Dívida das empresas aos trabalhadores aumentou em 2010
Em 2008, as empresas deviam 191 milhões de euros aos trabalhadores que tinham sido afastados dos seus postos de trabalho. Dois anos depois, o valor subiu para 255 milhões de euros, refere uma nota da CGTP hoje distribuída.
A estimativa da CGTP para 2010 foi apurada por defeito, já que abrangeu apenas 15 distritos - alguns dos quais com “informação incompleta” - e sem qualquer dado dos Açores, Beja, Bragança, Portalegre e Vila Real. Mesmo assim, as dívidas afectam 22 mil trabalhadores de 970 empresas, ainda que mesmo estes dados não sejam exaustivos. Os distritos mais afectados foram o do Porto, Lisboa, Coimbra e Braga, que concentraram 84 por cento da dívida total. Por sectores, a maior parte da dívida veio da construção civil e do sector têxtil e de vestuário.
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Não há dúvida que os empresários portugueses gozam de excepcionais prerrogativas. Devem ao Estado, à Segurança Social e aos trabalhadores que despediram. E isto, sem falar da dívida rolante, em espiral, entre fornecedores e clientes, que está a propagar-se perigosamente, inquinando a confiança que deve presidir toda a relação comercial. Cada empresário, na maioria dos casos, é simultâneamente fornecedor e cliente, e se não recebe o seu dinheiro, enquanto fornecedor, acaba por não pagar, enquanto cliente, assumindo-se assim na dupla condição de credor/devedor, o que não evita a colagem do epíteto de caloteiro.
Uma escandalosa impunidade incita-os ao incumprimento das suas obrigações. Os sucessivos governos, em perfeita conivência, não aligeiraram os processos legislativos que evitasse esta multiplicação de dívidas ao Estado e aos particulares. E embora os economistas não abordem esta crucial questão, esta situação de continuado incumprimento e a percepção do sentimento de impunidade também vai provocar efeitos perversos ao nível da produtividade e da competitividade. Nenhuma economia pode desenvolver-se com a mentalidade tacanha dos empresários oportunistas.
Por outro lado, as pendências nos tribunais arrastam-se penosamente, numa indolência desesperante, durante vários anos e, normalmente, as decisões judiciais são a favor dos incumpridores, que, através dos seus advogados, conseguem explorar as lacunas e as ambiguidades das leis.
Neste quadro kafkaniano, os trabalhadores, a parte mais frágil do processo produtivo, fica a descoberto. Só lhe passam cheques carecas.
http://economia.publico.pt/Noticia/divida-das-empresas-aos-trabalhadores-aumentou-em-2010_1473088
Neste quadro kafkaniano, os trabalhadores, a parte mais frágil do processo produtivo, fica a descoberto. Só lhe passam cheques carecas.
1 comentário:
Quem me dera ser funcionário público! Pelo menos tinha o salário e o subsidio de natal na hora.
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