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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Notas do meu rodapé



São as jovens gerações que fazem as mudanças e as revoluções


A História ensina que todas as grandes revoluções, as que provocaram grandes alterações nas estruturas políticas, económicas e sociais nas sociedades, tiveram como actores principais as novas gerações. Basta lembrar, à pequena escala de Portugal, que a revolução do 25 de Abril foi protagonizada pelos jovens capitães e não pelos velhos generais. Também a mudança que se avizinha a nível mundial, condicionada pela pressão desta crise económica, que já transporta, dentro de si, os gérmenes e os condimentos do próximo processo de transformação social e do progressivo processo de transferência das lideranças mundiais, irá ser desencadeado pelas novas gerações, principalmente aquelas, cujos países as prepararam com as ferramentas do conhecimento e do empreendedorismo. Estamos da falar da China, da Coreia do Sul, da Índia e de Singapura, podendo-se aqui também incluir o Brasil, já que, nos países ocidentais, as sociedades esgotaram-se ao atingirem o cume da sua preponderância e das suas potencialidades. Será uma transformação não linear, sujeita a várias descontinuidades temporais, com avanços e recuos, mas que acabará por criar um novo sistema político que combine os avanços civilizacionais do Ocidente com os novos contributos que as suas sociedades de origem lhes imprimiram.
Muitos pensadores políticos já concluíram que esta crise não pode ser comparada com a de 1929, antes lhe descobrindo um paralelismo com a que ocorreu na década de oitenta do século XIX, que coincidiu com a mudança do ciclo político da transferência da hegemonia mundial da Inglaterra vitoriana para a nova potência em ascensão, os Estados Unidos da América. As duas guerras mundiais aceleraram esse processo de transferência da Europa para os Estados Unidos.
Os que chegaram a proclamar o fim da História, perante o deslumbramento das maravilhas do neoliberalismo, pensando que o centro do poder mundial se manteria imutável, enganaram-se redondamente. A actual crise desmentiu os alicerces das suas teorias e está a provar que os paradigmas das sociedades se renovam no processo histórico.
Ninguém pode adivinhar como é que o novo mundo vai ser, que sistemas de pensamento vão dominar os novos poderes, mas já se pode dizer com segurança que tudo vai ser diferente, frase esta que também poderia ter sido dita por um grego do século II a.c, perante a transferência do centro do mundo de Atenas, em progressiva decadência, para a Roma dos centuriões, em clara ascensão.

2 comentários:

Pedro Frias disse...

Caro Alexandre,

Como já nos tem habituado, as suas reflexões, a que neste caso denomina de notas do seu rodapé, transbordam pertinência e actualidade.

Quanto à temática que aborda neste post dizer-lhe que concordo consigo e reafirmo que as novas gerações têm, como sempre tiveram, um papel preponderante e determinante nas alterações políticas, económicas e sociais.

Permita-me apenas, enquanto jovem adulto, que partilhe, de forma muito sucinta porque muito poderia ser dito e escrito sobre isto, algo que constantemente me assola e me preocupa.

Não duvido da capacidade das novas gerações de provocarem e serem agentes de mudanças sociais profundas mas, por vezes, é confrangedor o alheamento que muitos jovens portugueses demonstram face à actualidade, face ao "estado das coisas" e face ao papel que poderiam desempenhar na transformação social.

Bem sei que os exemplos que aponta fogem do trivial das sociedades ocidentais, tal como refere, mas o que é certo é que cada vez mais me interrogo onde seria mais importante e urgente as necessárias transformações sociais.

O que é certo para mim é que, nas sociedades ocidentais, o individualismo e outros negativos "ismos" que nos incutiram desde a escola primária e em todas as esferas sociais, dificultam uma visão colectiva dos direitos e deveres como cidadão e determinarão o definhamento de conquistas de jovens gerações que estiveram na vanguarda de anteriores mudanças e revoluções.

Alexandre de Castro disse...

Caro Pedro Frias:
Agradeço-lhe o seu oportuno comentário.
O alheamento, a desmotivação e o desinteresse das novas gerações dos países ocidentais resultam do amolecimento das respectivas sociedades em que se inserem. O desenvolvimento económico dos países ocidentais, liderado pelos Estados Unidos, criou uma classe média com um elevado padrão de vida, embora a actual crise viesse a demonstrar ser, em parte, artificial. Como consequência desse desenvolvimento, assistiu-se ao aburguesamento das classes trabalhadoras, que julgaram ter conquistado definitivamente um novo estatuto social. E esse aburguesamento passou com mais intensidade para as gerações seguintes, que, cada vez mais, absorvem os valores da ideologia do sistema, O consumismo fácil, os vários facilitismos, promovidos pelas famílias e pelo Estado, criaram cidadãos indiferentes à causa pública. Com uma indiferença desta dimensão, o sistema não precisa, por enquanto, de recorrer aos governos das ditaduras. Por isso, penso que as lideranças dos movimentos de mudança vão ser assumidas pelas novas gerações dos países emergentes. O tipo de contestação, a que irá assistir-se na Europa e nos Estados Unidos, será a continuação das agressivas e erráticas manifestações de jovens a protestarem pela sua exclusão, como aconteceu na França e na Grécia. A classe média continuará paralisada, aterrada pela latente ameaça de ainda vir a perder mais do que aquilo que já perdeu, e continuando cegamente a acreditar nas ilusões que os políticos, cirurgicamente, lhe vão vendendo. Esta postura reflecte-se dramaticamente na ausência da sua mobilização cívica, política e sindical. E o Pedro, pela sua função, colhe directamente do terreno o testemunho da atrofia da participação cívica dos cidadãos.