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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Novo paradigma para combater a Fome




A mudança de paradigma na ajuda alimentar aos países pobres


A crise alimentar no início de 2008, agravada pela crise financeira e económica, a partir do final do ano, veio pôr a nu os erros estratégicos adoptados pelas instâncias internacionais na concepção e na implementação da ajuda aos países mais pobres, onde a fome endémica continua a ser um terrível flagelo, com tendência para aumentar.
O Banco Mundial, o FMI e a FAO aplicaram o grosso das ajudas internacionais no fornecimento directo de alimentos às populações mais carenciadas dos países pobres e em planos de desenvolvimento agrícola, orientados essencialmente para as exportações. Foi um desastre. No primeiro caso, devido à corrupção, os alimentos eram desviados das populações alvo, e, no segundo caso, a prática de uma agricultura extensiva, virada para a exportação, concentrou os respectivos rendimentos numa elite empresarial local, que não foi obrigada a redistribuí-los, na forma de salários justos, pelos trabalhadores que utilizava. Para complicar mais a situação, e anulando os efeitos benéficos que se pretendiam alcançar, o rendimento disponível, obtido por essas elites, eram exportados para os bancos dos países ocidentais desenvolvidos, indo, parte dele, alimentar a economia virtual da especulação bolsista.
Também as multinacionais não perderam o ensejo de aproveitar a oportunidade oferecida em obter elevadas taxas de rendibilidade, através dos subsídios concedidos pelas agências de desenvolvimento, o que lhes permitiu produzir a baixo custo produtos alimentares, cujo destino era a exportação. Até a multinacional Monsanto, com a conivência de governos corruptos, convenceu os pequenos, médios agricultores africanos a dedicarem-se ao cultivo do milho transgénico, iniciativa que veio a revelar-se desastrosa no ponto de vista económico e ambiental.
Foi necessário surgir a crise alimentar do ano passado para que as instituições internacionais percebessem que era necessário mudar de paradigma para transmitir eficácia às ajudas, isto, se não for verdadeira a acusação que foi feita por muitos especialistas de prestígio, da órbita das ONG’s, de que algumas daquelas instituições actuaram na plena consciência de que os grandes beneficiados seriam aquelas multinacionais e os fabricantes de maquinaria agrícola pesada dos países ocidentais.
A posição de Obama, na reunião do G8, em L’Aquila, na Itália, já incorpora a reflexão de uma nova política, orientada para a produção de alimentos para consumo da população local, política que permite até a produção para o auto-consumo, o que é uma vantagem.
De registar, que, naquela cimeira, em relação aos valores da ajuda alimentar aos países mais pobres, dirigentes africanos convidados denunciaram o vergonhoso incumprimento dos compromissos assumidos por alguns países desenvolvidos, incluindo a Itália, na reunião anterior do G8. A moral ainda está ausente da política.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1391234&idCanal=11

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