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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um acto censório inadmissível num regime democrático...


Quando José Sócrates, no último Congresso do PS, e numa atitude autoritária sem precedentes na democracia portuguesa, anatematizou grosseiramente o programa de informação Jornal Nacional de sexta feira da TVI, apresentado por Manuela Moura Guedes, deu um sinal claro à administração da TVI de que o programa deveria ser suspenso e de que toda a investigação sobre o caso Freeport, onde ele aparece envolvido, não deveria ser publicada. A equipa de investigação jornalística daquele programa deverá ter na sua mão material informativo, altamente explosivo, que, em virtude da aplicação do princípio do contraditório, será do conhecimento do primeiro ministro, sabendo-se agora que ele iria ser publicado na próxima sexta feira, em pleno período da campanha eleitoral e a três semanas da realização das eleições legislativas. A actual administração da TVI, já desenvencilhada da presença de José Eduardo Moniz, que não tinha a intenção de abdicar do exercício de um jornalismo livre e responsável, aguardou até ao último momento a possibilidade de domesticar a direcção de informação, o que não teria conseguido, tendo recorrendo in extremis à suspensão do programa.
É evidente que não vai ser possível demonstrar a interferência directa do governo nesta obscena e escandalosa decisão, que agride perigosamente a liberdade de informação. Mas a interferência indirecta do governo está mais que provada, e isso, além de obsceno e escandaloso, é também inadmissível, principalmente se se considerar que a atitude vem de um partido que se diz socialista e democrático.
José Sócrates pretende a todo custo abafar o caso do Freeport, que foi relançado por mérito da Serious Fraud Office, do Reino Unido, que o considerou suspeito do crime de corrupção passiva, e não pelo mérito das autoridades policiais e judiciais portuguesas, que, incompreensivelmente, mantiveram paradas as investigações desde 2005. A tentativa de intimidar os actuais magistrados, titulares do respectivo processo, um crime grave que parece que não vai ter consequências penais, tal é a impunidade reinante no país, foi o primeiro sinal de que José Sócrates iria arriscar tudo por tudo para ser considerado ilibado de qualquer culpa.
Perante este atentado à liberdade de informação, chegou a hora de clarificar definitivamente esta escabrosa situação, pois se os portugueses podem conviver com um primeiro ministro incompetente e demagogo, não podem, contudo, admitir um primeiro ministro eventualmente corrupto.

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