Conselho militar promete "transição pacífica" e respeito de acordos internacionais
O conselho supremo das Forças Armadas do Egito, no poder desde a renúncia de Hosni Mubarak na sexta-feira, prometeu garantir uma "transição pacífica" para "um governo civil eleito" e assegurou que vai respeitar os acordos internacionais assinados.
Diário de Notícias
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É de extrema importância que o conselho supremo das Forças Armadas do Egipto cumpra escrupulosamente todos os compromissos que assumiu perante o povo e que garanta um ambiente político propício ao desenvolvimento da democracia. A única maneira de evitar uma nova ditadura, pela acção de oficiais radicais, ou o fortalecimento da Irmandade Muçulmana, uma congregação religiosa, que na sua matriz original inscreveu o fundamentalismo islâmico, como ideologia e o recurso à violência terrorista, como instrumento de alcançar o poder do Estado e conduzir a guerra santa contra o ocidente, será permitir a livre constituição dos partidos políticos e a realização de eleições livres e transparentes, que exprimam a vontade maioritária do povo egípcio. Eu julgo, a avaliar pelos comentários expressos por comentadores egípcios, a residir nos países ocidentais, que a Irmandade Muçulmana não terá expressão eleitoral entre a população, principalmente entre os jovens, estes mais inclinados a quererem reproduzir no seu país o modelo turco.
Mas, por outro lado, os egípcios, que heroicamente lutaram pela liberdade na praça Tahrir, no Cairo e nas ruas de Alexandria e do Suez, não estarão dispostos a aceitar a ingerência de outros países nos seus assuntos internos e na sua política externa, tal como aconteceu durante o período em que decorreram as gigantescas manifestações. O presidente dos Estados Unidos, o primeiro ministro da Grã-Bretanha e a chanceler alemã fizeram intervenções desastrosas, não se coibindo de dizer em público o que é que os dirigentes egípcios deviam ou não deviam fazer, perante a inesperada revolta popular. Obama, ao falar vagamente, utilizando os estereótipos sobre a democracia e a liberdade, até deu a entender que só agora é que descobrira que Mubarak era um ditador, tentando iludir da opinião pública o relacionamento intrincado e cúmplice dos sucessivos governos dos Estados Unidos, primeiro com Anwar Sadat e, depois, com Hosni Mubarak. O Egipto, um país de um grande interesse estratégico para a política dos Estados Unidos no Médio Oriente, foi utilizado para jugular a construção de um estado palestiniano, tal como foi decidido em 1948, quando a ONU aprovou a constituição do Estado de Israel. Mubarak comportou-se, durante o seu longo mandato, como um verdadeiro agente da política externa dos Estados Unidos, chegando ao ponto de encerrar a fronteira entre o Sinai e a Faixa de Gaza, para encurralar os palestinianos, que ali residem, completando assim o cerco imposto por Israel, numa grosseira violação do Direito Internacional. A intransigência de Israel e dos Estados Unidos e a complacência da União Europeia, que sempre sabotaram a constituição de um estado palestiniano livre e independente, desautorizando a Autoridade da Palestina, conduziu à radicalização da luta dos palestinianos e permitiu que o Hamas, um movimento político extremista e fundamentalista, por sinal, formado e inspirado pela Irmandade Muçulmana, se apoderasse do governo da Faixa de Gaza.
Se os Estados Unidos não refrearem a sua pulsão imperialista e, no futuro, tentarem impor ao Egipto a política que melhor serve a sua estratégia, arriscam-se a criar as condições para os egípcios se virarem para o radicalismo da Irmandade Muçulmana.
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