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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Coisas que eu escrevi: Reencontro...


Reencontro...

A emoção carregava-me os olhos e tolhia-me os sentidos. Um turbilhão de imagens a rasgar a dureza da memória de meio século de distância. Ali estava o velho portão do Liceu de Lamego, aquele mesmo portão que precisamente há cinquenta anos franqueei pela primeira vez, de olhos esbugalhados pelo espanto e com aqueles gestos imberbes e tímidos do alvorecer da adolescência. Fiz as contas. Eram mesmo cinquenta, os anos que mediavam entre 1954 e 2004! Meio século de ausência. Meio século de memórias repassadas, algumas diluídas pela ingrata correria do tempo, a transfigurarem a própria realidade vivida, outras, a reavivarem-se numa nitidez precisa, de cores, formas e ambiências, como se esse tempo tivesse ficado imóvel até este tardio reencontro.
Ao lado, também os velhos companheiros desse tempo, que a memória reconstituiu e identificou nos seus traços fundamentais, e que ali estavam a reconciliar-se com o passado longínquo da juventude.
E agora estou aqui, neste espaço íntimo da minha escrita dorida, a celebrar os 150 anos deste Liceu – o meu Liceu - dos anos de encantamento, dos sonhos e das ilusões, das amizades que se ergueram e se firmaram no deslumbramento da juventude - mas também a recordar aqueles que, entre professores e companheiros, definitivamente já partiram.

Alexandre de Castro

Outubro de 2005
Texto incluído numa brochura dos Antigos Alunos do Liceu de Lamego

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