Jerónimo de Sousa defendeu a introdução de novas políticas no sector agrícola, tendo afirmado que Portugal “não é um país pobre, pelas potencialidades que apresenta ao nível da agricultura, pescas, e outros”. Em Portugal “fala-se de muitos défices, mas há um défice no campo agroalimentar que põe em causa a nossa soberania alimentar. E o Alentejo é um exemplo gritante de terra disponível para trabalhar, de instrumento de combate à desertificação, ao abandono das terras e à parca produção”, concluiu.
PÚBLICO
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A urgência de rapidamente concluir as negociações para a adesão à então CEE, para apresentar como trunfo político e para evitar a antecipação da Espanha nesse processo, Mário Soares desligou o dossier agrícola, e abdicou de tentar conseguir a integração da agricultura portuguesa e do sector das pescas nos programas da Política Agrícola Comum. É certo que a agricultura portuguesa estava em profunda crise, principalmente nas regiões do minifúndio, pelos efeitos da emigração intensiva, iniciada no início da década de sessenta, pelo seu atraso tecnológico e por ausência de um qualquer plano reestruturante da propriedade fundiária. Mas isso não justificava o desinteresse dos negociadores portugueses, que deveriam ter gasto todos os cartuchos para conseguir um acordo aceitável.
Os resultados desta opção política vieram a revelar-se desastrosos. Sem emprego e sem apoios, os jovens abandonaram o mundo rural, os campos de cultivo foram abandonados, os barcos de pesca foram abatidos em troca de compensações financeiras aos proprietários e, no interior profundo, mais montanhoso, continuou a praticar-se uma agricultura de subsistência. A desertificação humana instalou-se, contribuindo para o desequilíbrio económico e social e não permitindo explorar as potencialidades existentes.
Quando surgir a próxima crise mundial de alimentos, que os economistas prevêem, irá perceber-se melhor o grande erro estratégico cometido por Mário Soares e pela sua equipa.
Os governantes da altura pensavam que ficava mais barato importar alimentos do que produzi-los. Foi uma ilusão, que irá ficar cara no futuro.
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