Tal como uma boa imagem, este gráfico vale mais do que mil palavras. Ele espelha, sem rodeios, através da frieza dos números, a verdadeira natureza das aparentemente sedutoras teorias neoliberais, que começaram a ser postas em prática por Reagan, nos Estados Unidos, por Margarette Thatcher, no Reino Unido, e, timidamente, por Cavaco Silva, em Portugal. Nos Estados Unidos, a diferença de rendimentos entre os multimilionários (0,01% da população) e o resto da população nunca tinha assistido um desnível tão desmesurado e tão escandaloso. Este reduzido grupo teve, em 2007, um rendimento médo 1080 vezes superior ao do rendimento médio de 90% da população. Agora se compreende o verdadeiro significado da desregulamentação dos mercados, da flexibilização das leis laborais, do endeusamento do mercado livre, das virtudes da livre iniciativa, das vantagens da globalização total, da demissão do Estado em relação ao controlo da economia, e das políticas de privatização dos seus sectores estratégicos.
Não deixa de ser significativo o paralelismo entre o desnível de rendimentos verificado em 2007 e o de 1927. Ambos ocorreram antes da eclosão das duas maiores crises económicas e financeiras que assolaram o mundo nos últimos cem anos, o que levanta a questão da existência de um nexo de causalidade entre os dois fenómenos considerados, o súbito super-enriquecimento de uma pequena elite financeira e, como sua consequência, o eclodir de uma crise económica profunda.
Este súbito enrequecimento de uma pequena elite (banqueiros, accionistas das grandes multinacionais e grandes especuladores) só foi possível através do desvio dos investimentos para a economia virtual, baseada na especulação bolsista, e cujo valor, nos últimos vinte anos, suplantou o valor dos investimentos na economia real, afectando o crescimento do emprego. Numa euforia sem precedentes, assistiu-se a uma corrida desenfreada, à procura do lucro fácil, com os bancos e as bolsas a assumirem o centro deste sistema predador. A euforia acabou por contagiar médios e pequenos investidores, que, esquecendo as lições do passado, investiram as suas poupanças em tudo o que era papel, e que a recente crise veio a desvalorizar dramaticamenhte. O lucro ficou para a elite que gere o sistema, que, através do complexo funcionamento do mercado bolsista, conseguiu arrecadar o valor do investimento inicial, retirado da economia real, e pôr a circular a imaterialidade dos títulos (capital improdutivo), que a especulação bolsista hipervalorizou artificialmente até ao limite da sua própria insustentabilidade, tal como aconteceu recentemente com o colapso do crédito imobiliário.
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