O líder do Partido Comunista Português (PCP) afirmou hoje que Cavaco Silva está a usar o seu lugar de Presidente da República para fazer campanha para as eleições presidenciais, uma situação de classificou de “inaceitável” no plano ético.
“A crítica de fundo a Cavaco Silva resulta dos graves compromissos que este assume com as políticas de direita e com a sua satisfação pela aprovação do Orçamento do Estado para 2011, com todas as medidas graves que recaem sobre os trabalhadores e os reformados”, disse, em declarações à Agência Lusa.
PÚBLICO
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Cavaco Silva preocupou-se em fazer do seu primeiro mandato, como Presidente da República, uma plataforma segura da sua campanha eleitoral para um segundo mandato. Todas as suas intervenções convergem no desenho camuflado de uma figura apolítica, disposta a servir os superiores interesses da Nação e que, neste momento conturbado, devido à sua experiência governativa anterior, até poderia ser muito útil na procura de soluções ajustadas.
Nunca nenhum dos seus antecessores, por pudor ou por escrúpulos, abusou tanto dos poderes presidenciais para benefício do seu próprio interesse político. É certo que Ramalho Eanes e Mário Soares, embora com mais moderação, também não resistiram a essa tentação, o que não aconteceu com Jorge Sampaio, o presidente que melhor soube exercer e compreender as funções presidenciais.
O mesmo vício também tem corrompido os primeiros mandatos dos primeiro-ministros. Sócrates passou o ano de 2009 em campanha eleitoral, o que o levou a não tomar medidas em tempo útil para combater a crise.
Cavaco Silva e Sócrates são os que mais prevaricaram a este nível. E como normalmente estas manobras eleitoralistas dão os seus frutos para os interessados - uma vez que são concebidas milimétricamente por um grupo de assessores de imagem de gama elevada - e, por outro lado, como elas podem vir a constituírem-se em maus exemplos para o futuro, eu sou de opinião que, na próxima revisão constitucional, esta entorse, que prejudica a boa governação, seja corrigida, determinando-se a impossibilidade do Presidente da República e do primeiro-ministro exercerem dois mandatos consecutivos, aumentado-se, no entanto, a sua duração.
Matava-se a peçonha e acabavam-se com os abusos.
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