A imprensa escrita está a morrer lentamente. Entre os jornais generalistas, resistem os de maior tiragem, e, mesmos nestes, a crise já vai começando a bater-lhes à porta. Foi o que se passou recentemente no PÚBLICO, onde um acordo arrancado à última hora evitou piores cenários, e, há uns meses atrás, no Diário de Notícias e no Jornal de Notícias, onde ocorreram despedimentos de jornalistas.
A cidade do Porto arrisca-se a perder mais um seu jornal histórico, O Primeiro de Janeiro, cuja saída para as bancas continua a ser garantida por jornalistas e trabalhadores que não recebem o seu salário. Para trás, devorados pela voragem da mudança e de outras crises passadas, sucumbiram títulos que marcaram o tempo da minha geração: Diário de Lisboa, Diário Popular, O Século, O Diário.
As explicações para esta atrofia da imprensa escrita generalista são muitas, embora, cada uma delas contribua com graus diferentes de responsabilidade. A actual crise económica é a mais recente, mas não é aquela que tem maior peso e importância. A crise da imprensa escrita generalista já vem de trás, com a insidiosa mudança de hábitos de leitura e com o desenvolvimento da frente informativa das televisões e dos jornais digitais e de outros veículos de informação, disponíveis na internet. Por cada dia que passa, um número crescente de pessoas deixa de comprar o seu jornal habitual para começar a ler as edições on line dos jornais, encontrando aí tudo o que precisa para estar minimamente informado com a actualidade no país e no mundo.
E perante esta mudança, só haveria um processo de contrariar um pouco este irreversível processo de decadência, passando as redacções dos jornais a aprofundar o jornalismo de investigação, que ainda não seduziu o espaço informativo on line, concentrados que estão, os seus meios, em apenas explorar a informação instantânea, em cima da hora. Esta opção exigiria, no entanto, mais investimento das respectivas administrações, uma vez que os custos desse eixo da actividade jornalística são muito mais elevados. As administrações preferiram ter os seus jornalistas nas redacções, à espera que as notícias caíssem na sua mesa de trabalho.
Esta inação também se acentuou com o súbito aparecimento das agências de informação, ligadas a organismos públicos e privados. O governo de José Sócrates explorou até ao tutano o trabalho dessas agências de informação, roubando a iniciativa que Santana Lopes não teve tempo de colocar de pé, e que, sem qualquer dúvida, veio provocar o empobrecimento da pluralidade de que o verdadeiro jornalismo não pode priscindir, bem como veio acentuar o afunilamento da informação. A agenda mediática passou a ser comandada por essas agências, com algumas delas a praticarem um jornalismo mercenário, talhado à medida dos interesses dos clientes que servem. As redacções passaram a ser, na sua generalidade, uma mera correia de transmisão da informação veiculada pelas agências.
Estamos a assistir ao ritual do funeral da imprensa escrita generalista, cuja morte já vinha sendo anunciada há muito tempo.
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