Depois da revolta pacífica, a violência no Cairo
Os confrontos físicos espoletaram por volta do meio-dia locais, quando apoiantes de Hosni Mubarak romperam as linhas militares de segurança na Praça Tahrir (da Libertação), montados a cavalo e em camelos, e empunhando paus e chicotes.
Três camiões militares chegaram a ser tomados por apoiantes de Mubarak, bloqueando as entradas da praça. Apesar dos apelos à calma gritados por altifalantes, eram disparados tiros para o ar e havia pedras a voar por todo o lado, descreveram vários media internacionais presentes no local. O Exército – que mais tarde viria a abandonar a praça – não interveio nos confrontos.
Três camiões militares chegaram a ser tomados por apoiantes de Mubarak, bloqueando as entradas da praça. Apesar dos apelos à calma gritados por altifalantes, eram disparados tiros para o ar e havia pedras a voar por todo o lado, descreveram vários media internacionais presentes no local. O Exército – que mais tarde viria a abandonar a praça – não interveio nos confrontos.
PÚBLICO
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Parece que o objectivo principal dos manifestantes da praça Tahir não vai ser alcançado. Mas, com em todas as revoluções, há sempre um pré-anúncio, que normalmente sai frustrado. Como escreveu o comentarista político Alan Woods, "No momento em que todo o povo se levanta e diz «não», nenhum Estado, exército ou força policial do mundo pode detê-lo".
Ao movimento popular egípcio, genuíno e pleno de autenticidade, faltou a direcção política, fundamental para centralizar e coordenar qualquer acção revolucionária. Os egípcios entraram na grande vaga que teve o seu epicentro na Tunísia, dando razão à opinião da maior parte dos analistas não comprometidos, que previam a ocorrência de um efeito dominó, a propagar-se pelos países do Magreb e do Médio Oriente. E o Egipto e o Iémem do Sul foram os países que primeiro receberam o embate dessa gigantesca onda. Em Marrocos, na Argélia, na Jordânia e na Arábia Saudita, também estão presentes os mesmo ingredientes que serviram de rastilho à revolução tunisina: ditaduras ferozes, ausência de liberdades, níveis elevados de pobreza, regimes submetidos ao imperialismo americano, corrupção, enriquecimento escandaloso das classes dirigentes e uma taxa elevadíssima de desemprego, que afecta principalmente os jovens, principalmente os mais qualificados. Uma realidade potencialmente explosiva, que mais tarde ou mais cedo irá mudar o rumo da História naquela importante região do mundo.
Mas, além da ausência de uma cabeça política, o movimento da praça Tahir enfrentou um outro obstáculo de monta, que não se apresentou aos tunisinos: os interesses vitais dos Estados Unidos. O Egipto é uma peça central para os Estados Unidos no tabuleiro do Médio Oriente. Desde que Anwar Al Sadat reconheceu o Estado de Israel, visitando a Jesuralém ocupada pelos sionistas, e assinou o Tratado de Paz de Camp David, o Egipto tornou-se um aliado subserviente dos Estados Unidos. Não é por acaso que é o Egipto o país mais apoiado pelos Estados Unidos em material bélico, o que lhe permite ter umas forças armadas poderosas e uma força policial temível. E os generais egípcios, que têm um influência política importante, agora mais pronunciada, devido à fragilidade de Mubarak, sabem que têm de seguir as secretas instruções do governo americano, já que em Washington existem fundados receios de que um outro qualquer governo, seja ele laico ou assumidamente islâmico, venha a alterar a correlação de forças, mudando de campo e de política. Se Mubarak resistiu e não fez as malas para fugir para Londres, onde já lá colocou a família, por precaução, e onde tem a sua fortuna pessoal, é porque o o governo doa Estados Unidos assim o exigiu ao poder político egípcio, ao mesmo tempo que a CIA aconselhou a manobra para quebrar a força popular, mandando os serventuários e os agentes policiais do regime, à paisana, disfarçados de apoiantes de Mubarak, fazer uma contra-manifestação, com recurso à violência, evitando-se assim comprometer o exército. Impõe-se perguntar de onde vieram os camelos e os cavalos desses contra-manifestantes, assim como será legítimo perguntar a razão por que o exército ficou inactivo perante o confronto violento que ocorreu, com a agravante de ter deixado roubar pelos contra-manifestantes dois carros de combate.
http://publico.pt/Mundo/depois-da-revolta-pacifica-a-violencia-no-cairo_1478351?all=1
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