucos dias, a de que Almerindo Marques irá liderar a "Opway", construtora do Grupo Espírito Santo.
O mais certo, porém, é que tais notícias não tenham nada a ver umas com as outras, que a sua sucessão seja casual e não causal.
Manuel António Pina
2011-05-26
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Comentário: O compadrio, a promiscuidade entre o Estado e os negócios privados e a corrupção a eles associada constituem verdadeiros cancros da vida pública do país, e que o documento da troika não inventariou como uma das principais causas estruturais do descalabro a que se chegou, como muito bem afirmou Jerónimo de Sousa. Não há nenhum grande projecto, onde não apareçam fumos de corrupção, associados ao favoritismo político. Mais. A opção por alguns  desses grandes projectos obedece mais à lógica da satisfação dos interesses particulares dos intervenientes do que à nobre causa do bem público. E nenhuma economia resiste, quando os dinheiros públicos são desbaratados desta maneira escandalosa. O problema já é antigo, mas começou a ganhar uma grande dimensão com a entrada dos primeiros fundos da então CEE, tendo-se agravado na última década, com a chegada ao poder dos aventureiros políticos sem escrúpulos, cujo principal objectivo é promover o seu próprio enriquecimento pessoal, muito bem escondido nas malhas dos off shores.
Com este tipo de comportamento, que ofende a Ética e a Moral, Portugal não conseguirá sobreviver nem integrar-se no círculo dos países civilizados.

Falta uma discussão séria sobre as causas da crise...


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Inquérito às causas da crise seria "muito útil" mas sem nomear culpados
O economista-chefe do Deutsche Bank, Thomas Mayer, considera que seria “muito útil” uma investigação em Portugal às causas da crise, mas recusou um inquérito em que sejam apontados culpados.
Para Thomas Mayer, a actual situação portuguesa é o resultado de “problemas estruturais” sobretudo após a adesão de Portugal à zona euro, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu à taxa média anual de cerca de um por cento.
Recentemente, um membro do Banco Central da Islândia, Gylfi Zoega, defendeu que Portugal deve investigar quem está na origem do elevado endividamento do Estado e bancos, e porque o fez.
Também o presidente da Comissão de Inquérito à crise financeira (FCIC, na sigla inglesa) do Estados Unidos, Phil Angelides, aconselhou uma investigação semelhante em Portugal e na Europa, como forma de apurar os factos que levaram à actual crise.
Em entrevista à agência Lusa, Phil Angelides considerou que a decisão de realizar a investigação sobre as causas da crise portuguesa teria utilidade para determinar com rigor a história e as responsabilidades na crise e para estimular o debate informado.
Jornal de Negócios
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A crise tem causas, como não podia deixar ser. Umas próximas, outras remotas. E também tem culpados. Uns mais do que outros. Falta em Portugal uma discussão séria e desapaixonada sobre tudo aquilo que foi feito e correu mal. E os partidos do arco da traição (PS-PSD-CDS), porque estão comprometidos, não se atrevem fazer esse trabalho. A sociedade civil, remetida ao silêncio, não reage, excluída que está da exposição mediática das televisões, que correm atrás do osso, ignorando a carne. Os portugueses vão votar no próximo domingo sem saberem as razões concretas que conduziram o país a este abismo, com o risco acrescido de votarem maioritariamente naqueles partidos que, por muitas e variadas razões, algumas bem pouco edificantes, não souberam tomar as medidas certas no tempo certo. Vamos dar o remédio ao doente sem conhecer a doença de que padece.

sábado, 28 de maio de 2011

Agradecimento

O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento à Maria Correia, pela sua decisão de se inscrever como amiga deste blogue.

Ministério da Educação paga em duplicado à Parque Escolar



Para além das escolas, também os serviços centrais do ME estão a pagar rendas à empresa.
O Ministério da Educação está a pagar rendas à empresa pública Parque Escolar pela ocupação dos edifícios da Avenida de 24 de Julho, em Lisboa, que há três anos eram sua propriedade. A Parque Escolar é uma empresa tutelada pelo ME, que foi criada em 2007 para gerir um programa de modernização das escolas secundárias. Este ano, o ministério vai pagar-lhe também cerca de 50 milhões de euros em rendas pelas 103 escolas que já foram objecto de remodelação.
PÚBLICO
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Confesso que não consigo entender esta triangulação negocial entre o Ministério da Educação, a Estamo, uma empresa pública destinada a vender a privados edifícios do Estado, e a Parque Escolar, uma empresa também de capitais públicos, constituída para requalificar e reconstruir as escolas secundárias, mas que agora aparece também como proprietária dos edifícios do Ministério da Educação, na avenida 24 de Julho. Não entendo, sobretudo, a necessidade de o Ministério da Educação alienar património à Estamo, e esta, por sua vez, fazer a mesma operação a favor da empresa Parque Escolar, passando o Estado a pagar rendas por aqueles mesmos espaços, ao mesmo tempo que vai investindo as verbas do Orçamento de Estado e da União Europeia, estas ultimas consignadas em finais de 2008, para ajudar as economias dos estados europeus a prevenir o contágio da crise dos bancos americanos. 
No entanto, já se começa a saber que a adjudicação destas obras tem apresentado muitas irregularidades, beneficiando-se certas construtoras, certos gabinetes de arquitectura e certos fornecedores. Algumas obras são faraónicas e luxuosas e de manutenção caríssima, como se pode concluir, através dos depoimentos insertos no vídeo.
Ou eu me engano muito, ou estamos perante uma complexa e bem disfarçada operação, de contornos ainda pouco claros, e que se destina a promover no futuro a privatização das escolas intervencionadas. Já agora, privatizem também o Ministério da Educação e o próprio governo. Mas despeçam o primeiro ministro e o ministro das Finanças com justa causa.

É necessária uma mudança revolucionária!...


Conto: Lar de putas (revisitado) - por Pastor Flores


Lar de putas (revisitado)



Nas casas de putas sentia-me sempre como se estivesse em casa. O pior era sempre ter odiado estar em casa. Seria fácil dizer que me sentia nela como se estivesse numa casa de putas. Mas não era verdade. Era mais como se não sentisse nada.
Onde sentia alguma coisa de verdadeiro era na casa da Madame L., a dona do meu lar de putas favorito. Raro era o dia em que não lá ia, nem que fosse para me sentar um pouco na sala de espera, naqueles sofás de veludo dos anos oitenta, a ver telenovelas brasileiras com rameiras de todas as nacionalidades.
Claro está que eu tinha por lá uma namorada. Saía-me bem cara. Apesar de manter intacto o sentido do ridículo, apurado por muitos anos de gim puro em noites impuras, estou certo de que ela apreciava a minha companhia.
Sorria sempre que me via.
- Oi! Estás por cá hoje? Sempre vieste? E eu ia sempre. Estava sempre por lá. Quando estava mais alegre, tratava-me por amor. E eu dizia-lhe que um dia casaríamos os dois, mas ela nunca alimentava essas brincadeiras.
Não só os putanheiros têm códigos. As putas também têm. E a primeira delas é nunca casar com putanheiros. O nome dela era Cyndie. Era com ela que eu gastava os meus princípios de noite e finais de ordenado. Ia sempre com ela, assim ela não estivesse ocupada. Mas, por vezes, ela estava mesmo ocupada e eu tinha que voltar ao sofá e às novelas brasileiras, acompanhado pelas outras putas em espera e pela Madame L., com quem trocava as conversas mais familiares.
Uma certa vez, porém, a Cyndie não estava disponível por ter ido para o quarto principal com três japoneses. Três japoneses. Não sei se foi da falta do gim, mas aquilo bateu-me. Incomodou-me. Senti verdadeiros ciúmes e reconheci-me num papel meu já quase esquecido. Era tudo familiar para mim. Mas, ainda assim, consegui domesticar os sentimentos e manter-me focado.
Para me vingar, resolvi traí-la também. Fui com uma das suas melhores amigas. Como não gosto de incomodar, esperei até que acabasse a telenovela e fui com ela para o quarto dos fundos, ouvindo risos a quatro, ao passar pelo quarto principal.
Podem gozar, mas não fui capaz de fazer mais do que falar. A privação do gim sempre me deu para falar. E aparentemente também me deu para a emoção, porque dei comigo a chorar. Ela ouviu-me por respeito, pois eu não era um qualquer por ali, mas nada tinha para dizer. Não fiquei sequer meia hora e saí cá para fora.
No quarto principal não se ouvia nada, agora. Abrandei o passo ao passar por ele e apurei os ouvidos. Nada. Silêncio.O pior foi depois, quando fui pagar. Sim, eu tinha regalias especiais por jogar em casa, podia pagar no fim e não no início. No fundo era como as relações normais entre namorados.
Só que nesse dia, entretanto virado noite, esse privilégio transformou-se num problema. O cartão multibanco deu de si. Não deu dinheiro. E eu já tinha consumido o que lá tinha ido consumir, ainda que, neste caso, sem qualquer consumação.
Disfarcei, dizendo que não era por falta de dinheiro. Era por causa de tudo, menos por falta de dinheiro. Era por culpa dos bancos, da crise económica mundial, do subprime, mas não por falta de dinheiro. É que a segunda regra das putas é muito clara: não dar crédito aos putanheiros que não tenham dinheiro.
Mas a Madame L. não se impressionou. Essa é a terceira regra das putas. Nunca se impressionarem. Deu-me duas opções. Ou ia, com alguma das suas putas levantar dinheiro, ou deixava lá algum documento para servir de garantia de que voltava, depois de levantar dinheiro. É bom ter opções. O mal é quando não tens opções. Quando tens opções tens tudo. Assim tenhas dinheiro.
Procurei pois alegar, que era um cliente habitual, recorrendo a uma intimidade que ela parecia desconhecer. A frieza do discurso dela fez-me perceber que não era a primeira vez que ela o aplicava. Não era propriamente virgem neste tipo de situação. E tesos entesados é que não faltam neste mundo de gajos marados e sem lar.
- Mas eu alguma vez deixei de cá vir? - perguntei-lhe, pensando que, talvez, desta feita, não voltasse mesmo, porque não tinha já dinheiro na conta, nem crédito no cartão. Mas ela não me passou cartão nem me deu crédito, também.
Havia uma certa coerência em toda a situação, reconheço.
- É como te digo! Tens duas opções. E nem é por mim. São as regras da casa. E daqui não sais sem pagar - disse a Madame L., seca e fria como as suas próprias peles.
Era assim que me tratavam, logo ali, logo em casa? E foi então que lhe disse:
- O pior é alguém convencer-se de que está em casa e depois alguém o lembrar de que não está! Aí a Madame L. voltou a sorrir e disse-me que eu podia não estar em casa, mas que, se cumprisse as regras, seria sempre muito bem-vindo.

Pastor Flores, In Nunca Nada Ninguém

Protestos populares conta Sócrates num comício do PS em Faro

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Para José Sócrates, protestar já é antidemocrático! É um mau sinal.

Carlos Coelho no Prós e Contras - Maio 2011

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Trata-se de um discurso muito idealista, este, o de Carlos Coelho, mas não deixa de ser cáustico para com um Estado que se distancia cada vez mais do cidadão, e que vive sobre si próprio, com regras muito próprias, como se não fizesse parte do corpo social. Neste sentido, e embora legitimado por sucessivas eleições, cujas campanhas assentam na desinformação e no espectáculo circense, onde não faltam os gladiadores, poder-se-á falar de um Estado cada vez mais totalitário, que no seu afã de querer controlar tudo, acaba por não controlar nada. Mas o mais dramático, é aquela ideia difusa, que começa a tecer as dúvidas dos portugueses, de que o Estado já foi capturado pelas diferentes corporações e pelos grandes grupos económicos e financeiros, numa teia muito complexa de cumplicidades e de interesses cruzados, altamente lucrativos para os intervenientes, o que leva inexoravelmente à degradação da democracia.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Estado volta a "congelar" juros dos Certificados do Tesouro a subscrever em Junho


O Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) anunciou hoje as taxas de juro de remuneração dos Certificados do Tesouro (CT), para as subscrições a fazer em Junho, continuam "congeladas". Esta decisão, de certa forma já esperada, mantém inalterados os juros do produto de poupança do Estado pelo terceiro mês consecutivo.
Assim, tal como já aconteceu em Abril e Maio, a taxa máximo, para aplicações a 10 anos, fica nos 7,10 por cento (ilíquidos). Para o prazo de cinco anos mantém-se em 6,80 por cento e entre o primeiro e quinto ano a remuneração é de 2,10 por cento.
Os CT foram criados para acompanhar a evolução dos juros no mercado secundário da dívida pública, que têm continuado a subir, mas o IGCP alegou, em finais de Março, o "congelamento" da taxa de remuneração, alegando que o mercado estava a funcionar de forma “disfuncional.
No mercado secundário, as taxas a 10 anos estão próximas dos 10 por cento e a cinco anos estão acima dos 11 por cento.
PÚBLICO
***
O Estado não é uma pessoa de bem. Quando a situação não lhe é favorável, muda de regras a meio do jogo. Se as taxas de juro corressem em sentido inverso, ou seja, se descessem, rapidamente oa zelosos dirigentes do Instituto de Gestão do Crédito Público decretariam a correcção em baixa da retribuição daqueles instrumentos de poupança (crédito ao Estado), destinado a particulares.
Percebe-se, e o mesmo se passa com os populares certificados de aforro, que o Estado pretende defender os interesses dos bancos, estimulando a tranfarência para aquelas instituições financeiras das poupanças dos portugueses, que estavam à sua guarda. Mais um caso de nepotismo execrável deste governo, que não respeita a sua palavra, vertida na lei.
http://economia.publico.pt/Noticia/estado-volta-a-congelar-juros-dos-certificados-do-tesouro-a-subscrever-em-junho_1496314

Ainda se foi a tempo de evitar a bancarrota!...


Cheque do FMI relativo à primeira tranche do empréstimo a Portugal ainda foi assinado por Dominique Strauss-Kahn. Que sorte!
Amabilidade do João Fráguas 

AVISO SÉRIO - BURLA NO MODELO E JUMBO

A polícia ainda não conseguiu identificar as autoras deste crime e não se sabe se são sempre as mesmas

Com a indicação de publicação urgente, um meu amigo enviou-me por email esta mensagem, cujo conteúdo é de arrepiar:

Cuidado, que não vos aconteça como já me aconteceu a mim.
Aviso-vos de uma burla que estão a fazer por estes dias e na
qual está a cair bastante gente. Fazem-na nos parques de
estacionamento do Continente, do Jumbo e de outras grandes
superfícies.
O truque funciona assim: duas miúdas muito giras, entre os 20
e os 25 anos, aproximam-se do carro enquanto guardas as tuas
compras no porta-bagagens. Começam então a limpar-te o
pára-brisas com esponjas deixando sair dissimuladamente uma
mama das suas camisas muito apertadas.
Quando, no final, para lhe agradeceres, tentas dar-lhes uma
gorjeta, elas recusam e pedem em troca que as leves a algum
local perto. Se aceitas, elas entram no carro e sentam-se nos
bancos traseiros. Enquanto conduzes, começam entre elas a
fazer jogos lésbicos. Quando chegas ao local, uma delas,
fazendo-se de agradecida, entra para o banco da frente,
despe-se, beija-te, acaricia-te e pratica sexo oral contigo
enquanto a outra, sem que te dês conta, te rouba o pão e
os iogurtes que estão no porta bagagens.
Com este esquema engenhoso, já me roubaram as compras na
sexta-feira passada, no sábado, no domingo, 2 vezes na
segunda-feira, esta manhã e muito provavelmente também
amanhã à tarde, se eu tiver tempo...
Depois não digam que eu não vos avisei!!!!!!!!!!
É QUE O PERIGO REAL, ANDA MESMO À SOLTA!!!
PROTEJAM-SE!!!

Loreena McKennitt - Caravanserai

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Juncker: Grécia corre o risco de não receber próxima tranche do FMI

Jean-Claude Junker, presidente do eurogrupo - fotografia do PÚBLICO

O Fundo Monetário Internacional (FMI) pode não libertar os 12 mil milhões de euros da tranche do empréstimo à Grécia prevista para Junho, caso Atenas não dê garantias de que é capaz de se refinanciar ao longo dos próximos 12 meses, advertiu hoje o presidente do eurogrupo, Jean-Claude Juncker.
PÚBLICO
***
Chantagem! Pura chantagem! Jean-Claude Junker, juntamente com o ministro das Finanças da Alemanha, representa a ala mais ortodoxa da política financeira da UE e é um dos artífices destes tenebrosos programas de resgate, aplicados à Grécia, Irlanda e Portugal, cujos governo ajoelharam humilhantemente às exigências da Alemanha, que está a governar a Europa, sob um regime ditatorial. Angela Merkel, já aqui o afirmámos, está a conseguir com o euro e com a dívida, o que Hitler não conseguiu com os tanques.
Pelas costas dos outros vemos as nossas, e os portugueses devem olhar com muita atenção para o que está a acontecer ao povo grego. Que não haja ilusões. Em 2012, o filme grego irá repetir-se em Portugal. Nessa altura, Sócrates ou Passos Coelho irão dizer aos portugueses que vivemos nos melhores dos mundos. Mas eu ainda acredito que até lá a crise grega estoure com o euro.

Mais uma voz crítica à estratégia dos planos de resgaste aplicados a Portugal, Grécia e Irlandal


Exportações são estímulo para resgates financeiros funcionarem, diz economista da ONU
Rob Vos sublinha que o caso dos países do sul da Europa é particular porque “enfrentam imediatamente necessidades imediatas de consolidação fiscal”, mas sublinha que este processo deve ter um horizonte de “médio prazo”, para não tornar a travagem demasiado brusca.
“Esta austeridade está a enfraquecer o crescimento económico, e, se este cai, o problema da dívida aumenta e torna-se mais difícil alcançar o ajustamento orçamental a curto prazo”, disse.
PÚBLICO
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Começam a surgir vozes de peso, a criticar o modelo seguido pela UE na dura e inflexível aplicação dos planos de resgate dos países em dificuldades.
Agora foi a vez de Rob Vos, o economista-chefe da ONU, que, embora de uma forma diplomática, não deixa de considerar ser absolutamente impossível, para aqueles países, desenvolver a sua economia num quadro de recessão, que as medidas de austeridade acabam por agravar ainda mais, o que constituirá, por si só, um entrave ao crescimento. Por outro lado, o necessário aumento das exportções, que os planos ilusoriamente projectam promover, também se encontra comprometido pelas políticas fiscais restritivas dos países mais ricos da UE, que assim diminuem a procura externa. Para Rob Vos, os planos de ajuda, desenhados pela UE, com ajuda do FMI, deveriam também ter contemplado um plano estratégico coerente, que viesse a promover o rápido crescimento das exportações, o que não aconteceu. 

Economista que previu a crise mundial defende reestruturação da dívida grega


O norte-americano Nouriel Roubini diz que a estratégia da zona euro está condenada ao fracasso. Ministro das finanças alemão é contra a reestruturação da dívida da Grécia e pede mais criatividade para enfrentar a recessão.
Nouriel Roubini, um dos economistas que previu a crise financeira mundial, defendeu hoje que a estratégia da zona Euro está condenada ao fracasso e, por isso, a Grécia deve fazer uma “reestruturação ordenada” da sua dívida.
PÚBLICO
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Não há volta a dar. A reestruturação da dívida e, também, a prorrogação do prazo para a correcção dos défice orçamental e a saída do euro impõem-se cada vez mais como a única solução para resolver a crise dos países da periferia. A reanimação da economia não se pode fazer, condenando a maior parte da população à miséria. Ela só poderá operar-se através da adopção de uma moeda nacional de baixo valor em relação ao euro, para poder aumentar as exportações e diminuir as exportações. Claro que esta opção também conduzirá ao empobrecimento, tal como aquele a que conduzirá a aplicação o programa de ajuda da UE e do FMI, mas tem a grande vantagem de abrir oportunidades de crescimento mais acelerado e de distribuir os sacrifícios, que naturalmente se impõem, de uma forma mais equitativa. Só assim, e desde que se elejam governos honestos e competentes, dedicados exclusivamente ao bem público, os países em dificuldades poderão gerar riqueza para poder pagar a dívida, que deverá ser previamente reestruturada.
É necessário recordar que, no caso de Portugal, foi a adesão ao euro (além dos erros próprios dos governos) que obstaculizou a expansão das exportações e que provocou o crescimento do endividamento e dos défices orçamentais. 

Conto: A ÚLTIMA FISCALIZAÇÃO - Gonçalo M. Tavares


A ÚLTIMA FISCALIZAÇÃO
O senhor Cortázar cruzou-se com um inspector fiscal.
Estranhamente, a primeira pergunta deste não visou questões de impostos. A primeira pergunta do inspector fiscal, com um sorriso, foi, simplesmente:
– Tem horas, senhor?
O senhor Cortázar não se iludiu com a simpatia aparente e com a pergunta pacífica.
Afastara um pouco para trás o punho da camisa e preparava-se para dizer as horas quando foi interrompido por um seco, mas não antipático:
– Passe o relógio para cá.
O senhor Cortázar, sem resistir, abriu a fivela do relógio e entregou-lhe, como pensava naquele momento, as horas todas. Que fique com elas para sempre, o maldito, pensou, então, o senhor Cortázar.
O inspector fiscal sorria ao de leve enquanto guardava o relógio no bolso.
Depois, perguntou de novo, com um tom suave demais:
– Tem pressa?
O senhor Cortázar respondeu que sim, alguma.
– Dê-me os seus sapatos - murmurou o inspector fiscal.
O senhor Cortázar dobrou-se um pouco, descalçou os sapatos e entregou-os. E o inspector, sem uma palavra, guardou a nova oferta.
– Tem frio?
O senhor Cortázar pensou que o fiscal se referia aos seus pés, agora encostados directamente ao belíssimo chão do país. Mas antes de o senhor Cortázar responder, o inspector fiscal murmurou:
– O seu casaco...
Já não eram necessários verbos, tudo estava claro entre os dois. O senhor Cortázar entregou o casaco que o fiscal de novo guardou na sua mala.
O mesmo se passou com as calças, a camisa, a carteira; enfim, tudo.
Cortázar estava agora nu, sob os olhares críticos e trocistas de quem passava. Aquela era uma vergonha de que jamais se esqueceria.
– Tem arma em casa? - perguntou o inspector fiscal, subitamente.
O senhor Cortázar respondeu que não.
– Sabe manejar uma arma?
O senhor Cortázar não era capaz de mentir:
– Sim - respondeu.
– Pois então... - disse o inspector fiscal, revelando, naquele momento, pela primeira vez, uma voz profunda, melancólica, a voz mais triste que alguma vez fora dada a ouvir ao senhor Cortázar (desde que este era vivo e capaz de ouvir).
- ...Pois então - dissera o triste inspector fiscal ao obediente senhor Cortázar, enquanto lhe passava um objecto reluzente - tome esta arma carregada, senhor Cortázar, e, por favor, com um único tiro, sem falhar, vingue-se.
Gonçalo M. Tavares
In Revista Pessoa

Somos pobres porque nos falta "atitude"...



















Amabilidade da Dalia Faceira

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Oli Rehn defende que empréstimo a Portugal é necessário para “proteger as poupanças dos alemães”

Oli Rehn (fotografia do PÚBLICO)
O comissário europeu dos Assuntos Financeiros, Oli Rehn, considerou hoje (16 de Maio) o empréstimo de 78 mil milhões de euros a Portugal “também necessário para proteger a retoma económica na Alemanha e as poupanças dos alemães”.
Em entrevista ao matutino Die Welt, Rehn afirmou que “ajudando Portugal, com critérios rigorosos, mas também com condições realistas, protege-se, simultaneamente, a retoma económica na Alemanha a as poupanças dos alemães”.
PÚBLICO
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Estas declarações de Oli Rehn constituem, de certa maneira, um esclarecimento antecipado e esclarecedor às afirmações de Christian Noyer, membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu, que, de uma forma intencionalmente ambígua, como ontem aqui foi assinalado, considerava a hipótese da eventual reestruturação da dívida grega como "um filme de terror". Só que não dizia quem é que andava aterrorizado. Olo Rehn foi mais claro e objectivo. E agora percebem-se melhor as razões que levaram os dirigentes políticos dos países mais ricos da UE a quererem impor aos países da periferia um prazo de tempo absurdamente curto para normalizarem as suas contas públicas, exigência esta que contraria os princípios da racionalidade económica, como anotou criticamente Amartya Sen, prémio Nobel da Economia.
É claro que, quando  Oli Rehn se refere à poupança dos alemães, é nos bancos alemães que ele está a pensar, e que entrariam em colapso, perante a declaração de bancarrota de um qualquer um dos países em dificuldades. Seria o fim da moeda única, que apenas favorece, devido ao seu alto valor, os países ricos da Europa.
Desta forma, a prosperidade dos países mais ricos está a ser garantida com os desumanos sacrifícios, que estão a ser impostos aos gregos, portugueses e irlandeses.  Caiu a máscara da tão propalada solidariedade europeia.
Alexandre de Castro
http://economia.publico.pt/Noticia/oli-rehn-defende-que-emprestimo-a-portugal-e-necessario-para-proteger-as-poupancas-dos-alemaes_1494349

Historia geral de Africa em 8 volumes - UNESCO



Resumo: Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.

Volume I: Metodologia e Pré-História da África (PDF, 8.8 Mb) - ISBN: 978-85-7652-123-5

Volume II: África Antiga (PDF, 11.5 Mb) - ISBN: 978-85-7652-124-2

Volume III: África do século VII ao XI (PDF, 9.6 Mb) - ISBN: 978-85-7652-125-9

Volume IV: África do século XII ao XVI (PDF, 9.3 Mb) - ISBN: 978-85-7652-126-6

Volume V: África do século XVI ao XVIII (PDF, 18.2 Mb) - ISBN: 978-85-7652-127-3

Volume VI: África do século XIX à década de 1880 (PDF, 10.3 Mb) - ISBN: 978-85-7652-128-0

Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 (9.6 Mb) - ISBN: 978-85-7652-129-7

Volume VIII: África desde 1935 (9.9 Mb) - ISBN: 978-85-7652-130-3

Amabilidade do João Fráguas

terça-feira, 24 de maio de 2011

Reestruturar dívida será um “filme de terror” diz membro do BCE

Christian Noyer, do conselho de governadores do Banco Central Europeu, diz que Grécia não tem outro remédio senão seguir programa de austeridade.
Christian Noyer, membro de conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), não tem dúvidas. A Grécia não tem outra opção senão seguir o seu programa de austeridade. “Reestruturar a dívida não é a solução, é um filme de terror”, disse Noyer, citado pela Bloomberg. E se o país não conseguir atingir os termos do acordo de resgate financeiro, a dívida do governo grego será “inelegível como colateral”.
PÚBLICO
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Quando Christian Noyer afirma que a reestruturação da dívida grega seria um "filme de terror", ele omite intencionalmente os sujeitos passivos desse terror. Pela ambiguidade da frase, o leitor até será levado a pensar que seriam os gregos as vítimas principais desse terror. Porém, quem vive aterrorizado com a eventualidade de um qualquer país da periferia (Grécia, Portugal e Irlanda) poder declarar a bancarrota e sair do euro são os dirigentes da União Europeia, já que, a concretizar-se esta situação, seria a própria moeda única a dissolver-se, pelo efeito devastador que iria ser provocado nos bancos alemães e franceses, que são os principais credores da dívida grega. Seria o fim do euro, um verdadeiro gigante com pés de barro. 
Insensíveis ao sofrimento que estão a infligir ao povo grego, a fim de garantirem os interesses do capital financeiro, os dirigentes das instituições europeias, que não conseguem esconder o seu nervosismo, não têm pejo em esgotar até ao limite o seu processo chantagista. Mas não tardará muito, se, entretanto, não procederem à revisão dos critérios da resolução do caso da dívida soberana e dos défices orçamentais, que a sua teimosia se volte contra eles próprios. A História tem ensinado que há sempre aquele momento em que os povos não têm nada a perder em marcar o seu encontro com a Revolução. E, brevemente, também os portugueses vão enfrentar os mesmos problemas, que afligem actualmente os gregos, e será nesse momento que irão perceber como foram enganados pelos três partidos do arco da traição, que, em obediência às ordens da troika, lhes vão exigir que esvaziem com baldes a água do estuário do rio Tejo.

Elis Regina, Águas de Março

segunda-feira, 23 de maio de 2011

GNR promoveu 40 coronéis para travar mal-estar contra generais


A Guarda Nacional Republicana promoveu, no início deste ano, 40 novos coronéis, aumentando assim o número de oficiais desta patente para cerca de uma centena. Tratou-se de uma medida de excepção no âmbito do que o Governo decidiu para a função pública, mas que, dentro da própria instituição provocou contestação, uma vez que se mantêm em suspenso as promoções para cerca de 10 mil guardas. Estas promoções serviram, por outro lado, para tentar travar a insatisfação dos oficiais de carreira por não chegarem aos lugares máximos da hierarquia, entregues a 11 generais oriundos do Exército.
PÚBLICO
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Pelos vistos, o programa das Novas Oportunidades está a fazer carreira na GNR. Os cabos e os soldados é que não souberam aproveitá-lo.

Em campanha com a troika- Opinião de Miguel Gaspar - PÚBLICO


O poeta francês Paul Valéry escreveu um dia
que a política é a arte de impedir as pessoas de
se meterem nos assuntos que lhes dizem respeito.
A frase do autor de Ensaio de uma Conquista Metódica ilustra a perplexidade dos cidadãos que vão escolher um governo cujo programa político será o mesmo, independentemente de quem vier a ganhar as eleições.
Não admira que os eleitores se sintam tão desconfortáveis nesta campanha, como se estivessem numa festa para a qual não tinham sido convidados. Um pouco como se tivessem de pedir desculpa pelo incómodo.
O que não deixa de ser um paradoxo. Nunca como desta vez estão tantas coisas em jogo para tantas pessoas. O memorando da troika, se vier a ser aplicado, vai virar o país do avesso e mudar nossa forma de viver. Se não vier a ser aplicado, então estaremos condenados ao mesmo remédio que os gregos estão a sofrer.
Por outras palavras, os cidadãos comuns não fizeram nada para desencadear esta crise, cujo preço estão e vão continuar a pagar. E, ao mesmo tempo, não têm capacidade para influenciar as decisões que vão moldar o seu futuro.
Este sentimento de impotência reconduz-nos à citação de Valéry: nesta eleição, o essencial é impedir os eleitores de decidirem o que lhes diz respeito.
Por isso, em vésperas do início desta campanha eleitoral sem precedentes, talvez faça sentido reflectir mais sobre a forma como a crise económica está a limitar o exercício da democracia do que nas pequenas tácticas do dia-a-dia de campanha.
Não é uma novidade os mercados condicionarem a capacidade das nações em decidirem quanto ao seu futuro. Essa realidade já existia no século XIX. Mas o maior risco que corremos ao subirmos para o barco da troika é não reflectirmos sobre as causas desta fragilização do sistema político.
Em “Inside Job” – o antológico documentário sobre a crise financeira de 2008 – o realizador Charles Ferguson explica-nos como Wall Street passou a dominar o poder político na América. Mas em países como o nosso, o poder político também se tornou refém do mundo dos negócios.
E o que tem isto a ver com a crise da dívida? Apenas que ao longo dos anos a promiscuidade entre a política e os negócios e a fragilidade do sistema político perante os grupos instalados em todas as áreas da sociedade reduziu os governos a meros gestores dos seus interesses e de outros interesses.
Como os gestores loucos de Wall Street, os governos que pensam assim só podem sobreviver se assumirem que o edifício nunca se desmoronará, mesmo se as suas fundações forem virtuais.
Precisávamos de mudar a forma como fazemos a política e como os cidadãos se envolvem na política – as manifestações dos últimos dias em Espanha mostram claramente como a política deixou de conseguir falar com a rua. Mas por enquanto só temos uma campanha eleitoral - uma campanha com a troika. Façamos o possível para que ela nos diga respeito.

Teixeira dos Santos quer "aproveitar a energia do touro" que recebeu em Wall Street

Fotografia do Diário de Notícias

Ministro das Finanças agradeceu a estatueta que lhe foi entregue destacando o simbolismo da mesma.
“Obrigado por esta estatueta. É muito simbólica. É para acordar o touro e aproveitar a energia do touro”, disse Teixeira dos Santos depois de receber uma estatueta com o tradicional touro, que simboliza a subida dos mercados bolsistas.
Jornal de Negócios
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Não seria melhor, para Teixeira dos Santos, dar uma corridinha à volta da Praça de Touros do Campo Pequeno?
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=486185