Em relação à construção do comboio de alta velocidade, pretende-se apontar uma contradição à presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, acusando-a de sustentar actualmente uma posição contrária à que defendia, há uns anos atrás, enquanto ministra das Finanças do governo de Durão Barroso.
O argumento da acusação não é consistente nem fundamentado, já que os contextos económicos e financeiros entre a actualidade e 2003 eram totalmente diferentes. Hoje regista-se uma grave e penosa crise, que, em Portugal, vai demorar a ultrapassar, o que não acontecia no princípio da década. E, depois da crise, seguir-se-à um período em que será imposto mais um esforço aos portugueses para recuperar o défice orçamental para os níveis exigidos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, o que vai obrigar a novos sacrifícios para a classe média e para as classes desfavorecidas (são sempre os mesmos a pagar as crises).
Mas, mesmo beneficiando o país e a UE de uma conjuntura mais favorável, Manuela Ferreira Leite foi prudente em relação às previsíveis repercussões daquele gigantesco investimento, alertando para a necessidade de controlar as contas do Estado, ao mesmo tempo que pedia à UE o aumento da sua comparticipação.
Ao nível do discurso político pré-eleitoral, é absolutamente redutor impor arbitrariamente uma divisão entre os que defendem, na actual conjuntura, a realização das grandes obras públicas e os que manifestam opinião contrária, omitindo intencionalmente que, estes últimos, apenas se opõem à sua oportunidade no momento presente. Seria pura estultícia, alguém sustentar que o novo aeroporto e o TGV não têm importância estratégica para Portugal e para a sua economia. Essas duas infra-estruturas já deviam ter sido construídas há mais tempo, se Portugal tivesse tido a sorte de ter dirigentes políticos competentes e com visão estratégica.
Não será com o argumento desta aparente contradição que apanham Manuela Ferreira Leite descalça. Para isso, os dirigentes do PS, terão de ser mais imaginativos e tentar saber qual o projecto do PSD em relação às reformas que é necessário implementar e se, para reduzir o colossal futuro défice das contas públicas, aquela dirigente tem intenções de atalhar caminho, caindo na fácil tentação de prosseguir com as privatizações para fazer rápidos encaixes financeiros, alienando ainda mais os interesses do Estado aos interesses da alta finança.
Agradeço ao meu amigo José Camelo o oportuno envio deste recorte.
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