Diário de Notícias
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Quando Valter Lemos, um obscuro professor de uma escola politécnica, que, por via partidária, e beneficiando da amizade de José Sócrates, ascende ao honroso cargo de secretário de Estado da Educação, no anterior governo, João pereira Coutinho, com um certo cinismo, diga-se, escreve sobre ele o seguinte, no Expresso:
"Nem sempre concordei com Valter Lemos. Mas é justo reconhecer o esforço do cavalheiro na luta perpétua contra o insucesso escolar. Na passada semana, o "Expresso" noticiou o caso de Luís, 15 anos, que passou para o 7.º com oito negativas e uma positiva (a Educação Física). Razão tinha o outro: quem não sabe fazer nada, estuda; quem não sabe estudar, estuda Educação Física. Mas o Secretário de Estado não se atemoriza com este cenário: diz Valter Lemos que, perante a desgraça dos nossos números internacionais, reprovar o Luís seria enxotá-lo para fora do sistema e entregá-lo a uma vida de marginalidade. Enquanto o Luís andar na escola, ele pode não saber ler, escrever, contar, falar ou pensar. Mas, pelo menos, não anda por aí a envergonhar o governo nas estatísticas internacionais. Nem a roubar. Nem a matar".
Provavelmente, nos dias de hoje, o Luís já não anda na escola, e tudo leva a crer que ainda não saiba ler, escrever, contar, falar ou pensar. Mas não tenho dúvida nenhuma que ele já anda a envergonhar as estatísticas internacionais. Só espero que não comece a roubar e a matar.
Pois é este homem, promovido neste governo a secretário de Estado do Trabalho, devido ao seu elevado mérito, demonstrado na cruzada contra o insucesso escolar (julgo que a concepção do programa Novas Oportunidades saiu da sua brilhante cabeça), que nos vem dizer agora que os níveis de desemprego não são assim tão maus como dizem, agarrando-se ao conceito da desaceleração, quando as estatísticas apontam precisamente no sentido contrário. E isto para não falar da da recessão, que ele, a pés juntos, jurava não vir a ocorrer, o que foi logo amargamente desmentido, no dia seguinte, pelo governador do Banco de Portugal.
Recorde-se que no ano anterior, Valter Lemos, comentando os números do desemprego do terceiro trimestre, veio com o mesmo argumento da desaceleração, o que começa a ser suspeito. Quando este governante de aviário chegar à conclusão que já ninguém o ouve, ainda irei aturá-lo a declarar que vale mais um bom desempregado do que um bom empregado. Há homens que são capazes de tudo para dar nas vistas.
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